Uma lição inspiradora sobre museu, para Itaúna
Publiquei este artigo em 21 de maio do ano passado. A pertinência de sua ideia para esta semana que se encerra, me motiva a oxigená-lo na sua memória, meu prezado leitor.
Quais instituições ou organizações que mudam sua vida? Que realmente elevam o nível de uma comunidade? Talvez não diretamente para você. Mas para pessoas como você ou, na verdade, para pessoas não como você. Talvez seja uma escola, talvez seja uma igreja, talvez seja um time de futebol. Pense no que o Cruzeiro ou o Atlético fizeram para agruparem um universo enorme de pessoas daqui em torno de seus escudos. Mas e se falarmos sobre museus? Você acredita que museus podem mudar vidas? Mudar comunidades inteiras? Terem um verdadeiro impacto na vida de uma cidade? Talvez você não tenha experimentado um museu sob esta perspectiva. Talvez você tenha tido uma experiência entediante ou confusa ou desconfortável. Talvez você nem pense sobre ir a um museu. Mas eu acredito que museus podem ter um verdadeiro impacto na vida de uma cidade.
Lori Forgaty é diretora do Museu de Oakland, na California. Recentemente, ela apresentou uma visão riquíssima sobre como se fazer isso. O Museu de Oakland na California foi fundado em 1969. E desde seu nascimento ele se posicionou como o museu das pessoas. Ele agregou três tipos de exposição museológica: uma de história, uma de arte e uma de ciência. Todas debaixo do mesmo teto. E com este amplo espectro interdisciplinar, ele causou apelo em um amplo espectro de pessoas – com interesses variados. Ele é público, portanto ele sempre teve uma verdadeira obrigação de servir a comunidade. E ao longo dos 50 anos de sua existência, esta tem sido sua missão: servir às pessoas da comunidade. O que mudou foi quem as pessoas são. Muitas instituições e museus entendem tecnicamente que a evolução demográfica provoca mudanças de interesse do público ao longo do tempo e, portanto, eles sabem que eles precisam se ajustar e mudar em favor destas novas audiências e das novas maneiras de se engajarem com estes públicos. Mas – via de regra – estes lugares não mudam. Eles não mudam suas administrações, eles não renovam seu corpo de funcionários, eles não mudam a forma que eles recebem e se relacionam com seus visitantes. Eles definitivamente não modificam suas exibições ou suas programações. E é exatamente isso que Lori Forgaty vem fazendo no Museu de Oakland. Como um museu pode efetivamente refletir a comunidade local, com vistas a servir essa comunidade local. E isso nos projetou para a reflexão sobre a maneira com que nós pensamos sobre a missão de um museu em relação à diferença que nós gostaríamos de fazer no mundo. Segue um bom exemplo disso. Exibições de peças são essencialmente o que pensamos quando ouvimos a palavra museu. Isso é o coração e a alma de um museu. E tipicamente museus baseiam suas exibições em suas coleções de peças ou em torno da expertise de seus curadores. Em vez disso, o que Lori Forgaty tem tentado fazer no Museu de Oakland, na California, é pegar os assuntos urgentes, temas atuais mais relevantes e preocupações da comunidade local e levar estes tópicos à programação de exibição da casa.
Recentemente, o museu de Lori exibiu uma exposição debatendo a legalização da maconha – isso ocorreu enquanto deputados discutiam isso no estado. Na sequência falaram sobre o debate racial, enquanto fatos de grande impacto público deste assunto tomavam as mídias. Depois organizaram uma exposição sobre o impacto do hip-hop na comunidade, semanas antes do início de um grande evento internacional sobre o tópico acontecer. Por fim, instituíram eventos de encontro da comunidade às sextas à noite e levaram a comunidade a tomarem posse do lugar.
O museu se tornou um lugar para as pessoas se conectarem entre si, com o lugar, com sua história e finalmente com um senso de propósito pessoal que muitas vezes os próprios visitantes parecem sentir falta. Mais do que metas de visitação, o objetivo do museu passou a ser medido com o quanto as pessoas da comunidade se conectam com aquilo que o museu oferece.
Talvez o Museu Francisco Manoel Franco, em Itaúna, precise mais de uma reforma de perspectiva do que de infraestrutura. Talvez o desgaste em torno do acervo do museu itaunense fosse melhor endereçado, se focasse em exposições contextualizadas com a ignorância de um povo acerca de sua própria história, de seus próprios heróis e de sua própria formação cultural. Só haverá mobilização e motivação suficiente para dar valor a peças físicas de história, o dia em que o itaunense encaixa-la na sua realidade atual.