PRAÇA DA MATRIZ - 1929

Um dos trabalhos mais antigos atribuídos a Júlio R. Steinmetz — técnico em jardins e paisagista alemão em Minas Gerais — foi o projeto do jardim público da Praça João Pessoa, hoje Praça Dr. Augusto Gonçalves, em Itaúna, inaugurado parcialmente em outubro de 1929, durante o governo do coronel Arthur Vilaça.
O historiador João Dornas Filho (1936) registra que Steinmetz, identificado como “construtor e técnico alemão”, foi o responsável pelo traçado do jardim. O projeto, contudo, não foi concluído em sua totalidade à época: apenas uma parte da concepção original foi inaugurada, revelando tanto as limitações financeiras quanto a ambição estética da obra.
Dornas ainda destaca um aspecto importante: os fundos para a construção foram obtidos por meio de uma quermesse, que, em uma única noite, rendeu cerca de quinze contos de réis — valor significativo para a época. O episódio mostra como a sociedade itaunense se engajou na criação de um espaço público de lazer e convivência, articulando a contribuição comunitária ao projeto técnico de Steinmetz.
Esse jardim, ainda que posteriormente alterado por reformas urbanas, foi um marco na modernização da paisagem urbana de Itaúna e constitui a entrada de Steinmetz na história do paisagismo mineiro.
A história urbana de várias cidades mineiras da primeira metade do século XX está diretamente ligada ao trabalho do paisagista alemão Júlio R. Steinmetz, que se autodenominava “técnico em jardins” e circulava entre Belo Horizonte e o interior de Minas, oferecendo serviços de ajardinamento moderno, arborização e remodelamento de praças públicas.
Seu nome aparece tanto em registros documentais quanto em propagandas de jornal, revelando não apenas sua atividade profissional, mas também a forma como se apresentava em um campo que ainda não tinha regulamentação consolidada no Brasil: o paisagismo.
Sua contribuição foi, portanto, duplamente significativa: embelezou as cidades com espaços de lazer planejados e introduziu conceitos de desenho urbano que marcaram a fisionomia de Minas nas décadas de 1920 a 1940.
De nacionalidade alemã, Steinmetz radicou-se em Minas Gerais, onde construiu toda a sua carreira. No entanto, em 2 de fevereiro de 1956, faleceu às primeiras horas da madrugada seguinte. Apesar da intervenção médica e de uma operação de emergência, não resistiu.
A repercussão foi grande: jornais de Belo Horizonte e até do Rio de Janeiro noticiaram o episódio, o que demonstra a notoriedade que alcançara como profissional. Steinmetz tinha apenas 54 anos. Foi sepultado no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, na sepultura nº 263 da quadra 35.
Embora sua morte precoce tenha interrompido uma carreira promissora, o legado de Steinmetz permanece vivo nos espaços que ajudou a desenhar. Mais do que um simples executor de jardins, o paisagista alemão foi um mediador entre tradição europeia e modernidade brasileira, traduzindo, em praças mineiras, os ideais de beleza, ordem e progresso, que marcaram a urbanização do início do século XX.
No município de Itaúna, a Praça passou, ao longo dos anos, por diversas denominações: Largo da Matriz, Praça João Pessoa, Praça Mário Matos, Praça Benedito Valadares e, atualmente, Praça Dr. Augusto Gonçalves. Cada nome guarda em si um fragmento da memória coletiva, refletindo os diferentes contextos políticos, sociais e culturais que marcaram a trajetória da cidade.
Assim como já acontece em outras cidades mineiras, onde praças projetadas ou remodeladas por Steinmetz foram reconhecidas e protegidas como patrimônio histórico, a Praça da Matriz de Itaúna também merece ter seu valor oficialmente consagrado por meio do tombamento. Esse gesto garantiria não apenas a preservação material do espaço, mas também a salvaguarda de sua dimensão simbólica, assegurando que sua história e identidade coletiva permaneçam vivas para as futuras gerações.
Parabéns, Praça da Matriz, pelos seus 96 anos de memória e história!