Itaunense! E com muito orgulho. 122 anos. Comemorar como?

Itaunense!  E com muito  orgulho.  122 anos.  Comemorar como?


Nossa Itaúna, o nosso eterno povoado do Rio São João Acima e também a Cidade Educativa do Mundo, um título merecido e ostentado desde a década de 1970 e que foi conferido pela UNESCO, completa amanhã, sábado, dia 16 de setembro, 122 anos de Emancipação Político-Administrativa, conquistada em 1901, quando foi criado o Município de Itaúna. De lá pra cá, o trabalho incansável dos itaunenses transformou a cidade, dando-lhe títulos como os de Cidade Industrial e o de Cidade Universitária. Vieram a bonança e também as crises, todas superadas. Itaúna está aí, com os problemas peculiares das cidades que crescem, mas com uma margem de conquista considerável em relação a vários municípios do mesmo porte. Sou um apaixonado por este torrão, mas consigo enxergar seus problemas e apontar os entraves responsáveis por eles, quase todos oriundos das disputas políticas, isso antes mesmo de se tornar cidade, quando ainda era a pacata Paragem do Rio São João Acima. 

O tempo passou, a cidade ganhou robustez e fez ser vista em toda Minas Gerais, com seus homens trabalhadores, cultos e inquietos, com a luta política constante em prol do município. Vieram também as divergências de ideias e os olhares diferentes, com eles, logicamente as separações ideológicas. Não podia ser diferente, pois as divergências de ideias também geram crescimento, e isso ocorreu em nossa Itaúna. Mas, da metade do século passado até o presente, as divergências políticas nem sempre foram salutares para a cidade e mais prejudicaram que construíram. Itaúna perdeu indústrias importantes, porque as famílias, também importantes, quiseram manter seu capital e o domínio industrial, mas as indústrias familiares não conseguiram se manter diante das mudanças e das conquistas tecnológicas, e caíram por terra. E o que foi perdido por orgulho, por egoísmo ou apenas por causa de posicionamentos políticos ou brigas familiares, já não era passível de recuperação. A cidade pagou e paga por isso um preço, podia ter se desenvolvido mais economicamente, mas, por outro lado, perderia em qualidade de vida e em sossego. 

Na década de 60, aconteceu um dos grandes, talvez o maior feito, dos grandes homens itaunenses, a Universidade de Itaúna foi criada e, aos poucos, se tornou “uma grande Universidade”. Como já escrevi em outras oportunidades, ela é fruto do trabalho de poucos homens verdadeiramente itaunenses, e, no meu conceito, ainda pertence aos hoje milhares de itaunenses, a todos eles, pois foi construída literalmente com recursos públicos. E, mesmo que hoje tenha dono, seja de uma família, é um patrimônio itaunense e a esse status quo voltará mais cedo ou mais tarde, mesmo que alguns não queiram. Graças à Universidade de Itaúna, na segunda metade do século passado, o perfil da cidade mudou aos poucos. A cidade tornou-se mais aberta, recebeu estudantes de vários cantos do Brasil, com sotaques e culturas diferentes, e ainda os recebe de abraços abertos até hoje (muito poucos, na verdade), propiciando uma diversidade de costumes. 

Onde erramos? Talvez ao não saber ou não enxergar, já no século passado, que a diversidade propiciada pela criação da Universidade deveria ter sido também levada para o campo político, com uma abertura que permitisse a discussão ideológica e ampla. Nossa política não evoluiu, porque nossos líderes nunca permitiram novas lideranças e não se permitiram ver e discutir novos horizontes. A tradicional Itaúna foi governada nesses 122 anos apenas por 20 prefeitos e, desde 1982, o poder municipal trocou de mãos apenas 5 vezes (Francisco Ramalho, 1 mandato; Osmando Pereira, 4 mandatos; Hidelbrando Canabrava Rodrigues, o nosso Bandinho, 1 mandato; Eugênio Pinto, 2 mandatos; e Neider Moreira, 2 mandatos). Uma situação política que pode ser considerada atípica, levando-se em conta o nível acadêmico e intelectual dos habitantes. Esta falta de alternância no poder no centro de decisões da cidade nos últimos 41 anos nos empurrou para uma outra situação, que refletiu e continua refletindo no nosso crescimento e na nossa qualidade de vida, que é muito boa, mas poderia ser melhor. Itaúna, parece, sempre está “remando contra a maré”, em algumas situações se analisarmos as decisões políticas no dia a dia, nos poderes constituídos nos níveis estadual e federal. Politicamente, estamos quase sempre em sentido contrário aos mandatários estaduais e federais. E isso se repete, temos um prefeito do PSD, um governador da Direita, do partido NOVO e um presidente do PT. Estamos ilhados, mas não somos um oásis. E isso nos custa falta de investimentos do Estado e da União, o que reflete no nosso dia a dia. Itaúna sofre hoje com a falta de recursos para a expansão urbana, para a execução de obras, para a abertura de avenidas e corredores de tráfego, dentre outros investimentos que são essenciais para o desenvolvimento e urgem. Não estamos estagnados, mas temos apenas obras de pequeno porte, diríamos, cotidianas, exceto a grande conquista que está sendo entregue, que é a ETE, e que vem sendo construída faz 20 anos. Portanto chegamos a um momento em que, indiferente de ideologia partidária, necessitamos de uma reciclagem política, de respirar novas ideias, pois faz mais de um século que mantemos uma estrutura política arcaica e de cunho quase que familiar. É preciso maior abertura, mas consciente e centrada no futuro, e isso, neste momento, passa por quem esteve no poder e principalmente por quem está. Não podemos olhar para trás, pelo contrário, é preciso olhar para frente e de cabeça erguida.

Por: Renilton Pacheco