Os dois lados da moeda

Os dois lados da moeda


Está semana fomos, por várias vezes, interpelados por itaunenses de diferentes setores e condições de vida, que nos cobraram com certa indignação, uma divulgação crítica, referente aos posicionamentos e atos do prefeito Neider Moreira, vindos a público nos últimos dias. Entre os itaunenses que se mostram indignados, tem pessoas com histórico de vida diferentes, alguns são engajados politicamente, outros apenas, diríamos, comuns e trabalhadores, pais de família e que pagam seus impostos em dia e vivem socialmente sem se envolver, mas que querem uma cidade cada vez melhor e justa, sem o que definiram nas conversas, como excessos dos políticos.

E esses excessos, segundo estes itaunenses barranqueiros, são os atos do nosso prefeito que eles estão assistindo e não engolem, como fizeram questão de afirmar. Um destes atos é o que está em debate nos bastidores do prédio da prefeitura e nos corredores e gabinetes do Legislativo: A “ajuda” financeira à concessionária do transporte coletivo urbano e rural, que alega prejuízos no período da Covid. Um dos que estão indignados e desabafou com a reportagem do jornal foi enfático: e o comerciante de uma porta só, que não conseguiu atravessar o período nebuloso e fechou? Vai receber ajuda pública? E o trabalhador comum, que viu a empresa de pequeno porte que trabalhava encerrar as atividades? Vai receber ajuda? E assim entendemos que todos têm razão, e fazemos coro: por que uma empresa de grande porte como a Viasul, concessionária de serviço de transporte em várias cidades mineiras, tem que receber dinheiro público para refazer caixa devido à Covid? Sou favorável ao reajuste da passagem. É melhor pagar do que ver o dinheiro público ser revertido para empresário rico e quiçá ir parar em outros lugares...

Mas dentro do debate sobre o governo municipal, ao ouvir as reclamações e entender a indignação do cidadão comum, argumentei que é mesmo preciso reclamar e se posicionar cobrando dos vereadores uma posição mais firme e transparente em relação ao governo municipal, mas que por outro é preciso reconhecer os pontos positivos da administração, que em minha opinião são muitos. Reconheço, por exemplo, que os serviços essenciais, como limpeza urbana, tapa-buracos, melhorias de vias e iluminação, dentre outros, como o atendimento básico à saúde, estão funcionando a contento e com presteza. É evidente que há problemas, mas estão funcionando. A economia municipal demonstra estabilidade e os cofres do município, ao que parece, acumulam recursos para pagar tudo em dia. O município vive um momento ímpar nesse sentido, isso é preciso reconhecer, o prefeito trabalhou “direitinho”. Mas, por outro lado, há também que verificar que as obras, as melhorias e a manutenção dos serviços de infraestrutura urbana estão sendo feitos com recursos de empréstimos a longo prazo, uma metodologia dos administradores públicos atuais, deixar compromisso financeiro para o próximo. Não concordamos, mas é praxe. Infelizmente. 

Acho que há problemas, e muitos, mas no geral damos nota 9 para o Senhor Neider Moreira no que tange aos serviços essenciais, entretenimento, esporte, educação, saúde e infraestrutura urbana. Mas algumas áreas precisam de olhos mais atentos e administradores mais eficazes. E por falar nisso, vamos ter que dar uma guinada e mudar o assunto para uma área que em nossa opinião não funciona com a eficiência necessária no governo, apesar de considerarmos a titular pela área uma pessoa responsável, preparada e com boa visibilidade da situação, mas, que não consegue traduzir seu trabalho em resultado satisfatório para a população. A área de assistência social, infelizmente, está deixando a desejar. Nós achamos isso, e a população também. As reclamações são muitas, porque as ações não traduzem em resultados efetivos no dia a dia do cidadão. E voltamos ao assunto porque, no momento em que estávamos redigindo esse editorial, recebemos um release da prefeitura, informando que o município recebeu do COGEMAS (Colegiado de Gestores Municipais de Assistência Social) o Selo de Responsabilidade Social pelo compromisso da administração municipal com as pessoas em situação de vulnerabilidade. Junto ao release, uma foto da secretária Alessandra, uma ótima pessoa e preparada profissionalmente, com o prefeito, segurando um troféu. Pois muito bem. Não concordamos em hipótese alguma com esse Selo de Responsabilidade Social e entendemos que ele não traduz a verdade sobre a situação no município. E o dia a dia nas praças e ruas não condizem com a certificação recém recebida. Acreditamos que o selo foi baseado em números de relatórios, e aí, acreditamos que o saldo seja positivo, mas a realidade no dia após dia nas ruas, não traduzem o merecimento ao selo. Temos um dia a dia com pedintes nas esquinas das ruas centrais, de viciados dormindo em jardins e monumentos públicos, de moradores de ruas dormindo em barracas instaladas em jardins e de pessoas consumindo drogas e bebidas e importunando as pessoas, que reclamam e não obtém uma resposta do poder público municipal, com um trabalho efetivo para tirar estas pessoas das ruas. 

Qualquer cidadão que for pesquisado na cidade sobre esse assunto, vai responder que a cidade está com muitos pedintes nas ruas, que reviram os lixos durante a madrugada, que urinam e defecam nas calçadas e portas de prédios, que dormem nos gramados e que vão para as portas de lotéricas mendigar. Isso é fato. É público e notório, e não traduz o Selo de Responsabilidade Social. Até acreditamos que o município esteja prestando assistência às famílias devidamente cadastradas com auxílio gás, cestas básicas e até moradias, talvez, dentro de programas dos governos Federal e Estadual, mas isso é obrigação, pois existem recursos específicos para tal fim e os trabalhos sociais devem mesmo ser colocados em prática. Mas vamos continuar publicando as reclamações dos itaunenses - que são frequentes -, que já não aguentam mais ser interpelados nas ruas com pedidos de esmola, que já não suportam o cheiro de urina nos passeios e praças e que já não suportam literalmente pisar em excremento humano e ou ter de lavar as frentes dos prédios e casas para limpar o cocô fedido e ou ter que pular os corpos de pessoas enroladas nas marquises dos seus prédios. 

Se os nossos administradores, prefeito, vice, secretários e demais funcionários públicos, acham isso normal porque não podem impedir o direito de ir e vir, e não trabalham efetivamente para dar fim à situação que é calamitosa e não traduz a verdade de um Selo de Responsabilidade Social, que levem estas pessoas para a porta das suas casas e os acolham dignamente. Mas nas ruas, o cidadão que trabalha, paga seus impostos e quer assentar no banquinho da praça ou sair para fazer uma caminhada para relaxar, está literalmente de “saco cheio”. Este cidadão não é obrigado a conviver com uma “Cracolândia” na Praça da Lagoinha, por exemplo, em pleno Centro, onde tem que passar todos os dias para trabalhar às 5, 6 horas da manhã e correr todos os riscos de assalto, agressão e ou desrespeito. E ponto. Selo? Colegiado de Gestores Municipais? Balela, uma piada de mau gosto. Resumindo: São os dois lados da moeda.

Por: Renilton Pacheco