Irresponsabilidade, desfaçatez, descaso e incompetência...

Irresponsabilidade, desfaçatez,  descaso e  incompetência...


As palavras do título traduzem o que vem ocorrendo com a direção da nossa cultura, devido à pouca efetividade dos responsáveis pelo gerenciamento do setor. Eu diria que, além do que traduzem essas palavras, o que está sendo constatado na cultura itaunense pode ser definido como pouca vontade de fazer, ou pior, falta de capacidade para tal, devido ao pouco conhecimento do que é cultura num todo, desconhecimento da história do município e do que é arte, na essência da palavra. E pior que isso, achar que fazer arte e gerenciar cultura é promover festas onde se consomem milhões. Nossas expressões culturais, em todos os seguimentos e sentidos, foram relegadas a segundo plano pela administração municipal desde a primeira gestão, ou seja, faz 7 anos que não temos um trabalho sério e construtivo, de preservação e manutenção das nossas expressões culturais e da nossa história, rica culturalmente, com trabalhos de destaque na literatura mineira e nacional, na música, dança e artes plásticas, dentre muitas outras formas de expressão artística e cultural, como no teatro, que tem uma rica e bela história, e que foram relegadas a segundo plano, pois, para que a história, o fomento e a manutenção de todas as formas de expressões artísticas e culturais sejam preservadas, mantidas e fomentadas, é necessário, primeiramente, vontade, depois, conhecimento, seguidos de estudo e, consequentemente, de competência para o gerenciamento e o fomento.

Infelizmente isso ocorre em uma cidade rica em expressões culturais desde a sua formação, ainda quando arraial do Rio São João Acima, e que durante todo o século passado, décadas após décadas, promoveu espetáculos que lotavam os teatros, com trupes formadas por jovens nativos e estudiosos das formas de expressão da arte, que subiam ao palco para interpretar grandes obras da literatura mundial, brasileira, mineira e textos de itaunenses. Nossa Itaúna tinha escritores famosos nas Minas Gerais do século passado e jovens que, com o pincel nas mãos, produziram telas que disputaram lugar com nomes em nível nacional em galerias de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mas tudo isso foi literalmente jogado no lixo por pessoas que não sabem o que é preservar, pois se não têm um conhecimento aprofundado do que é arte, cultura e, consecutivamente, história, assim não podem mesmo saber o que significa preservar e incentivar a continuidade dessas manifestações.

Não me assusta ver um acervo de uma biblioteca ser destruído por causa do descaso, pois, se você nunca leu, não aprendeu e não adquiriu o hábito da leitura como prazer e objeto de conhecimento, não pode mesmo saber o valor dos livros. É lastimável ver as fotos e os vídeos que registram o que está acontecendo na Biblioteca Municipal. E posso afirmar que não é de agora... Faz muito tempo, pois a FOLHA, há mais de 6 anos, foi chamada por funcionárias da Biblioteca para constatar o descaso com os livros, que se amontoavam nos banheiros e despensas do prédio da mesma Biblioteca Pública, sujeitos a todo tipo de intempéries. Temos fotos. Justificar publicamente que a empresa contratada para fazer as obras e reforma do prédio tinha a obrigação de providenciar a remoção é tentar fazer a população de “idiota”. Mais que isso, é expressar a irresponsabilidade com os bens culturais. Aliás, fizeram isso com o acervo do Museu Municipal Francisco Manuel Franco, e acabaram com a galeria Ahmés de Paula Machado para transformar o espaço em um “escritório” da Secretaria de Cultura, que transformou quase todo o prédio do Espaço Cultural Adelino Pereira Quadros – outro erro, pois ele nunca foi um artista – em “Espaço Administrativo da Cultura”. É preciso ficar de olho, pois senão acabam transformando o teatro em depósito de materiais considerados inservíveis relacionados à cultura, como livros, restos de presépio, esculturas e vestimentas e adereços do Congado (Reinado), teares, objetos antigos... Ó! Me esqueci... Estes estão ou estavam amontoados debaixo da escadaria do Ginásio Poliesportivo da JK, criando mofo. 

Enfim, não tivemos nessa administração municipal nenhuma expressão cultural na essência, pois oferecer espetáculos teatrais é o mínimo... E esses espetáculos são, na maioria, provenientes de apoios culturais de grandes empresas. Ou seja, o Município, literalmente, empresta a sala, e mais nada. O que é o mínimo. Em resumo: não temos um movimento cultural substancial, não tivemos investimento em cultura com oficinas permanentes e nem incentivos em cursos. Mas tivemos recursos substanciais investidos em contratação de bandas para arrastar pessoas “atrás dos trios elétricos”, em grupos musicais e em artistas famosos que estão no portfólio dos empresários do setor, tivemos investimentos em estruturas para abrigar festas que denominam populares e que exigem contratações de maquinário de som, palcos, iluminação e segurança... Tivemos festas que custaram milhões... Festas populares, que até são essenciais para o povão, ou seja, há justificativa... Mas na cultura, na essência da palavra, não tivemos nenhum investimento. Infelizmente nosso prefeito, que tem uma bagagem cultural, fruto da criação familiar e da erudição proveniente da formação acadêmica e humanista, optou por oferecer ao povo “pão e circo”, pois, até aqui, nosso setor cultural não acrescentou em nada culturalmente em prol da população num todo. A nota é zero. E o pior, literalmente destruíram o que foi construído ao longo do tempo. Não temos um Museu Municipal (uma cidade sem memória); não temos uma Biblioteca Pública (uma cidade sem livros); não temos uma galeria de arte (uma cidade sem expressão dos artistas plásticos); não temos o fomento das artes em todas as suas expressões. Ou seja, somos uma cidade acéfala de Cultura. E são dois os motivos para isso: não tivemos e não temos um Secretário de Cultura, porque temos um prefeito que acha que o povo só precisa de “pão e circo” e, então, optou por uma trupe única, com malabarista, mágico e palhaços. 

Por: Renilton Pacheco