Conservadorismo não é Reacionarismo: o início de Progressistas e Conservadores

Por Rafael Corradi Nogueira

Conservadorismo não é Reacionarismo:  o início de Progressistas e Conservadores


Guerra de torcida organizada deveria ser diferente do debate entre ideologias políticas, pois a paixão de torcedor político não traz benefício algum para a sociedade. Veja este caso famoso. Há um engano conceitual em quem acredita que conservadorismo se define por ser um pensamento que defende a manutenção das instituições sociais tradicionais e se opõe a qualquer tipo de movimento revolucionário. Basta consultarmos mestres da Ciência Política como Adriano Gianturco, Noberto Bobbio, Noel O’Sullivan ou Julien Freund. 

Adriano Gianturco, PhD em ciência política pela Universidade de Genova e uma das maiores autoridades do país quando o assunto é ciência política, nos ensina que ideologia é simplesmente um conjunto de ideias, com possível conotação positiva ou negativa. As principais ideologias políticas ocidentais atuais são: comunismo, socialismo, fascismo, liberalismo, nacionalismo, estatismo, racismo e, em breve, ambientalismo. Elas nem sempre têm coerência interna e podem mudar. 

Vestir a camisa de uma ideologia: facilita a comunicação, ajuda os partidos a obter votos, baixa o custo da comunicação e força a coerência de correligionários. 

De forma geral, partidos e militantes políticos têm sido silenciosamente forçados a se classificarem como esquerda ou direita. Surgidos na constituinte da Revolução Francesa, os termos inicialmente identificavam, à direita do rei, o grupo da elite conservadora, intervencionista, classista, conservadora que queria preservar o status quo. Do outro lado, à esquerda, estavam os forasteiros do sistema – que defendiam meritocracia, menos impostos, mais liberdade de trabalhar, de empreender e eram a favor do livre mercado. 

Agora, caro leitor, repare que curioso: à medida que a esquerda passou a fazer parte do poder, ela mudou em favor de mais regulamentação, protecionismo e estatismo. A direita política ocidental, intrigantemente, foi quase sempre estatista. Reagan e Thatcher são a exceção, posteriormente corrigidas pelos próprios partidos deles. Olhando ainda mais de perto as incoerências ideológicas, percebemos que não há motivo lógico para que a interferência estatal, os direitos LGBT e o ambientalismo estejam associados à esquerda. O ambientalismo não quer intervenção na natureza: ele é conservador e não intervencionista. Mas tem sido associado com a esquerda progressista e intervencionista. Esse mesmo intervencionismo quer interferir na economia, no social, no que as pessoas comem, falam e bebem – mas não em questões homossexuais. Você não pode escolher a comida e os medicamentos para inserir em seu corpo, mas na hora de decidir matar um feto, “o corpo é seu” (incluindo o do feto). Estado e Igreja precisam ser separados, mas Estado e Economia não??? Há misturas de liberalismo e conservadorismo que querem liberdade econômica e controle de liberdades individuais.

O conservadorismo surgiu como resposta necessária às teorias progressistas que colocaram no colo do homem, algo que antes dependia de uma crença religiosa transcendental – nos ensina Noberto Bobbio. A partir do iluminismo, da Revolução Francesa, do século XVIII, surgiu a semente progressista-racionalista afirmando a possibilidade de o homem por si só, ser capaz de melhorar o próprio conhecimento, seu domínio sobre a natureza e assim chegar de maneira independente à autocomprensão e à felicidade plena. Segundo o jurista italiano, Tiziano Bonazzi – estudioso do conservadorismo: não foi simplesmente uma ruptura entre o lado conservador e o lado progressista. Havia um outro lado, o que surgiu primeiro: a ordem antiga, em que o poder político tinha raízes transcendentes e divinas. Os defensores desta ordem antiga eram os reacionários. Eles queriam a volta de uma visão estática da natureza, detida na história, em um desenrolar cíclico, de altos e baixos inevitáveis. Por outro lado, os conservadores e os progressistas afastaram-se disso juntos, seguindo rumos diferentes. Puxados pela “mundanização da vida” (que antes só era explicada pela vontade divina), os progressistas embarcaram nas profundas mudanças iluministas sociais, econômicas e culturais ocorridas na Europa pós-revolução francesa. E a semente do pensamento conservador também, mas esse conservadorismo só se expressou (e se autodenominou) de maneira diferente do progressismo para fazer ressalvas ao que os progressistas proclamam. (O que ocorre até os dias de hoje, diga-se de passagem!). Foi por meio da boca de Edmundo Burke que isso ocorreu. Ainda segundo o professor Tiziano Bonazzi: o pai do conservadorismo, Burke, representa as posições daqueles que sendo intérpretes e protagonistas das profundas mudanças sociais, econômicas e culturais ocorridas, haviam dado início à mundanização da vida, sem, contudo, se afastar do ideal de um universo moral estável e ligado a um sistema de valores transcendentes. 

Conservador é alguém que depende da posição do progressista para se posicionar. Por isso mesmo, a carga emotiva desse conceito é herança da polaridade histórica entre conservadores e progressistas. O conservadorismo é um caminho alternativo ao progressismo, mas não é uma posição reacionária a mudanças, com a intenção de não sair do lugar. Tanto os progressistas quanto os conservadores estão em movimento para frente.