Uma questão social... E negligenciada
Não há surpresa. Os fatos ocorridos na quarta-feira, 20, escolhido para comemorar o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA no país, não foram mesmo surpresa alguma para mim, pois apenas demonstrou o que venho denunciando, argumentando, mostrando e insistindo em uma busca de solução pelo poder público, único responsável pela situação. As imagens que percorreram o país nos meios de comunicação, e ultrapassaram fronteiras mundo afora, apenas demonstram a situação social de um país que está preocupado com meio ambiente, aquecimento global, guerras em outros continentes, mas esquece de cuidar do seu seio, dos problemas que afloram dia a dia nas ruas e acabam por terminar como terminou. Com uma agressão a um homem com problemas psiquiátricos e dependente químico, que perambula dia a dia pelas ruas de nossa cidade pedindo R$ 1 para comprar droga e que é conhecido por Djalma, um negro magrelo de tanto usar crack e não se alimentar como deveria.
A agressão, protagonizada por outro, com certeza “louco”, em minha opinião, é o que menos pesa no episódio ocorrido esta semana, quando esse homem louco agrediu outro com chibatadas no Dia da Consciência Negra, de forma consensual e em troca de R$ 10,00, e, depois de preso, alegou que estava apenas brincando. Nesse episódio e em outras situações diárias que estamos vivenciando, o que se deve levar à reflexão é a questão social em nosso município, como pessoas em esquinas sentadas em passeios com as pernas esticadas e feridas expostas, pedindo dinheiro, é só observar próximo às lotéricas. Ou observar os dependentes químicos em toda área central, nos pontos de ônibus pedindo dinheiro e, às vezes, até ameaçando outros após respostas negativas. Tenho absoluta certeza que faz mais de uma década que venho chamando a atenção para a situação (tenho os exemplares do jornal para provar), e obtenho como resposta que há um trabalho sendo desenvolvido diariamente e que as “estratégias” sociais de acolhimento, acompanhamento e desenvolvimento social estão sendo empregadas como devem.
Penso que não estão, pois oferecer tratamento e remédios é muito importante, mas é preciso muito mais que isso... E, em meu entendimento, não há um trabalho amplo e que repare os “problemas”, e o que se fez até aqui pelos secretários que ocuparam a pasta da Ação Social foi “observar” e dar essa assistência social direcionada e viciada. Não sou profissional da área, mas, em minha opinião, não funciona. É preciso remédio, sim, e tratamento adequado, mas é também preciso combate à distribuição e venda de drogas, acolhimento diário nos logradouros centrais dos moradores de rua, encaminhamento dos “andarilhos” para suas cidades de origem e/ou capitais, para que seus destinos sejam definidos e, além disso tudo, é necessário internação para tratamento prolongado. Não é apenas oferecer acolhimento e conversar... Até aqui, nada disso foi feito... Pelo menos é minha opinião.
O episódio que envolveu o conhecido Djalma, um jovem negro, do bairro Várzea da Olaria – e que, segundo informações, teve contato com as drogas ainda muito jovem, menino, porque precisava trabalhar, e acabou, com isso, desenvolvendo problemas psiquiátricos –, não é surpreendente, é o retrato do que acontece todos os dias Brasil afora, nos rincões de todas as regiões e nos grandes centros nas vielas das favelas. São crianças tendo contato com as ruas, consequentemente, com as drogas e, depois, com a criminalidade. Então o popular Djalma, um chato, que aborrece a todos com seus pedidos por praticamente 24 horas, mas que não faz mal a ninguém, a não ser xingar por que lhe recusaram R$ 1, na última quarta-feira, dia 20, não tinha ideia de que se comemorava o Dia da Consciência Negra e muito menos não entendeu que as duas, que se tornaram três, chibatadas que trocou por R$ 10 tinham um significado de tortura, de escravidão. E uma escravidão que nunca deixou de existir, e nós sabemos muito bem disso, e virou manchete.
Confesso-me triste com a exposição de Itaúna na mídia nacional e mundial, no Dia da Consciência Negra, com as imagens espalhadas e protagonizadas por dois loucos. Um identificado e preso para prestar explicações, e o outro, o que fez as imagens, que ainda não foi apresentado pela polícia, mas que, em nossa opinião, é tão culpado quanto o outro. Quanto ao Djalma, esse, é apenas um coitado, que sofre as consequências das políticas públicas inexistentes e de uma sociedade despreparada para lidar com os problemas que acabam por envolver todos, mas que não são seus, mas, sim, dos seus representantes, ou seja, dos governantes que ela elegeu. E registro aqui: não demora, vamos amanhecer com a notícia de que o mesmo Djalma que foi notícia nas principais mídias do país e do mundo na quarta-feira, dia 20 – DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA –, será notícia novamente, mas apenas na mídia local, que vai registrar a sua morte no Alto da Laje, ou no Alto do Rosário, porque ele não tinha R$ 1 para pagar a droga que devia ao traficante. Aí fica a pergunta: de quem é a culpa? Da população que não deu dinheiro para o Djalma ou do poder público que não implantou de verdade políticas públicas contínuas e eficazes que tenham capacidade de mudar a situação a médio e longo prazo? Infelizmente, fico com a segunda opção, pois a população já faz sua parte de forma contínua, pagando ano a ano os seus impostos que deveriam ser convertidos em serviços eficientes. É o Brasil, seus estados e seus municípios. Mas, mais uma vez, posso repetir a conhecida frase do nosso saudoso Pancrácio Fidélis: “Itaúna, humana e pitoresca”.