Quase um número de ilusionismo, mas em política tudo é possível!

Quase um número de ilusionismo,  mas em política tudo é possível!


Ninguém ganhou a “queda de braço” no episódio do subsídio para a empresa Via Sul, concessionária do transporte coletivo urbano e rural em Itaúna. Mas alguém perdeu, e esse alguém foi o povo, o usuário. Se os vereadores que firmaram compromisso com o prefeito tivessem mantido a palavra, eu diria que todos ganhariam, incluindo aí a empresa. Mas, se analisado com cuidado, com contas feitas na ponta do lápis e exigências incluídas, mesmo com a falta da palavra dos vereadores, o prefeito demonstrou mais habilidade que todos os envolvidos e o episódio, até aqui, mais parece um “jogo de ilusionismo” e muito bem-feito. Caso os vereadores tivessem mantido a palavra, todos ganhariam, exceto a população num todo, pois os recursos que serão repassados à empresa neste ano e no decorrer do ano que vem sairão dos cofres públicos e obviamente são da população. Agora, com o recuo dos vereadores e o compromisso voltando à estaca zero, mais uma vez, quem sai prejudicado é o usuário, que provavelmente vai pagar a passagem mais cara nas próximas semanas. 

Na verdade, se a palavra tivesse sido cumprida, todos ganhariam, a empresa, que resolveria a sua situação de caixa devido à pandemia da Covid; o prefeito, que ficaria bem com a população com o anúncio da redução das passagens e demais melhorias; os vereadores, que mostrariam para a população que trabalharam e impuseram condicionantes ao Executivo para aprovar os repasses; e obviamente a população também ganharia, pois, além da redução na passagem, teria mais guaritas, tecnologia nos cartões e acompanhamento de horários e trajetos. Pelo menos era o que se esperava, pois também poderia ocorrer de, nos próximos meses e no ano que vem, a empresa não cumprir totalmente o que estava tratado. É verdade que poderia ser cobrada e sofreria retaliações oficiais se não cumprisse, mas... 2024 é ano eleitoral.

Achei que, ao final das discussões, até que “os finalmentes” foram razoáveis, pois todos ganhariam, mas, ao fazer as contas de forma mais minuciosa, apesar da minha afirmativa no parágrafo anterior, concluí que poucos vão ganhar além da empresa. As condicionantes, como já afirmado, estão em contrato e agora no corpo do pedido de subsídio e também na LDO, então a empresa vai ter que cumprir ou arcar com as sanções impostas. Quanto ao subsídio, entendo que o pedido tem certo fundamento, mas acho que em todo tipo de negócio os riscos existem e a questão da pandemia foi um destes episódios de risco. Entendo que o povo não tem que arcar com o prejuízo e os seguros existem é para isso, a Viasul, muito provavelmente os tem. Ou pelo menos deveria ter. Mas já que o prefeito optou por conceder o subsídio e os vereadores optaram por aprovar, impondo algumas condicionantes, e depois mudaram de ideia, na minha opinião, a maioria das condicionantes já constam em contrato como de responsabilidade da empresa, então, mais uma vez, o povo é quem vai pagar, seja lá qual for o final da “novela”, pois não está recebendo nenhum privilégio em se tratando de melhorias dos serviços, pois é obrigação contratual da Viasul prestá-los a contento, com veículos em condições de uso, guaritas de qualidade (o que em Itaúna não existe, pois as daqui são péssimas e não cumprem a função de abrigar de fato), sistema de bilhetagem eletrônica e de avisos via GPS, tecnologias que já são  usuais e hoje até comuns, portanto é natural que estejam em funcionamento.

Quanto à questão de se estar cobrindo um prejuízo da pandemia, fico pensando que trabalhar para o poder público, seja, federal, estadual e ou municipal, já tem lá suas vantagens, pois os contratos são longos, o pagamento geralmente é sem atraso, tirando os tramites burocráticos, e com habilidade política se consegue tudo, inclusive não cumprir cláusulas contratuais. Então não me parece natural ajudar uma concessionária do serviço público a cumprir o seu contrato sem prejuízo. E aí começo a pensar, e o pequeno comerciante, aquele do bar da esquina, do mercadinho de bairro, na lojinha, do armazém de uma porta só...? Esses tiveram que fechar, pois não apareceu ninguém do poder público para lhe dar dinheiro, subsidiar os seus prejuízos com a Covid. Mas empresa de ônibus, concessionária... Para estes apareceram o prefeito, funcionários públicos e vereadores para brigar e até mesmo “dar murro em mesas” para defender subsidiá-los. São mesmo uma incógnita as posições tão contundentes da maioria dos políticos. Sei não...

Mas vamos lá, com as contas superficiais que fiz, acho que tudo não passou de uma encenação bem armada e, ao final, ficaria tudo como queriam os empresários prestadores dos serviços, os políticos, e os funcionários públicos envolvidos na questão pelo cargo que ocupam e mais sei lá o quê... O fato é que contas simples feitas por mim mostram que o jogo de “ilusionismo” foi bem arquitetado e, ao final, ficou tudo ficaria como “dantes no quartel de Abrantes”. Ou seja, a empresa recebe os recursos que alega ter perdido na pandemia; o prefeito atenderia a concessionária e continuaria a manter o relacionamento estreito com os empresários; os vereadores aparentemente cumpririam o seu papel e movimentariam mostrando ao usuário que estavam atentos e impuseram condições; e o povo, este, mais uma vez, teria sido iludido e já estaria dando loas ao prefeito e aos vereadores porque conseguiram barrar o aumento da passagem e até conseguiram baixar o preço atual, além de impor condicionantes. Mas ninguém parou para fazer contas e, se parou, foram muito poucos que concluíram que, literalmente, “enrolariam toda a população”. Ou seja, as contas não mentem, veja bem: se na pandemia o número de passageiros caiu de 400 para 250, o prejuízo é lógico, mas é preciso levar em conta que, após a pandemia, os números voltaram a subir e estão na casa dos 370 mil passageiros/mês e, dentre outros fatores, estão a redução dos horários e a queda no preço do diesel, que contribuíram para que a empresa pudesse recuperar e equilibrar custos. Mas como os subsídios já estavam definidos, concluímos que todos ganhariam, alguns mais, outros menos, e nesse caso, mais uma vez, seja lá qual for o desfecho daqui para frente, afirmo que o povo foi o único que como sempre, não ganhou e mais uma vez arcou com o prejuízo, pois o aumento da passagem, virá nas próximas semanas com certeza. E aí, somente para registro, vou finalizar com um cálculo simples, mas que é preciso ficar gravado: com a redução de R$ 0,50 na passagem, considerando 370 mil passageiros/mês, o valor que a empresa deixaria de ganhar é de R$ 180 mil/mês, ou seja, R$ 2 milhões e 880 mil nos próximos 16 meses. Se o total do subsídio era de R$ 26 milhões, menos R$ 2.880.000, vamos ter R$ 23 milhões e 120 mil reais de saldo. Valor total do subsídio que vai sair dos cofres públicos. Resumindo: fizeram muito barulho e, ao final, repito: “Ficou tudo como dantes, no quartel de Abrantes”, ou seja, apresentaram, no decorrer da semana, quase um número de ilusionismo. Agora, sem a votação do subsídio, sobrou somente uma alternativa: o prefeito vai conceder o aumento da passagem, que vai custar R$ 6,52. Então somente resta uma afirmativa: como sabemos, papel aceita tudo, inclusive no banheiro...