Fazer jornal ou exercer o jornalismo?

Fazer jornal  ou exercer  o jornalismo?

Hoje, quando paro para pensar e fico observando no que se transformou o jornalismo – hoje considerado moderno, ágil e eficiente, com suas mídias eletrônicas, através de redes e monitoradas por tags digitais que apontam quantos acessos foram obtidos no dia, na semana e no mês, qual o tipo de público acessou e onde –, fico pensando em quando adentrei naquela casa no início da Rua Antônio de Matos, especificamente no número 11, na esquina com a Praça Dr. Augusto Gonçalves, ou, se quiserem, apenas Praça da Matriz, em 1973, aos 13 anos, ainda usando calça curta. Não imaginava que a partir dali minha vida estaria ligada, com alguns pequenos intervalos, ao jornalismo impresso de nossa Itaúna. 

Lembro-me, foi paixão à primeira vista. O clima na redação, com os assuntos políticos “pipocando” a todo momento, os acontecimentos policiais, culturais e sociais, as atas das reuniões do poder Legislativo, que relatavam as discussões em torno dos assuntos que interessavam a população e a cidade administrativamente. Tudo me chamava a atenção. Menino, observava e, sempre atento, procurava entender o porquê daqueles dois, um senhor espalhafatoso e um moço até certo ponto calado e sempre compenetrado, gostavam de fazer o que faziam. O senhor, polêmico e inteligente, sentava-se em frente a uma máquina de escrever, que hoje deveria estar exposta no Museu Municipal (não se sabe onde ela está, se guardada ou...), e dedilhava concentrado em folhas de papel jornal formato A4 suas matérias, que tinham sempre Itaúna e seus problemas. Cabe observar que alguns permanecem até hoje, os da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira são alguns deles. Esse senhor, de nome Sebastião Nogueira Gomide, o apenas o Piu, palpitava em tudo, cobrava, exigia dos governantes e dos “homens fortes” postura em relação às coisas do município. Conseguiu mudá-las, de alguma forma... O outro, jovem e de estilo diferente, e muito calado, mas espirituoso, era quem comandava a redação e a oficina-gráfica, que contava com uma máquina impressora velha, grande e muito barulhenta. Inicialmente, percebi que este moço não emitia ainda suas opiniões nos textos encaminhados à redação e nos seus editoriais, parece-me que ainda não eram publicados, mas não demorou muito para Itaúna conhecer outro jornalista combativo, tanto quanto o Piu, aí nasceu o jornal Brexó. Aprendi com o jornalista Sebastião Nogueira Gomide, meu primeiro patrão, e com o jornalista Célio Silva, meu primeiro chefe.

Já no final da década de 70, início da década de 80, começando a redigir e a entender melhor como funcionava o jornalismo, a política e o poder numa cidade do interior, e ainda vivenciando uma ditadura e já trabalhando na reitoria da Universidade de Itaúna, pude acompanhar outro jornalista inteligente e conhecedor de um jornalismo mais profissional, mais apurado, e com uma visão mais ampla, por ter trabalhado no grande Jornal dos Mineiros, o Estado de Minas. Com o meu amigo Dr. José Waldemar Teixeira de Melo tive aulas de jornalismo, e, na prática, aprendi mais, muito mais, e foi nessa mesma época que ganhei outro amigo, um senhor refinado, conhecedor da língua portuguesa como ninguém, e que a usava com tanta facilidade, que a tornava simples. Um jornalista muito respeitado nas Gerais, lecionou ética na Faculdade de Jornalismo da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais até se aposentar. E foi nos livros e nas apostilas sobre ética e jornalismo do professor e doutor Anis José Leão, um itaunense ilustre e simples, que aprendi mais. E aprendi bem.

Hoje, estou há praticamente 30 anos editando, ou apenas fazendo, a nossa FOLHA, que é do POVO, e exercitando o jornalismo, não como eu gostaria, mas ainda exercitando-o. E, por isso, posso dizer que o jornalismo é fascinante, porque ele permite ao jornalista mudar as coisas, ou, pelo menos, mostrar que as coisas podem ser mudadas. E, querendo que as coisas mudem, que as mudanças aconteçam para melhor para a humanidade, para o nosso país, estado e nossa cidade, que concordo com a evolução tecnológica que muda dia a dia a maneira de fazer jornalismo, que hoje é mais virtual com os sites, redes sociais, páginas nas plataformas, dentre muitas outras possibilidades. 

Porém não concordo que todas as possibilidades oferecidas por essas plataformas sejam usadas de forma errônea pelos profissionais do jornalismo que já não sabem o que é a essência da profissão e apenas se preocupam em dar a notícia, mas não trabalham para construí-la para o leitor, com checagem segura, redação bem-feita e divulgação ampla. Não se pode apenas preocupar em ser o primeiro, e publicar mentiras ou dar notícias com erros de informação, pois isso pode ocasionar em algum momento, problemas maiores. O jornalismo é feito de fatos. E ponto. Não há como inventar.  Depois de 40 anos de profissão, o que posso afirmar é que hoje, infelizmente, já não se faz jornalismo como antigamente. 

E, pensando assim, em apenas “dar a notícia” com precisão e sem a paranoia de ser o primeiro veículo em “entupir” as redes de notícias com erros de informação, sem a apuração segura e devida e com erros de grafia... preferimos trabalhar o jornalismo, para, através das páginas da nossa FOLHA, poder cobrar a realização e a atualização das obras que vão beneficiar a população, e assim, tentar fazer com que os contratos milionários que levam o dinheiro público para o ralo ou para os “bolsos”, em detrimento de projetos sociais abrangentes, sejam direcionados para o bem da maioria, dentre muitos outros atos que são de responsabilidades dos administradores públicos. E é através das edições da FOLHA que vamos tentar continuar fazendo com que Itaúna seja uma cidade cada vez melhor para se viver. Pergunto: Há alguma diferença entre os conceitos “fazer jornal” ou “exercer o jornalismo”? Com diploma ou sem diploma?