E o carnaval “oficial” que passou...

E o carnaval “oficial”  que passou...


Confesso que errei. Deu certo e não foi para a elite. Mas é preciso avaliar este novo modelo. Se há a constatação de que o ambiente ficou mais seguro e que a estrutura montada permite uma melhor administração do cortejo da folia, por outro, é possível perceber que os desfiles não vão se repetir no próximo ano. Pelo menos é o que ouvimos de alguns organizadores dos blocos mais importantes da cidade. Mas, por outro lado, não podemos fechar os olhos aos avanços. A verdade é que os blocos tradicionais se perderam em meio à multidão e isso deixou os foliões desses blocos inseguros, o que trouxe indignação e até revolta. Muitos, mas muitos... afirmam que nesse modelo não voltam para desfilar. O mesmo acontece com os comandantes dos blocos. E em nossa opinião, todos têm razão e devem mesmo “brigar” para que a cidade tenha dois modelos de carnaval: o popular, que deve ser mesmo “armado” no Boulevard Lago Sul, e o de desfile dos blocos, que tem que ser feito na Av. Jove Soares, no trecho em que acontecia desde 1993. 

Os organizadores, o povo lá da Cultura, que mistura movimento cultural, praticamente inexistente na cidade, com cultura popular, precisa aprender a ouvir e principalmente a olhar de forma ampla para os interesses da população, observando que não se pode colocar todos no mesmo “balaio” e exigir que esse todo saia satisfeito com as imposições. O carnaval é uma festa popular, mas engloba olhares e sentimentos diferentes, principalmente nessa terra onde gente “metida a besta” é o que mais tem. 

Ouvindo alguns organizadores de blocos, percebemos que eles não gostaram da “mistura” e muito menos das imposições. A verdade é que muitos participantes dos blocos se expuseram de forma bem clara: se for assim, no próximo ano não vamos participar. Essa foi uma manifestação quase que maciça vinda de centenas de participantes de blocos como o Allfaces e Deu no que Deu. E o motivo é muito simples, em primeiro lugar a insegurança de não estar apenas com os amigos e/ou conhecidos. Resumindo: tentaram colocar todos no mesmo “saco” e, queiram ou não, nossa sociedade “metida a besta” não aceita isso, principalmente a classe média, que acha que pode tudo... É fato. E não estamos aqui fazendo apologia à divisão de classes, mas apenas registrando uma verdade que não há como esconder. 

Assim entendemos que o povo lá da Cultura deve observar mais e de uma vez por todas parar com essa coisa de querer controlar tudo com suas alucinações, fazendo do seu jeito, sem conhecer a sociedade em que vive. Quando dizemos sociedade, não estamos separando classes, apenas olhando a comunidade num todo e suas diferenças que são visíveis e não há como mudar isso da forma como propuseram. Naturalmente todos ocupam um só lugar e podem brincar juntos com naturalidade, mas quando há imposição de lugar, horário e forma de fazer, a coisa começa a complicar. Na verdade, os organizadores e também participantes dos blocos é que querem fazer como pensam e se sentem bem... E têm a razão. 

Sabedores de que podem brincar o carnaval do seu jeito, no próximo ano pensam em fazer o desfile na Jove Soares, com ou sem a estrutura da prefeitura. E, após o desfile, quem quiser “subir” para o circuito oficial no Boulevard que vá... Mas desfilar lá, pelo menos dois blocos, garantem os organizadores, não vão. Entendemos que eles têm a razão e também achamos que de fato essa forma de desfile não funciona para os blocos. E entendemos que não há que se submeter aos caprichos do povo lá da “Cultura”. Ruas e Avenidas são públicas, os desfiles podem acontecer naturalmente sem autorização oficial e o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar são obrigados a dar cobertura nos desfiles, pois são organizações públicas prestadoras de serviço e sua função principal é oferecer segurança à população, inclusive, nos divertimentos. 

E em relação ao circuito oficial montado lá no Boulevard Lago Sul, entendemos que ficou muito bom, aliás, correspondeu às expectativas da maioria e cumpriu o seu papel dentro da proposta oficial. Mas não é o que os carnavalescos itaunenses querem e muito menos o que os participantes dos blocos gostam. E outra coisa, que deve ficar registrada, e de forma bem clara: o custo da festa oficial. O povo lá da Cultura, nesta semana, já devia ter divulgado oficialmente esse custo. A população quer saber. Ouve-se no “pé do ouvido” por aí que se pagou muito por bandas, por estrutura e por segurança. Na verdade, estão dizendo por aí que, além dos privilégios a alguns poucos, o custo desse carnaval foi exorbitante. E uma coisa ficou clara: imposição não funciona.