Os “pés pelas mãos”. Consequências...

Nos dicionários, a expressão coloquial “troquei os pés pelas mãos” nos leva a refletir, pois é uma forma de tentar se justificar de uma trapalhada acidental, de um erro grotesco, pois se justificar perante as pessoas, admitindo que errou, não é fácil para ninguém. E imagino que para as pessoas que se tornaram figuras públicas seja ainda mais, pois, ao ser público, pressupõe-se que tenha também que se postar publicamente em suas ações, palavras e, principalmente, postura. Para os políticos, entendo ser fundamental a explicação, a clareza dos atos e essencial essa postura.
E assim faço a introdução do editorial desta semana, pois a cidade está vivenciando, nos últimos 15 dias, uma situação inusitada, pois está faltando tudo que argumentei acima por parte da classe política local. Afinal, o cidadão itaunense, que vota ou não, tem o direito de ter uma explicação pública e oficial por parte do envolvido na “Operação Rejeito”. Afirmo isso apenas por uma coisa: respeito. E a afirmação vale para os dois lados, pois respeito o direito do envolvido de esclarecer o ocorrido, porque até o momento a comunidade só tem uma versão dos fatos e tudo tem dois lados. E, do jeito que está, quem tira a conclusão é somente o ouvinte. É verdade que, se a situação até aqui é essa, também é por causa dele, o acusado. Então, sem a opção do contraditório, o povo itaunense, na posição de ouvinte, é quem vai avaliar em se tratando do julgamento de caráter, de consciência e, novamente, de postura.
Diante das circunstâncias e antes do embate político por si só, da cobrança partidária e/ou apenas para atacar e literalmente pisar “na cabeça” do cidadão que possivelmente errou, precipitando e indo com muita “sede ao pote”, entendo que isso deva ter uma explicação lógica e clara, e que convença os seus atos, e entendo também que, além da sociedade num todo, principalmente o meio político, tem que refletir. É evidente que as ações jurídicas têm que ser tomadas, como o corte dos recebimentos, já feito, e o afastamento do cargo público embasado na Constituição Federal e na Lei Orgânica, e os prazos dos trâmites têm que ser obedecidos, doa a quem doer. Mas, mais que todas as ações, o que precisa ser feito é o esclarecimento pelo acusado. Não importa se errado ou não, ou se tem a consciência tranquila ou não. É preciso, e com urgência, urgentíssimo, um esclarecimento que seja convincente.
Tenho motivos maiores para não estar trazendo esse assunto à baila, mas é minha obrigação profissional, e que não vou deixar de cumprir. E, assim, acho que, até aqui, o Senhor Hidelbrando Canabrava Neto está errado se ainda não tiver voltado ao Brasil para se apresentar às autoridades competentes, se é que não apresentou. É uma postura de culpado, e isso é uma verdade, infelizmente. Não sei quais são as estratégias de defesa, mas jogar com a Justiça nunca foi um bom negócio para ninguém, muito menos para um jovem político, que ainda pode ter alguma chance de limpar seu nome, por ser jovem.
Mas, antes de tudo, o acusado precisa ter coragem para enfrentar as acusações e não pode tentar sumir, pois não há, num mundo globalizado e interligado, facilidades. Entendo que o momento é de reflexão e ao mesmo tempo de ação, da família do acusado, dos políticos e, mais que isso, dele mesmo. É momento de dar satisfação ao povo. Não vou aqui “crucificar” ninguém, mas é uma questão de postura, de caráter mesmo. A maneira de agir leva a conclusões que podem não condizer com a verdade, mas pode também levar a interpretações que definem o ato por si só.
O que assisti na Câmara Municipal na terça-feira, 7, em relação à situação do até então vice-prefeito não me cheirou bem, entendi que houve e há apenas uma intenção política, pura e simples. Não há manifestações para que as leis sejam cumpridas, e sim para que uma casta política seja extirpada da política itaunense. E vai ser, porque o envolvido e os que estão no seu entorno não têm o interesse de que a verdade venha à tona. E qual é essa verdade? Ora, somente ele, Hidelbrando Neto, sabe dizer. Então tem que ter a ombridade de vir a público, subir no palanque, como subiu na campanha, e, com um microfone em punho, dizer: facilitei, encobri, errei, beneficiei da situação. Ou afirmar categoricamente: não tenho culpa, os culpados são estes, esses e aqueles. Não fiz nada, não compartilhei dessa bandalheira e sou inocente, por isso, isso e isso. Vai conseguir fazer isso? Se não vai, responde pelos atos na Justiça. O amanhã é para todos.
Encerro este editorial, feito a contragosto, se observado o coração e a amizade, mas entendo que, acima de tudo, no jornalismo, está o profissionalismo, e dele não abro mão. E, pensando assim, seria omissão não cobrar do jovem Neto, pessoa que conheci faz pouco tempo, mas que passei a considerar amigo por causa do avô, da avó e da mãe, e pelo seu jeito jovem, dinâmico, trabalhador e com olhar no futuro. Um jovem promissor, que, ao que parece, talvez, pode ter atropelado o tempo por dinheiro, não há como esconder a verdade. Infelizmente.
Ontem, ao puxar o pensamento do dia, na Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, um presente do meu primo Roner Geraldo do Santos, um dos primeiros atos do dia ao chegar à redação do jornal, deparei-me com uma mensagem, uma reflexão, que encaixa muito bem no contexto acima: “ENTENDIMENTO E CONSCIÊNCIA: Entendimento é a capacidade de assimilação e compreensão de algo. Consciência é a atitude de despertar e entender algo não por estudo e pesquisa, mas por um insight, uma visão, um ‘acordamento’ da alma. Por isso, é importante que cada pessoa busque na sua vida ampliar seu entendimento e sua consciência como os dois remos fazem o barco da nossa vida navegar com segurança e progresso. Na linguagem religiosa essas dimensões são chamadas dons do Espírito Santo: o entendimento que nos dá capacidade de discernimento e escolha e a sabedoria que é a luz da nossa consciência e nos une sempre mais profundamente à Luz Infinita. Professor-Me. Carlos Eduardo Xavier – Sorocaba/SP”.