Nosso passado em maquete... E nossa “Cultura” virou samba... É piada?
A semana foi diferente para os itaunenses que olham a cidade com o “coração” e para aqueles itaunenses considerados “raiz”, e que têm envolvimento com os setores artísticos e culturais do município. Além destes, todos aqueles que vivenciaram os tempos áureos da Cia. Industrial Itaunense, ou apenas a “fábrica”, estão tristes e indignados. Além destes, também os que participaram da época de ouro do nosso Carnaval, com as escolas de samba e os blocos subindo a Rua Silva Jardim e adentrando a Praça da Matriz, e que pularam o carnaval no Bloco dos Farrapos da Lagoinha, na Ponte, no Babalu, dentre muitos outros... Os que até o ano passado se divertiram com o Pau de Gaiola na Praça da Lagoinha, estão na mesma situação, tristes, indignados e já saudosistas. Os tempos são outros, isso é verdade, e a insegurança cada vez maior acabou por levar os administradores públicos a optarem por um novo formato para a festa momesca ou apenas carnavalesca, pois o reinado do momo já não existe mais, pelo menos, nesta nossa terra barranqueira do São João Acima.
Mas vamos aos fatos. A semana começou com uma interrogação em relação à chaminé da extinta fábrica de tecidos da Cia. Industrial Itaunense, quando homens foram flagrados no alto da mesma, trabalhando, e com cavaletes colocados no quarteirão da Rua Zezé Lima, entre as Ruas Josias Machado e Manoel Gonçalves. Passamos pelo local, fotografamos os dois homens lá no alto e com tijolos nas mãos. Num primeiro momento, achamos que estavam fazendo um trabalho de restauro. Recebemos as primeiras denúncias minutos depois, e uma delas afirmava que estavam mesmo é desmanchando a torre. Argumentamos que estavam consertando, pois obtivemos informações que seria isso, um conserto. Um dia depois, veio a confirmação em forma de release, comunicando que estavam mesmo é desmanchando a chaminé e com autorização do Codempace e dos órgãos competentes da prefeitura.
Pois é... O primeiro questionamento que fazemos é em relação ao posicionamento do Codempace, porém, entendemos que há algumas questões em relação ao fato que devem ser levadas em consideração. Uma das questões é o fato de o Codempace não ter tombado a chaminé quando foi anunciado que o terreno seria vendido ao grupo J. Mendes, e o outra é o fato de os preservacionistas do patrimônio público não terem acompanhado a questão junto aos setores responsáveis na prefeitura. E uma verdade tem que ser registrada: o pessoal ligado à arte e cultura em Itaúna só aparece quando acontece algo que os incomoda, como no episódio dessa semana. Não são militantes e muito menos marcam presença constante, estão preocupados é com os seus projetos pessoais, que envolvem recursos de leis de incentivo cultural em nível federal e estadual. E pronto. Diante disso, o que entendemos é que agora é tarde... E é por uma conclusão muito simples: o terreno é particular e o proprietário tem o direito de fazer nele o que bem entender, desde que respeite às leis municipais vigentes. Então só há uma saída para postergar a derrubada ou o desmanche da chaminé, que consideram os preservacionistas e os envolvidos com os setores culturais, um patrimônio cultural do município: é um itaunense daqueles considerados “raiz”, saudosista e apaixonado pelas coisas da cidade, entrar com um mandado de segurança, com pedido de liminar na Justiça. Se é que cabe isso, pois, no nosso entendimento, o terreno é particular e se a coisa não foi feita como deveria no tempo certo, agora é tarde. Achamos que o Grupo J. Mendes, dentro de uma cooperação, pode reavaliar o desmanche, mas é uma prerrogativa deles.
Quanto ao fato de construírem uma maquete para que a história seja lembrada, sinceramente, achamos uma piada... É ridículo afirmar que “mediante solicitação do CODEMPACE será providenciado o resgate e preservação da memória histórica através de maquete representativa de como era a chaminé, acrescida de um memorial descritivo adjunto da história do bem, de modo que a memória e os aspectos especiais da chaminé continuem vivos transmitindo o fator de sua importância de geração para geração”. Ou seja, inventaram uma nova maneira de preservar a memória arquitetônica da cidade. Sem maiores comentários.
Finalizando esse assunto, perguntamos: quem vai entrar na Justiça para “tentar” interromper o desmanche da chaminé da fábrica?
O outro assunto que precisamos registrar e questionar é o carnaval. Sinceramente, ao participar da coletiva de imprensa na quarta-feira no Espaço Cultural – local que transformaram em Secretaria da Cultura, ou seja, no local onde deveria estar exposições e outras atividades culturais, dentre outras expressões artísticas, está ocupado pelo setor administrativo -, quase saímos de lá convencidos que a proposta do carnaval deste ano é muito boa. Podemos até afirmar que é audaciosa e contempla algumas boas intenções, mas, sinceramente, não vai dar certo. Mas o que nos leva a discutir o assunto aqui é o fato de estarem misturando festa popular com movimento cultural. O carnaval é uma festa popular e no nosso entendimento não pode ser considerado uma festa cultural. Pode ter tido aspectos de culturais no tempo das Escolas de Samba, lá nas décadas de 70, 80 e 90, mas só.
Agora, nos chega à informação de que vão usar o Fundo de Cultura para bancar os shows e até mesmo atividades na estrutura que vão mantar lá no Boulevard Lago Sul. Sinceramente, se isso é verdade, não podemos concordar. E mais uma vez, perguntamos onde estão os artistas da cidade e as pessoas que consideram ativistas culturais? Vão ficar calados e deixar que recursos de um fundo que é para incentivar e bancar produções artísticas sejam usados para pagar uma festa popular, como shows de axé e de samba, além de estrutura, dentre outros gastos? Ser artista e ativista cultural somente quando interessa ou olhando para o próprio umbigo não é uma postura que possa ser considerada coletiva, num é?
Mas é como sempre afirmamos, Itaúna é mesmo a terra de Borba Gato, ou seja, todos estão mesmo preocupados é com o “próprio umbigo” e o coletivo é que se dane. Sou um apaixonado por essa pedra preta..., mas ô terrinha viu!!!