Ponta da Caneta - À noite, todos os gatos são pardos...

Ponta  da Caneta - À noite, todos os gatos  são pardos...


Estou surpreso com as cenas que assisti esta semana, acontecidas em Brasília. Sinceramente, achei que estávamos num destes países do leste europeu, da África ou da América Latina, tipo Peru, Venezuela, Colômbia... Brasilsilsil!!! Pois é! Em pleno 2022 estão fazendo arruaça na tentativa de construir um clima para um golpe de Estado e a consecutiva implantação de uma ditadura militar. É inacreditável! 

Mas vamos lá. De fato, fiquei perplexo com as cenas de verdadeiro terrorismo acontecidas na capital federal no dia da diplomação do presidente eleito, Senhor Luiz Inácio Lula da Silva, e de seu vice, Geraldo Alkmim. Como já afirmei em outras oportunidades, nunca fui petista e, aliás, nunca tive simpatia por este partido e seus métodos de fazer política e governar, mas é preciso, antes tudo, saber respeitar as leis vigentes e principalmente a Lei Maior, a Constituição Federal, em sua plenitude. 

Todos os atos de desordem verificados desde o resultado das eleições, em alguns estados da federação e na capital federal, podem ser, no mínimo, chamados de vandalismo, pois não podem ser traduzidos como atos de um exercício democrático de direito. Os protestos pelo resultado podem e devem ser feitos por aqueles que não concordam com o fim de um ciclo e que defendem outro estilo de governança e/ou não conseguem enxergar méritos no nome que venceu a eleição através do voto direto, mas devem ser pacíficos e dentro dos preceitos democráticos. Fechar rodovias utilizando caminhões de empresas, prejudicando o transporte de doentes, medicamentos, alimentos para abastecer o mercado consumidor, atear fogo em pneus, acampar em porta de quarteis e incentivar um golpe de Estado podem ser atos considerados, no mínimo, de cunho antidemocrático e, mais que isso, vandalismo. Agora, ir além disso, tentando invadir sede da Polícia Federal, destruir viaturas oficiais e atear fogo em ônibus, em minha opinião, são atos que podem ser considerados terroristas. E se são, devem ser combatidos como tal, com os participantes, os incentivadores, os organizadores e principalmente os financiadores sendo punidos conforme determinam as leis vigentes.

Até aqui sou favorável a todos os atos ordenados pelas autoridades judiciais do país, como, por exemplo, as decisões proferidas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, que determinam a execução de medidas contra os que estão por trás dos atos que pregam uma tentativa de golpe de Estado para a implantação de uma ditadura. É simplesmente inadmissível em uma democracia que podemos considerar solidificada que atos de baderna e com foco terrorista sejam considerados normais, como querem os grupos radicais de direita. É preciso separar o joio do trigo. É verdade. Mas não se pode confundir as coisas. O argumento de que os ministros do STF é quem estão ditando as regras, de que as urnas foram “invadidas” e que os resultados da eleição foram adulterados não têm uma sustentação lógica, são posições puramente políticas e sem nenhum embasamento técnico concreto, ou seja, são argumentos que servem somente para insuflar a parcela da população que é simpatizante ao estilo de governar do candidato derrotado.    

Mais uma vez repito, não sou contra nenhum ato que questione resultados, que busque respostas, mas buscar e/ou incentivar a rebelião por meio de atos que transgridam as leis vigentes é inadmissível mesmo, e é preciso punição exemplar, inclusive, com prisão. Não importa se são empresários do transporte, se são industriais e/ou fazendeiros, ou se são intelectuais e políticos com ou sem mandatos, ou apenas cidadãos classe média-alta. Todos os envolvidos, direta ou indiretamente, têm que ser punidos e enquadrados criminalmente por atos que podem ser considerados terroristas e por descumprimento das leis. 

Como já frisei em editoriais anteriores, se os que argumentam que o vencedor das eleições não poderia ser candidato, por ter sido preso por corrupção, por membros do seu partido terem roubado empresas estatais e/ou proporcionado escândalos financeiros de proporções escandalosas, como de fato ocorreram, deveriam ter enxergado isso lá atrás, quando o Senhor Luiz Inácio Lula da Silva foi solto da prisão, quando foi inocentado das acusações... E se não concordam com o resultado das eleições, não deveriam é ter deixado o mesmo ser candidato, deveriam ter lutado juridicamente lá atrás, agora é tarde. Se ele ganhou, se o jogo eleitoral foi limpo, inclusive, com seus concorrentes aceitando a sua candidatura, que poderia ter sido contestada lá no início da campanha, ele agora tem que assumir e governar. Isso é democracia de direito. E não adianta o argumento, em minha opinião, torpe de que o Judiciário, o STF, está corrompido. Isso é uma bobagem, um argumento de perdedor, como o argumento das urnas. Uma bobagem... 

Agora é preciso olhos atentos, cobrança constante e muita sensatez para saber fazer uma oposição com solidez nos argumentos para que amanhã seja possível apontar os erros do homem que ganhou a eleição. E não discordo que é preciso mesmo um acompanhamento de perto, pois não há mais margem para erros destes que já estiveram no poder e governaram de uma forma que não convenceu a todos, e nem podia, pois a unanimidade é burra, mas o país precisa continuar crescendo, precisa relacionar com o mundo comercial e socialmente na busca de conquistas e compartilhamento nas áreas fundamentais para a sobrevivência humana, como na ciência e tecnologia, por exemplo. Concordo com os insatisfeitos, mas eles precisam saber que, “à noite, todos os gatos são pardos”. Então é preciso estar atento, e não é usando a força e muito menos transgredindo as leis que se vai ter um país melhor. O momento é o de observar, para que amanhã as possibilidades sejam favoráveis. É importante a luta, mas limpa e sem imposição de critérios sociológicos e/ou políticos. Direita ou Esquerda? O CENTRO possibilita um olhar mais amplo.   

Renilton  Gonçalves Pacheco