É preciso saber perder...

Quando era criança e reclamava ao perder alguma disputa, meus pais me mostravam a correia ou uma vara qualquer como sinal para acabar com a reclamação. E com o gesto vinha a bronca: “para de piti, vira homem e aprenda a perder!” Depois, até vinham algumas palavras de consolo, dependendo da situação, explicando que a gente nem sempre ganha e que perder faz parte do aprendizado da vida. Lembro isto e fico pensando: os pais de alguns políticos brasileiros não tinham o mesmo conceito da vida que os meus, ou esse pessoal é mesmo mau caráter?
Fazendo um resumo da situação que me leva a pensar o que cito acima, começo com o Aécio Neves sendo derrotado pela Dilma Roussef, nas eleições presidenciais de 2014. As urnas foram fechadas e o Aécio e sua turma abriram o chororô, falando que a derrota não foi correta, não tinha sido dentro da legalidade e coisa e tal. Até hoje ainda se encontram alguns aecistas que reclamam. Espernearam, choraram, mexeram, até que veio a cassação do mandato da Dilma, dois anos depois, colocando no seu lugar o Temer, para completar o mandato.
Bolsonaro se elegeu em 2018 e perdeu a reeleição, em 2022. Aí começou a choradeira, que teve até invasão dos palácios dos poderes constituídos e continua o chororô sem fim, desde então. E a partir daí parece que virou moda reclamar de ilegalidade quando se perde. Não se aceita mais a derrota. E os exemplos são vários. Olha a Zambelli, fugindo para a Itália, condenados escapando para a Argentina e, nesta semana, deputados cassados pela aplicação da legislação, não aceitando a derrota e ameaçando greve de fome. Dá até vontade de repeti a fala do ex-presidente: “quando é que vão deixar de mimimi?”
“Aceita que perdeu e tira o time de campo”, como diziam os meninos nas disputas de bola de antigamente. Por que será que algumas pessoas não conseguem aceitar a derrota? Será doença, falta de educação na infância ou mau caratismo mesmo?
* Jornalista profissional, especialista em comunicação pública e membro da Academia Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.