A Cultura relegada a segundo plano

A Cultura  relegada a  segundo plano


Para mim, não é nenhuma novidade, mas, especialmente em Itaúna – que sempre teve uma tradição de polo produtor de cultura e onde os movimentos culturais, na essência, sempre foram destaques na região e até mesmo na nossa capital, com nomes na literatura, nas artes plásticas, na música e no teatro –, o descaso com o setor nos leva a questionar o porquê. E não vou aqui direcionar a “metralhadora” somente para o nosso prefeito, que insiste em relegar o setor a terceiro plano, porque em segundo já faz muito tempo que a administração municipal o colocou, e acho que posso falar que é desde o primeiro dia que assumiu a prefeitura. E assim a única expressão cabível em nossa opinião é: lamentável! 

Quando falo em relegar a terceiro plano é afirmar que não se fez um plano de investimentos para o setor, não se discutiu sequer uma vez com os artistas e os fomentadores culturais quais as intenções, as prioridades e como se fazer um plano de investimentos para transformar as movimentações e os laboratórios de fomento de arte, para que no futuro pudéssemos ter uma sociedade formadora e com o conhecimento de que a arte como meio formador e produtor de cultura é consequência de investimento contínuo nos dois sentidos essenciais, ou seja, o financeiro, o de incentivo constante por meio de espetáculos, cursos, oficinas e, o mais importante, em presença oficial para que as salas de espetáculo, além de cultura e divertimento, sejam locais de formação cultural visando o conhecimento e a valorização da arte e consequentemente do artista local.

Mas, ao que parece, estamos longe de poder afirmar que chegamos a esse estágio, pois sequer temos um secretário de cultura que saiba o que é arte na essência da palavra e muito menos deve conhecer, por exemplo, a história do teatro mundial, brasileiro, mineiro e itaunense, e a sua importância na formação, não só acadêmica, mas também cultural das nossas gerações ao longo das décadas. E se, no “mundo” da cultura e das artes, precisamos antes de tudo da literatura com as suas diversidades em se tratando de abordagem, de construção e olhar, para que tenhamos a narrativa da história da civilização com seus artistas naturais, como os grandes nomes na música, dos romances e das peças de teatro, clássicos do erudito ao popular, passando pelo conhecimento humano e filosófico. E, em função de todas essas abordagens, precisamos apenas de alguns movimentos simples, como a vontade, do olhar e do gesto e, em consequência, da narrativa em prol do conhecimento e da inspiração em multiplicar o conhecimento. E o primeiro passo para isso é fomentar a leitura, pois com ela, consequentemente, podemos multiplicar os outros fatores culturais por décadas e décadas futuras. 

Mas, ao que parece, nessa ilha denominada Itaúna, que já foi considerada Cidade Universitária e Educativa do Mundo, e que desde a sua formação, quando era apenas uma vila, o seu povo demonstrou vocação para as artes em todas as formas de expressão, desde as mais populares até as mais clássicas, e se, desde lá, não temos investimentos importantes do setor público, hoje, além de não se preocupar em incentivar com investimentos, ele ainda se incumbe de destruir o que foi construído ao longo dos anos graças ao esforços dos próprios artistas, para transformar o setor municipal de “cultura” em uma agência produtora de shows e de eventos onde o que importa é montar estruturas com palcos, luzes de LED, bares para venda de cerveja e espaço gastronômico. Esta é a visão de “cultura” dos nossos dirigentes municipais. Mesmo que entendamos que o povo precisa de pão e circo, não podemos ficar calados e admitir que tenham transformado o nosso museu em um bar, em uma choperia, com uma pequena sala para exposição, e muito pouco usada nos últimos meses. E é, diríamos, inadmissível, que tenham acabado com uma galeria para exposições de obras de arte, a galeria Ahmés de Paula Machado, transformada em escritório de uma secretaria municipal. É inadmissível que utilizem a fachada de um complexo que abriga um teatro e espaços para oficinas, e que deveria abrigar uma galeria, para anunciar com letras garrafais: Secretaria Municipal de Cultura. Mais que inadmissível, é de fato lastimável. Mas fazer o quê? Pois tudo é fruto do despreparo, da falta de formação e, mais que isso, da falta de uma visão artística e cultural, pois a cultura só é fomentada se todos participarem.

As colocações acima são para resumir o estado apático do nosso setor cultural, que passou praticamente 7 anos oferecendo peças teatrais patrocinadas por empresas através das leis de incentivo e que, se somadas, não contribuíram muito para o incentivo e a melhoria da formação cultural da nossa população, especialmente a infantil. O que é mais uma vez lamentável. E como se todo este, diríamos, estado de calamidade cultural não bastasse, tivemos que assistir à destruição de livros e o literal desmanche da nossa biblioteca municipal, por causa de uma obra de reforma do prédio onde ela funcionava. E o pior, somos obrigados a ouvir justificativas, que sequer sabemos ser verdadeiras, sobre objetos do museu “desmontado”, que, dizem, estão encaixotados, como as peças do presépio do Senhor Humberto Salera, as vestimentas das Guardas de Congado, as peças antigas, como a máquina de escrever do primeiro jornalista profissional itaunense, o Senhor Sebastião Nogueira Gomide, o Piu, dentre outros objetos, como as cristaleiras da Dona Cota, com seus jogos de chá, e muitas outras peças de valor histórico e patrimonial. Com todo o respeito aos nossos gestores, temos o direito de exigir responsabilidade, dedicação e, mais que isso, conhecimento e trabalho com o nosso acervo cultural, dentre eles, com os livros, os documentos e os objetos históricos, enfim, cumpram com as suas obrigações de preservar, produzir e fomentar cultura, seja ela clássica, popular ou apenas histórica, mas cumpram com as suas obrigações. Por falar nisso, amanhã é Dia Nacional do Livro. Uma boa leitura.

Por: Renilton Pacheco