Que Deus nos perdoe!

Minha mãe querida, que subiu aos céus há 7 anos, no dia 17 de abril de 2018, aos 88 anos, me ensinou muito cedo a rezar, e cumprindo um ritual de ir e nos levar, eu e minhas irmãs, à missa, aos domingos pela manhã. Menino, viajava, contava degraus desenhados nos mesmos ladrilhos que estão na nossa igreja matriz, mas aprendi que igreja é lugar de rezar, celebrar Cristo e de respeito. Não sou muito de ir à missa, vou muito pouco e quase por obrigação, mas repito, aprendi, com minha mãe, a rezar, confiar em Deus e respeitar os lugares sagrados.
Na quinta-feira, 15, para cumprir minha obrigação de católico e para com um amigo, acompanhado da minha esposa, fui à Igreja Matriz para assistir à missa das 19 horas, em memória do meu amigo Dr. José Waldemar Teixeira de Melo, jornalista, meu professor e meu amigo, que nos deixou na semana passada.
Tudo transcorria bem até que a igreja foi “invadida” por um cidadão itaunense, pessoa simples, inteligente, mas com problemas de ordem mental, que, quando está sem acompanhamento médico do CAPS e sem tomar os medicamentos necessários, perde o controle dos atos. Ele já quebrou imagem na igreja no passado, dentre outros atos ligados à religião. Desta feita, entrou pelo corredor central, fez exercícios físicos para demostrar a presença e, em seguida, foi ao altar, passando por trás do padre que celebrava, ficou em frente ao Santíssimo por cerca de 1 segundo, seguiu para a sacristia e voltou com a cabeça molhada, fazendo gestos, e saiu pelo mesmo corredor. O padre seguiu a celebração sem esboçar nenhum gesto, como se estivesse já acostumado com aquela cena lamentável.
Passado alguns segundos, entrou, pela porta lateral voltada para a Praça, outro tipo popular, vamos dizer assim, o Djalma, conhecido por todos os itaunenses por pedir dinheiro a todos de maneira repetitiva: “Ou, me dá R$ 2,00 aí?”. Começou a pedir dinheiro pelo lado direito dos assentos da igreja, passou para a área central e depois para a esquerda... Não levou um “tostão”, observei. Saiu em silêncio, mas, poucos minutos após, um fogo foi observado na lateral da Matriz do lado da Praça, próximo a uma janela. As labaredas ficaram altas e muita fumaça fedida, provavelmente proveniente de plástico, adentrou o monumento e assustou os presentes. Uma beata, ex-funcionária da prefeitura, uma figura sensacional, dócil, inteligente e, principalmente, muito católica, gritou: “Tem um carro pegando fogo ali fora...”. Observei pela janela que o fogo e a fumaça não tinham proporção para um carro. Não saí do lugar. E observei também que o padre estava no momento do OFERTÓRIO, um ritual sagrado e que tem muita simbologia, e que traz uma sensação perene de amor e reflexão silenciosa a todos os presentes. Ele continuou intacto, desempenhando o seu papel de pregador da palavra e da fé cristã, sem tomar conhecimento do que estava ocorrendo.
Muita fumaça fedida começou a tomar conta da igreja e a incomodar os presentes. Duas ou três pessoas saíram para tentar apagar o fogo e saí junto. O jornalista Edson Ricardo Teixeira de Melo apagou o fogo, que havia sido colocado em uma caixa de papelão envolta em plástico, o que estava causando a fedentina e a fumaça preta. Registrei a ação com fotos. Em seguida, ligaram os ventiladores e depois cerraram as portas. A missa continuou... E terminou após a comunhão. E a igreja foi fechada após os abraços de sentimentos aos familiares.
Eu fui embora pensando no absurdo a que assisti. E tendo a certeza de que o meu editorial de hoje seria sobre os ocorridos. Não por causa dos protagonistas, pois são duas pessoas que merecem nosso respeito, como todas merecem, mas que precisam de atenção especial da sociedade num todo. O primeiro, como já afirmei, se em tratamento no CAPS, consegue conviver harmonicamente com todos, é um leitor contumaz e inteligente. O segundo tem problemas mentais visíveis, mas, além disso, é viciado e pede dinheiro para sustentar o vício. Precisa, então, de dois tratamentos. Não sei como as leis estabelecem essa relação sociedade, doente e família. Mas é preciso solução em prol de todos. E, assim, acho que passamos de todos os limites da tolerância para com atos que não estejam dentro dos padrões sociais de respeito mútuo e ao próximo. E, para que isso tenha um basta, é preciso engajamento social e, mais que isso, ação governamental em todos os níveis.
No nosso caso em Itaúna, é necessário, o mais rápido possível, resolver a questão das pessoas em situação de rua, que vêm de outras cidades e ficam perambulando sem serem incomodados. Fazer cadastro, saber de onde são e não “despachar” não vai resolver. E, assim, a situação vai colaborando para que episódios como os de quinta-feira ocorram. As reclamações dos moradores do Centro aumentam dia a dia, pois estão todos com medo e não saem mais depois das 19 horas das suas casas. Há gente por todo lado, debaixo das marquises e portas de prédios, banquinhos das praças, da Matriz, Lagoinha, Estação, dentre outras. E as ocorrências de roubo de cabos de energia de cobre e, agora, de quebra de hidrômetros para vender são o retrato da situação.
O que fazer? Sabemos que o governo municipal já está tomando iniciativas para tentar começar resolver a situação. Uma delas é a questão da Guarda Municipal, mas isso vai demorar, será necessária uma medida paliativa. Pois do jeito que está não pode ficar. E não vou aqui culpar somente as autoridades, pois a Igreja Católica, especialmente a Paróquia de Sant’Ana, poderia fazer a sua parte e contratar seguranças em empresa particular para estabelecer ronda durante as missas, principalmente, as noturnas, no decorrer da semana. Tem recursos para isso e consegue patrocínio para tal. É só querer.