Educação é tudo: tudo é educação

Educação é tudo: tudo é educação

Antes de começar propriamente este artigo, faço um registro: a atual proposta de reforma do ensino, que tantos problemas está causando, foi aprovada no governo Temer e ignorada pelo governo Bolsonaro, que poderia tê-la modificado. Mas foi gestada no governo Dilma e expressa a visão festiva e irresponsável que o PT tem da Educação.

O maior problema da educação brasileira sempre foi a sua dificuldade em atender com qualidade, a toda a população e nem tanto os seus métodos. Falo isso tendo em mente inúmeros colegas e amigos, educados de modo tradicional e que são pessoas de grande valor para a sociedade. Alguns se tornaram profissionais de prestígio nacional, tendo estudado no Santana ou na Escola Normal, depois Colégio Estadual. 

É bem verdade que aos poucos o método tradicional foi sendo dilapidado, especialmente pelo hábito da contestação e chegamos a um ponto no qual era imprescindível fazer uma reforma. 

Cheios de criatividade, seus autores deixaram espaço para a inclusão de conteúdos excêntricos como, “Gírias e memes na internet”, ocupando grande parte do tempo dos estudantes com bobagens, como se o TicToc já não fosse suficiente.

Entretanto, há que reconhecer um aspecto no qual se tem  empenhado muito e onde o êxito é inegável: tornar a escola menos chata. Isto foi alcançado de um modo bastante original: eliminou-se a necessidade de estudar. 

O efeito colateral foi o aumento da evasão: ir à escola pra quê? Precipitadamente, imagina-se que a saída é focar no ensino profissionalizante, colocando a educação a serviço do trabalho e do emprego: uma visão sindicalista que nos coloca de volta aos primórdios da industrialização. Educação é formação e não treinamento. 

Hoje, a maior preocupação de grande parte dos educadores, e isso vale para todos os níveis, é fazer com que o estudante perca peso comendo doce de leite. É prometer que não será necessário qualquer esforço para que ele mude de patamar intelectual. 

Para completar a tempestade perfeita, pretendeu-se ocupar integralmente o tempo dos jovens, colocando nas costas da escola a tarefa de promover uma vida cultural significativa. 

Jovens precisam de tempo para ir ao cinema, a museus, a shows e galerias. Precisam de tempo pra se sentarem num banco de praça ou no meio fio, tempo para praticar um esporte... por esporte! Pra visitar os amigos e os avós, e ver a vida acontecer ao vivo. 

Ok. Você deve estar pensando que é loucura deixá-los soltos em cidades como as nossas, onde criminosos e imprudentes se revezam ao volante. De fato, a tarefa é imensa. Ela passa pela Educação, mas desprezar a ciência do Urbanismo como temos feito, é um erro grave, que pode se tornar irreversível. Dentre todos os conteúdos possíveis, compreender a cidade é um item que não poderia ficar fora do processo educacional. A escola está num lugar e esse lugar precisa ter certas qualidades: são valores a serem aprendidos. 

As nossas casas não vão conseguir competir com um espaço público tóxico, no qual a educação familiar não faz sentido e parece fora da realidade.

Muita gente acha que basta que as ruas estejam asfaltadas, problema que ocupa grande parte do mandato dos nossos medíocres e simplórios vereadores, eleitos... por você mesmo! Eles vão e voltam, para continuar a não fazer o que nunca fizeram.

Também há os cidadãos que acreditam na importância de se proporcionar eventos, equipamentos, iniciativas e espaços públicos que promovam interações sociais de maior qualidade do que as que ocorrem atualmente, pessoas para as quais a cidade poderia ter outras metas, outros ideais. Estão calados.

Já as nossas lideranças, como diria o sociólogo Henry Lefebvre, não vivem mais em Itaúna, ainda que continuem morando aqui.  

*Arquiteto, urbanista e professor