Eu, a APAC, o jornalismo e suas “arapucas”...

Eu, a APAC,  o jornalismo e  suas “arapucas”...

Me lembro bem quando acompanhei o prefeito Hidelbrando Canabrava Rodrigues, o nosso saudoso Bandinho, ao bairro Parque Jardim Santanense, para ver o início da abertura das fundações para a feitura dos alicerces da APAC masculina, na Av. João Moreira de Carvalho, se não me falha a memória, isso foi em 1994 ou 1995. Quatro ou cinco anos depois, voltei à APAC, desta vez, para cumprir pena por causa de um processo movido por vários médicos itaunenses, encabeçados pelo senhor Neider Moreira de Faria, isso porque eu os denominava “máfia de branco” em meus editoriais, aqui mesmo neste espaço - na Ponta da Caneta. Cumpri pena de restrição de fim de semana, aos domingos, de 8 às 16 horas. Lá não podia fazer nada, então, para passar o tempo, eu levava os jornais e a revista que eu gostava de ler, o Globo, jornal que leio até hoje diariamente, jornal Folha de São Paulo e a Revista Veja. Levava também um walkman para ouvir músicas... Esses apetrechos eram necessários, pois não havia ainda, na época, os nossos celulares ultramodernos que têm tudo. Mesmo levando tudo isso para ocupar o tempo, inquieto como todo jornalista, sentia falta de fazer algo, além de absorver informação. Perguntei se poderia andar pelo local, autorizaram. Observei a horta, a cozinha, os jardins, o prédio, o funcionamento... Na edição seguinte do jornal, iniciei a coluna denominada “a APAC vista por dentro”. 

Mas vamos ao que interessa no presente. Para isso, precisava fazer a introdução acima, pois, mais uma vez, acho que o jornalismo nos leva à determinadas “arapucas” que, em minha opinião, são injustificáveis. Mas Justiça é Justiça e discussão jurídica só cabe no processo, não adianta tentar “espernear” após a decisão ou falha do advogado. Então, mais uma vez, caí numa das “arapucas” que o jornalismo arma, mas há controvérsias... Pois bem, lá no final da década de 90, início dos anos 2000, quando a “máfia de branco” entrou com o processo contra este articulista, eu criticava o relacionamento médico-Hospital Manoel Gonçalves, que eu achava doentio. E quem levava vantagens, em minha percepção e conceito, eram somente os médicos. Sempre achei que era direito meu criticar, perguntar e principalmente questionar. É como sempre cito: como cidadão e como profissional. Fui acionado judicialmente, minha advogada à época perdeu um prazo de recurso e fui condenado a cumprir pena na APAC. Acho que não errei ao escrever tudo que escrevi e acho que reverteria a decisão judicial no TJ, mas isso é passado. 

Desta vez, mais uma vez, fui condenado por um ato jornalístico em local público. E o pior, porque, mais uma vez, a minha advogada achou por bem não recorrer da decisão. Poderia até não adiantar, mas o correto seria recorrer. Mas, pior que isso, é o motivo da condenação, pois, em meu entendimento, estava apenas cobrindo um episódio jornalístico corriqueiro que envolveu o Corpo de Bombeiros, uma Corporação eficiente, importantíssima, mas que, como em todo lugar, tem “fruta podre”. 

Já contei aqui o que ocorreu, mas, para ficar bem claro, vou repetir, frisando que o episódio que determinou essa minha condenação iniciou-se com um verdadeiro “show pirotécnico” do caminhão do Corpo de Bombeiros na Avenida Jove Soares, num domingo à tarde, no dia 02 de novembro de 2021. Vamos aos fatos: Acabara de almoçar em um restaurante da “Prainha”, quando, no sinal do cruzamento com a Rua Gioconda Corradi, surge o caminhão dos Bombeiros, que já vinha com a estrondosa sirene ligada, provavelmente desde o quartel, e literalmente interditou a pista direita da avenida, no sentido Silva Jardim, o “espetáculo, quase pirotécnico”, com as luzes vermelhas da sirene, o barulho e os soldados de prontidão, que “pularam do caminhão” e adentraram em um restaurante que já não existe mais no lugar, por causa de uma ameaça de incêndio na cozinha, foi mais que espetacular... 

Acontece que vários motoristas, parados no farol com seus veículos, inclusive eu, questionávamos os motivos de tanta pirotecnia. Foi quando percebi que o incêndio, ou início de fogo, já havia sido debelado na própria cozinha, pois, de dentro do carro, vi o proprietário do imóvel saindo com seu veículo do local, inclusive, subindo no canteiro central para mudar de pista, uma vez que o caminhão da Corporação interditou desnecessariamente o tráfego. Desci do carro, com celular em punho para fotografar e adentrei o bar, questionando os bombeiros os motivos para tanto estardalhaço. Foi o suficiente para receber, aos gritos, inclusive, voz de prisão de um soldado e, aos gritos, ter que ouvir: “Para aí, você está preso” etc. Passado o ocorrido, publiquei a notícia na edição do dia 06 de novembro de 2021, e fiz um editorial na mesma edição, parecido com esse, e não me surpreendi quando fui citado para fazer defesa em um processo por desacato no Juizado Especial. Falei a verdade dos fatos. Tenho a consciência tranquila. Isso basta. O soldado levou testemunha, ou seja, dois dos seus companheiros que estavam com ele, um dos que trabalham no bar não compareceu. Fui condenado. E é indiscutível, tenho que cumprir a pena. Decisão jurídica se discute nos autos e não nas páginas de jornais ou na frente de câmeras de TV. Posso manifestar indignação, nada mais que isso. 

E dos três episódios que me levaram até a APAC, no primeiro, como assessor de imprensa, acompanhando o prefeito Hidelbrando, nos meados da década de 90, a sensação foi de que Itaúna ganharia uma entidade que humanizaria o cumprimento das penas impostas aos culpados, e isso de fato ocorreu. A APAC é uma das entidades que mais merecem loas em todas as situações. No segundo episódio, que envolveu a minha condenação por causa da “máfia de branco”, ainda tenho certa indignação, pois, naquela época, os médicos faziam uso do Hospital como se a instituição deixada aos itaunenses fosse deles. A cidade toda se indignava, mas somente eu tive a coragem de falar. Paguei por isso, mas fiz o que tinha de fazer. Eu não concordava com a postura e a denominei uma “máfia”, assim entendia à época. Hoje, as coisas mudaram muito, eles prestam seus serviços. É, as coisas mudaram muito. Quanto ao cumprimento da pena, não tenho nenhum rancor, pois conheci o método por dentro, e, como jornalista, com liberdade, pude expressar isso no jornal, com o apoio do juiz que me condenou, o meu amigo Dr. Paulo Antônio de Carvalho, respeitado profissional e uma figura humana fantástica. 

Nesse terceiro episódio, já sei que não vou estar dentro da APAC, apenas vou ter restrição externa, ainda não sei bem como é isso, mas vou saber na segunda-feira, 8. Seja como for, mais uma vez, repito: Decisão judicial cumpre-se, nada mais que isso. Quanto aos fatos que levaram ao processo e seu desfecho, só tenho uma frase de Che Guevara: “A farda modela o corpo e atrofia a mente”. Essa mesma frase, recentemente, foi repetida a mim por um policial militar, que, certamente, tem mais um pouco de QI. Ponto.