A inversão dos fatos

A inversão dos fatos

Itaúna é ímpar. Itaúna é terra de Borba Gato. Itaúna é diferente das outras. Itaúna é engraçada!!! O episódio que vou contar hoje – em consonância com o que escrevi em 24 de maio deste ano e do qual vou reescrever trechos neste editorial –, e que ocorreu comigo esta semana, é tão sem sentido, que é engraçado, não tem outra palavra. Itaúna, seus poderes constituídos e, consecutivamente, seus representantes são muito engraçados. O episódio é cômico, apesar da sua seriedade e consequências para os cidadãos. Mas vamos lá:  

Na edição do dia 24 de maio deste ano – como toda mídia itaunense e regional, seja ela imprensa, televisiva, rádios e sites –, repercutimos um episódio que envolveu um cidadão considerado idoso, pois tem mais de 65 anos, e dois policiais na Rua Tácito Nogueira, no Centro de Itaúna, por causa de um estacionamento irregular. O cidadão deixou de ligar o pisca-alerta em uma vaga de 10 minutos enquanto foi aos Correios e, ao voltar, se deparou com o seu carro sendo rebocado. Desesperado, começou a xingar, perdeu o controle e acabou que, não sabemos os motivos exatos, um dos policiais, de forma brusca, ou melhor, truculenta, em minha opinião, entrou em luta com esse cidadão para imobilizá-lo. Tudo foi filmado. O desfecho foi muita indignação, de toda a população, com as cenas agressivas protagonizadas por um representante da lei, um policial militar. Cabe frisar que a nossa reportagem foi feita com base nos vídeos, assim como todas as outras veiculadas pelos meios de comunicação, inclusive regionais.

Pois muito bem, esta semana, precisamente na terça-feira, 22, por volta das 17h30, recebi um telefonema de uma autoridade de segurança de alta patente na Polícia Militar de Minas Gerais, pessoa pela qual tenho respeito e admiração pela seriedade e competência, que me perguntou se poderia contribuir como testemunha em um inquérito interno da PM para apurar o ocorrido na Rua Tácito Nogueira. Ouvi e, de forma sucinta e lógica, respondi que não, pois eu não estava no local, e que não era a pessoa mais indicada para tal fim, pois dezenas de pessoas estavam no lugar, como comerciantes do entorno, funcionários de lojas, da escola, transeuntes, dentre outros. E fui taxativo: por que eu? E arrematei, afirmando que não iria de jeito nenhum, que não falaria nada nem com a PM, nem com o delegado e muito menos com o juiz, se for o caso. E que teriam que me prender... 

Ele não argumentou meus posicionamentos e disse apenas que eram apenas algumas perguntas e que eu poderia dizer que não sabia ou ficar calado. Mais uma vez, repeti o que escrevi acima: Vão ter que me prender. Desliguei o telefone e, sinceramente, comecei foi a rir de tanta indignação, pois, dentre muitos, resolveram me escolher como “testemunha”. E, mais que isso, será que desconhecem, ou fingem, que a imprensa tem que fazer o trabalho dela, doe a quem doer? A nossa reportagem não opinou, apenas relatou o vídeo e a indignação das pessoas. Será que foi a nossa manchete que incomodou: “Populares denunciam ação truculenta da polícia – Comando faz ‘vista grossa’ e divulga nota à imprensa com informações que não condizem com o vídeo reproduzido nas redes sociais”? Será esse o problema? Pode ser que queiram explicações. 

Mas acho que o problema maior é o editorial com o título: “A degradação moral dos serviços públicos”, em que começo afirmando que, não fazia muitos meses, tinha escrito sobre a fiscalização do trânsito em Itaúna envolvendo a Polícia Militar, isso quando um acordo, ou convênio, com o Município havia sido firmado. E lembro de ter dito que não daria certo, e que as consequências viriam, e pior, para a população. E vieram. 

Afirmei também que não conseguia analisar se havia um culpado por essas consequências, mas que poderia afirmar que todos os eram, inclusive o cidadão, o dito povo, onde me incluo. Mas que o Município era e é o principal deles, pois não consegue estruturar uma forma de fiscalização eficiente do trânsito urbano, o que é complicado de analisar, mas é prático para criticar, pois é competência dele e tem que funcionar. Como? Não sou engenheiro de trânsito, nem engenheiro com pós-graduação em engenharia de tráfego, e muito menos administrador público. Sou um crítico com dois olhares, o de jornalista e o de cidadão, que necessita transitar com o seu veículo pelas ruas da cidade e que também precisa atravessar faixas e esperar nos sinais. 

