Faltou sensibilidade... e conhecimento

Faltou sensibilidade...  e conhecimento

Na semana passada, falei aqui na FOLHA sobre a necessidade de conhecimento do ofício para o exercício do jornalismo e sobre os riscos de se atuar no assessoramento de órgãos públicos como se estivesse em buscas de likes, de audiência nas redes sociais, apenas. Citei ainda que essa busca pelos likes, pela audiência, leva muitos políticos a contratar especialistas em redes sociais em detrimento de assessorias com o conhecimento necessário em comunicação pública, para que seja dada vazão à publicidade de atos e ações dos órgãos públicos. É o que ocorre, parece, com a Câmara de Itaúna, que, na busca pela audiência nas redes sociais, se esquece de divulgar os atos do Legislativo, gerando uma confusão que acabou com um pedido de CPI. A Comissão Parlamentar de Inquérito foi soliciatada para apurar as ações do chefe da comunicação naquela Casa, que estaria atuando, conforme denúncias, muito mais em uma página do Instagram do que na divulgação oficial do Legislativo. É o que ocorre quando os likes vêm à frente da necessidade de comunicação que todo órgão público deveria priorizar.

E assim, o “dar publicidade” muitas vezes é confundido com o “fazer propaganda” de administrações, levando os titulares dos cargos públicos a responder na Justiça pela propaganda feita em lugar da publicidade necessária, que seria dar transparência aos atos e ações do poder público. Um exemplo mais distante disto é o que ocorreu, em fevereiro deste ano, quando a Prefeitura de Jaguaruana, no Ceará, foi notificada a retirar, em cinco dias, todo o conteúdo que exaltava o prefeito nas redes sociais institucionais. A recomendação do Ministério Público deixou claro: a comunicação pública deve ser educativa, informativa ou de orientação social, conforme determina a Constituição Federal. Casos semelhantes foram registrados em Pernambuco e Alagoas. 

Para o professor e consultor de marketing político Marcelo Vitorino, referência nacional em comunicação governamental, o cenário atual é consequência direta da falta de conhecimento e capacitação dos gestores e de alguns profissionais que atuam na comunicação das prefeituras e câmaras. “A comunicação (pública) deve ser tratada como uma política pública, de forma séria e profissional, não como peça decorativa nem como arma eleitoral. Quando não há profissionalização e planejamento estratégico da comunicação, a população fica sem informação de qualidade e o gestor pode se tornar alvo de desgaste de imagem e processos legais”, destacou Vitorino.

Infelizmente, a falta de conhecimento técnico apresentou mais um exemplo em Itaúna. Nesta semana, em peça publicitária (ou propagandística?) da Prefeitura, parece que buscando audiência nas redes sociais, foi postado vídeo que faz alusão ao homem que entrou em uma jaula de leoa, em João Pessoa, e foi morto pelo animal. O caso daquele homem ganhou repercussão nacional e, consequentemente, atraiu audiência para quem abordou o assunto. Só que, em Itaúna, a publicidade usou o caso, comparando-o às mortes causadas pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Parece que os autores da propaganda local não leram sobre a tragédia de João Pessoa. O rapaz que entrou na jaula da leoa sofria de transtornos mentais e seu caso pode ser comparado a um suicídio. Pegou muito mal o uso desse caso para se fazer uma propaganda de combate ao mosquito da dengue, aliás, como apontaram vários comentários após a postagem do citado vídeo de propaganda. Isso fez com que, imediatamente, a propaganda fosse apagada. Porém o conceito de profissionalismo para o setor de comunicação exige um pedido de desculpas, não apenas deletar a propaganda, que foi postada e visualizada por parcela da comunidade. Faltou conhecimento e, com certeza, sensibilidade na produção desta “propaganda”. Lamentável. E o pedido de desculpas não veio...

* Jornalista profissional, especialista em 

comunicação pública e membro da Academia 

Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.