Revendo os arquivos. O Itaunense do Século? Boa iniciativa, mas...
Na quarta-feira, dia 29, véspera de feriado, no momento que estávamos fechando esta edição da semana, entrei no arquivo das Pontas das Canetas, ou editoriais da FOLHA, como queiram, que já estão selecionados para uma coletânea em forma de livro a ser lançado por este jornalista em futuro próximo.
E, ao deparar com o editorial publicado em 05 de outubro de 2021, com o título “O Itaunense do Século? Boa iniciativa, mas...”, fiz a releitura e lembrei os motivos que me levaram a escrever sobre o tema, e, depois de uma risada, até certo ponto irônica, comecei a imaginar como seria daqui a 79 anos, quando o Município completará 200 anos de emancipação político-administrativa e então escolheriam o próximo “Itaunense do Século”.
Em 2001, ao que parece, a iniciativa de opinar sobre escolher o “Itaunense do século” foi de um órgão de imprensa local, e escrevemos na época que era muito boa a iniciativa, pois, afinal, iríamos entrar no ano em que se comemorava o Centenário da Emancipação Político-Administrativa de Itaúna e que de fato tínhamos muitos itaunenses que mereciam ser lembrados pelo que fizeram pelo crescimento de nossa cidade no decorrer do século. Mas que ficava a pergunta: como escolher este itaunense do século? Que as opções eram muitas, mas que as vontades verdadeiras, as benesses ao povo e o trabalho para com a comunidade partiram de pouquíssimos itaunenses legítimos.
Frisamos que a cidade, desde o início do século passado, quando se emancipou, contou com homens que, ao pensarem em si e em sua família, também pensaram na comunidade em que os seus iriam viver. Outros, muito poucos, pensaram mais na comunidade do que em sua família e deixaram um legado que, por anos a fio, outros não conseguirão apagar. Os maiores exemplos de itaunenses do século seriam (e continua sendo), sem dúvida alguma, Manoel Gonçalves de Souza Moreira e sua esposa, Dona Cota. Porque, se Itaúna tem hoje um hospital, é porque Manoel Gonçalves de Souza Moreira pensou no povo antes de pensar em sua família. Se tem um orfanato, é porque Dona Cota seguiu o caminho do marido e pensou no futuro das crianças carentes. Então ficava difícil achar outro itaunense que tenha deixado seu legado para o povo, e que tínhamos e temos, sim, pessoas ilustres e que trabalharam e trabalham para a melhoria da cidade e que amam a terra e são incansáveis ao buscar na causa pública o desenvolvimento da comunidade e o bem-estar social de seu povo. Mas que também tinha e tem os que só pensavam e pensam neles e sempre buscaram o seu bem-estar usando o povo para alcançar seus objetivos.
Afirmamos à época que, infelizmente, não faltavam pessoas na lista dos possíveis “itaunenses do século” que só fizeram sugar a comunidade e o que ela tem de melhor para galgar degraus visando somente a glória pessoal. E que falar de itaunense do século era falar de Manoel Gonçalves de Souza Moreira e de mais alguns “gatos pingados”, que não chegavam a encher a mão. E que era possível é que muitos nomes surgissem nas mais diferentes áreas e que era possível também que a população não estivesse devidamente preparada para escolher o nome do século, e por um motivo muito simples, nossa história nunca foi bem contada. E afirmamos e reafirmamos: Que nos desculpem os historiadores que até agora se manifestaram, que achávamos que já tinha passado da hora de uma história detalhada ter vindo à tona para mostrar, inclusive, os desentendimentos familiares e também o lado obscuro das administrações públicas, assim como da comunidade, e também os nomes dos homens que pensaram de fato na cidade no decorrer do século passado.
E continuamos então a questionar, por exemplo, se iriam ensinar nas escolas – ao apresentar a lista com os nomes que disputariam o lugar de Itaunense do Século – que, no decorrer daquele século, muitos praticamente dilapidaram grande parte do patrimônio da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira. E que se nas explicações iriam incluir os nomes de membros dos familiares ilustres do “Manoelzinho” que ajudaram a deixar o Hospital mais pobre, como também os patriarcas de outras famílias consideradas honestíssimas, mas que “surrupiaram” e muito no e do lugar... Perguntamos também se iriam contar para os mais jovens as proezas de alguns membros da família Gonçalves na direção de empresas importantes. E que, se isso ocorresse, se a narração seria fiel às proezas de alguns itaunenses “ilustres” nos cargos públicos que ocuparam no decorrer do século no Estado e em Brasília, por exemplo.
Fechamos os questionamentos argumentando que tínhamos receio da lista, e mais receio ainda do resultado dela, porque poderíamos ver um Itaunense do Século que nem itaunense seria, isso pela maneira com que as “coisas” e as iniciativas em Itaúna eram conduzidas. E que tínhamos receio de que na lista apresentada à população omitisse os nomes dos verdadeiros benfeitores itaunenses.
E hoje, olhando pra frente, imaginando, pois não estaremos aqui para testemunhar, continuamos achando que, até então, os nomes dos itaunenses ilustres, benfeitores e verdadeiramente mecenas continuam sendo poucos. Entendemos que lá nas comemorações dos 200 anos de emancipação político-administrativa vão ter que optar por eleger ou apenas escolher os mesmos do século passado, entre um ou dois, pois, até então, passados 23 anos das comemorações do centenário, não apareceu mais nenhum. Na nossa opinião. Mas quem sabe, com a inteligência artificial, as coisas mudam? Ou será que pode é piorar?
Por: Renilton Gonçalves Pacheco