E afirmei muito mais. Expus minhas opiniões, como sempre faço, e dentro do meu direito, como o de dizer que, diante do ocorrido à época e de outros episódios que ainda acontecem no dia a dia, precisamos de solução imediata na questão do trânsito urbano, pois não há como continuar como está e muito menos podemos ficar à mercê de fatos como o registrado naquela  tarde, na Rua Tácito Nogueira, no Centro, em frente à Escola Estadual José Gonçalves de Melo, quando, por causa de um estacionamento irregular numa vaga de  carga e descarga de 10 minutos, e somente porque o pisca-alerta não estava ligado, um senhor, um idoso de 65 anos, foi agredido, algemado e preso por um policial, e de forma, em minha opinião, escandalosa, truculenta e desnecessária. Quem é o culpado no episódio? O policial? O cidadão?  Ou é a sociedade num todo, que foi obrigada a assistir, em loco ou via vídeo, as cenas nada agradáveis? Todos são culpados, porque as coisas não estão sendo feitas como deveriam.

A Polícia Militar de Minas Gerais foi criada para proteger o cidadão da criminalidade, e não para gerenciar trânsito urbano, aplicando multas e ordenando o reboque de veículos. Estamos precisando de policial é nas ruas de bairros, para combater o tráfico, roubos e assédios. E nas ruas do Centro, fazendo rondas a pé pelas calçadas e praças, para que moradores de rua parem de importunar os transeuntes que precisam resolver suas questões diárias. Em resumo: em nossa opinião, o modelo em vigor não funciona e acaba por causar a “bagunça” com a qual estamos vivendo e que provoca ainda os dissabores a que assistimos em maio. 

E o policial? Será que está preparado para agir nas ruas, na fiscalização do trânsito urbano? Teve aulas preparatórias e psicológicas para lidar com o cidadão? Ao que parece, não. E pensando assim, como profissional do jornalismo e como cidadão, tenho o direito de expor minhas opiniões e não vou me conter. Achei excessiva a ação e, como já exposto em nossa reportagem no site e nas redes sociais, achei e continuo achando que ainda é preciso explicações. O comandante da Polícia Militar precisa vir a público e dar esclarecimentos em nome da corporação. Uma nota explicativa genérica, que não diz nada com nada, dirigida a nós da imprensa, não é suficiente. Ela serve somente para mostrar que não existe um comprometimento com a sociedade. Não falaram em averiguação, apuração ou possível punição. E as questões levantadas? Vão ficar sem respostas? 

Tenho a opinião, por exemplo, que está instalada em nossa cidade uma verdadeira “máfia” do rebolque e das multas, e que envolve todos os polos conectados ao sistema. Ninguém vai se posicionar para dizer que isso não existe? Não podemos provar, mas podemos achar que tem. É direito nosso. Reafirmo, passou da hora de um basta. A desmoralização dos serviços públicos é visível, e isso leva o cidadão a achar que pode tudo, inclusive, passar por cima das leis, uma vez que elas não são aplicadas como deveriam, pois há uma cultura de jeitinho brasileiro, conversas de compadre e no pé do ouvido, ou pior, o “cala bocas” e “rachadinhas”. “Brasil!!! Mostra a sua cara!!!”, cantou Cazuza!!! 

Então termino hoje reafirmando que não retiro uma vírgula do que escrevi naquela semana, e nem no editorial de hoje, em que repito algumas colocações e opiniões. E também afirmo com tranquilidade que o comando da Polícia Militar, seja local, regional e ou estadual, está querendo não é o meu testemunho, e sim, literalmente, me “encostar na parede”, para saber o porquê das minhas opiniões. Ora, pois, elas estão aí. Agora, acho estranho. Por que exatamente o editor da Folha do Povo? Não somos o único meio de comunicação da cidade. Será que é porque temos OPINIÃO? Assim sendo, só queremos lembrar aos comandantes e demais autoridades competentes que não estamos vivendo ainda uma nova ditadura, e não vamos viver. Nossa democracia está consolidada, e nós jornalistas temos constitucionalmente o direito do sigilo da fonte e o da liberdade de expressão. Assim como todo cidadão brasileiro tem. Então. Ponto.