Os 500

A princípio, não tem como saber do que se trata o livro. 500 é muito aleatório pode se referir a qualquer coisa, no entanto, à medida que se avança no enredo, para nós, fica claro do que se trata.
Mike Ford é uma pessoa como outra qualquer, jovem, inteligente, propenso ao crime, mas com pretensão de mudar de vida, escolha esta que fez há cinco anos.
Está cursando direito em Harvard há três anos e se inscreveu no curso de Política e Estratégia, porque a faculdade, todos os anos, traz os tubarões de Washington e de Nova York para conduzir um seminário. Além da experiência era também uma grande oportunidade para os alunos aspirantes a trabalho remunerado.
No caso de Mike, em que o passar na seleção não era o maior de seus problemas, e sim custear os estudos na faculdade de Direito na renomada Harvard, pois isso lhe custara um endividamento muito acima de sua capacidade de pagar o investimento.
Apresentara-se a rigor, “paletó, camisa social e calça social”, muito embora a indumentária não pudesse se comparar com as dos demais, era suficiente para estar onde estava e venhamos, não é isso que importa?
Tivemos sorte o professor era Davies, um figurão da política em Washington D.C. Ele discorria sobre a primeira guerra mundial, arrancando respostas dos alunos, numa sabatina sem igual e com desenvoltura.
Então, ao mencionar “Gravilo Princip” e descrever o tiro desferido à queima-roupa contra o arquiduque, com sua pequena pistola Browning 1910, e um segundo disparo ter alvejado a primeira dama na barriga, enquanto ela se atirava sobre o corpo do marido evitando, que o mesmo viesse a ser outra vez atingido por uma segunda tentativa, encerrou afirmando que assim deu-se início à primeira grande guerra.
Sem pestanejar, perguntou: “Por quê?”.
Antes que alguém se precipitasse, redarguiu: “Não regurgitem o que leram. Pensem”.
Isso foi o suficiente para fritar os miolos de alguns. Dava para sentir a tensão no lugar, muitos que ali estavam eram admiradores e tinham a pretensão de fazer parte do grupo Davies. Pois bem aí estava a chance de impressionar o próprio dono da mais famosa firma de consultoria de estratégia de alto padrão da Capital Federal.
O homem era uma lenda, trabalhara com Lyndon Johnson, fora consultor de Nixon, lidava com o poder há bem quarenta anos, conhecia todo mundo que importava conhecer nos corredores do governo.
Por outro lado, eu não fui tão cauteloso como devia na noite anterior à aula, porque, ao invés de me debruçar sobre os livros e me preparar para o encontro com Davies no dia seguinte, resolvi que não poderia deixar passar a chance de ficar e saborear a Kendra, assim é que fui parar na cama dela.
Lamentavelmente, estava exaurido de minhas energias logo de manhã e tinha ainda que passar em casa o que também não foi bom para o meu moral, porque o Greenshaw resolveu cobrar a dívida, lançando na calçada meus pertences sem se falar que revirou tudo, deixando por fim sobre a mesa um singelo recado: “Mobília e equipamentos levados como parte do pagamento. Valor restante da dívida: US$ 83.359”.
Se nada podia melhorar, certamente, tudo podia piorar. Não consegui entrar no campus da universidade, porque, ao passar o cartão, uma luz vermelha acendeu e eu me esparramei no chão quando a catraca travou.
Senti que o mundo desabara no momento em que aquela criatura angelical na recepção me disse que eu deveria passar na tesouraria para acertar a mensalidade atrasada, mas resolvi que o melhor mesmo era tentar a sorte pelos fundos, o que deu muito certo. Um aluno saiu para fumar e aproveitei o vácuo e entrei antes da porta automática se fechar. Cheguei um pouco atrasado e fui logo sentando na primeira cadeira vaga. Foi quando percebi que Davies não tirava os olhos de cima de mim. Sonolento pela aventura da noite anterior, bocejei visivelmente. Foi aí que ele perguntou: “Se sentindo entediado Senhor Ford?”.
Disse que não e pedi desculpas. Ele então me desafiou.
- “Que tal compartilhar suas ideias a respeito do assassinato?”
O que podia ser pior agora? Greenshaw não largava do meu pé, teria mesmo que pagar a dívida, nada me ocorria, mas respondi: “Vingança”.
Este livro de 305 páginas é intenso, envolvente, além de frenético. Deixará você com uma pulga atrás da orelha, porque não é só aqui que a política é suja. Lá entre os norte-americanos, também é lamacenta. Divirta-se com esse trillher.





