O inverno de Frankie Machine

O inverno de  Frankie Machine


Frankie Machine está curtindo sua aposentadoria, porque, depois de uma vida de muitos riscos e agitada ao extremo, ele enfim resolveu parar de vez. Nesses últimos anos, tornou-se um empresário bem-sucedido, vivendo onde sempre quis, à beira mar. Trabalhava muito, mas continuava um surfista incorrigível. Dizia que “pegar onda” relaxava mais do que pegar garotas, aliás, essa época já passou há muito tempo, e agora é homem de relacionamento único e está particularmente feliz assim.

Como ele gosta de dizer: “Dá muito trabalho ser eu”. Ficou conhecido por Frankie Machine, no entanto é um carcamano daqueles... “Machine” é apenas a alcunha, apelido dos tempos em que foi homem de confiança da máfia, porque, quando precisava dar fim em alguém, chamava-se o Frankie Machianno, ele era mesmo uma máquina de matar. 

Um dia cansou daquilo tudo e foi embora... e as lembranças das execuções são os fantasmas, que o visitam vez ou outra. Tudo ainda o incomoda, apesar de se orgulhar de sempre ter feito um serviço limpo, isto é, poucas vezes teve que dar mais de um tiro.

O Surf é paixão da juventude e ajuda a manter a forma, sem falar que quando está na água não pensa em mais nada, exceto, é claro, em Donna, ela nem as ondas apagam... e isso não é de seu particular interesse.  

“O Ocean Beach Pier é o maior quebra-mar da Califórnia”. Frank lá se estabeleceu, é proprietário de uma loja de iscas e a instalou longe o bastante do Ocean Beach Pier Café, para evitar incômodo mútuo, por causa do cheiro, e assim poder atender seus clientes sem a reclamação de turistas.

No momento, está particularmente feliz, mora sozinho, e sua casa é sólida o suficiente para ouvir suas óperas logo cedo, e no furo, sem acordar a vizinhança. Hoje, por exemplo, levantou, passou logo a mão no controle remoto e ligou o som para ouvir “La Boheme”. 

Pretende cozinhar, pois adora sua cozinha. Donna sabe que ele cozinha bem e ele também, algo que herdou de seu pai, que como ele mesmo diz: “Minha mãe cozinha bem, mas era meu pai que cozinhava de verdade”. E ele me ensinou. 

Outra qualidade de Frank é que ele sabe como tratar uma mulher, diz sempre que é como preparar um bom molho. É preciso ser paciente, usar a quantidade certa dos temperos certos, cozinhando tudo lentamente até borbulhar.

O romantismo desse descendente de italiano faz com que ele compare uma noite de luxúria com um molho e você nem pense em chutá-lo para fora de sua cama.

A melhor maneira de descrever esse mafioso aposentado talvez seja: “o cara das iscas que decora o seu barracão todo Natal, como se fosse o Rockefeller Center, que se fantasia no Dia das Bruxas e distribui doces para qualquer um que apareça, que promove um campeonato de pesca infantil anual e dá prêmios para todas as crianças inscritas.”

Apesar dessa aparente tranquilidade, Frank é um homem atribulado, também pudera, com quatro negócios, uma ex-mulher e uma namorada para administrar, o jeito é estabelecer uma rotina, porque, sem ela, tudo se torna um imprevisto.

Fim de noite, vai para casa dormir, porque amanhã tudo começa de novo, porém nesta noite será diferente.

Ao chegar, há um carro no beco, um carro que ele não reconhece, é um Hummer, pois conhece os vizinhos e seus carros e ninguém por ali tem um desses, percebe que há dois homens no banco da frente, mais uma vez ninguém da vizinhança. O velho hábito de perdigueiro, sempre muito atento a tudo, nota que não são profissionais, porque profissionais não usariam um carro tão suspeito quanto um Hummer...

Este livro, meus caros leitores, é para quem gosta de um bom thriller, com muita ação e pancadaria no melhor estilo da Máfia. É importante dizer que a escrita do autor Don Winslow nos cativa e prende com amarras junto ao cais e você só largará o livro quando terminar, porque a escalada de ação e emoção é um vislumbre de quem sabe dar com uma mão e esconder com a outra. 

Delicie-se lendo. O bom romance mafioso está de volta.