Neider e sua governança premiada

Neider e sua governança premiada


Não tenho problema em criticar o médico que prefere alopatia, enquanto eu exerço meu direito de abraçar a homeopatia. Mas só posso esperar credibilidade em minhas críticas contundentes, se eu também souber elogiar no dia em que o tratamento do doutor funcionar. 

O prefeito itaunense, Neider Moreira, bateu de frente com a maioria dos itaunenses, os quais votaram em Bolsonaro, nas últimas eleições. Bancou firme seu apoio ao Lula. Até hoje leva porrada por isso. Em segundo lugar, na sua lista de dores de cabeça, tem sido beliscado pelos comentários de quem aposta em sua morte política depois das próximas eleições municipais. Nesse grupo de opositores, estão os naturais grupos concorrentes e suas adjacências. Até aqui, tudo coisa da política. Literalmente são os ossos do ofício. Eu, particularmente, prefiro criticá-lo por outras coisas. Como por exemplo, a compartimentalização que ele faz de seu poder político, dentro do próprio governo e, por consequência, na câmara municipal. Afinal, isso aumenta o risco de explosões de ciúmes, quando as vésperas das eleições precisarem acomodar todos na mesma página. Já dizia o ditado: ciúme de homem é mil vezes pior do que o de mulher. 

Contudo, Neider Moreira de Faria esta semana mandou muito bem. É como se um atleta itaunense fosse para as Olimpíadas e ganhasse uma medalha. Você pode até não gostar do atleta, pode ser um vereador da oposição, pode ter uma ideologia diferente: mas seria estupidez não bater palmas para quem levou o nome da cidade a um ponto que ele seja modelo a ser seguido pelo resto do Brasil. E eu só vou explicar isso aqui, porque acompanhei pessoalmente o episódio aqui em Brasília. A cidade de Itaúna alçou um degrau em razão de um cumprimento de promessa de campanha do prefeito. Algo difícil de ver rápido, porque não é como asfalto novo ou obra grande. Embora seja fundamental para que essas coisas sejam feitas daqui para frente, com menor custo processual e mais qualidade final. O prefeito recebeu o prêmio de excelência em gestão, das mãos da ministra Esther Duek, em reconhecimento do modelo de governança implementada por ele na prefeitura de Itaúna. Somente mais sete cidades no Brasil receberam a honraria.

Mas afinal, o que cargas d’água é a tal GOVERNANÇA e por que ela faz tanta diferença?

Tenho aversão a político ineficiente. Não estou falando de quem pensa diferente de mim ou de quem tem prioridades ideológicas que não são iguais às minhas. A estes, eu ofereço diálogo, respeito e muita dor de cabeça democrática, por meio de argumentos contrários. Sempre tem gente competente do outro lado. Meu asco é direcionado para aquele tipo que só se mantém no cargo por causa do salariozinho e de algumas mordomias. É gente que não entende o mérito público de longo prazo, em contraste com a política de interesse imediatista, como alguns vereadores e outras figuras da fauna política itaunense. Luigi Eunadi, intelectual e ex-presidente italiano, ensinou em sua obra “Il buongoverno” [O bom governo]: “(...) o político não deve ser um mero manipulador de homens; deve saber guiá-los em direção a uma meta e essa meta deve ser escolhida por ele, não imposta pelos acontecimentos mutáveis do do dia que passa”.

Por outro lado, a tal GOVERNANÇA que Neider Moreira conseguiu implementar e por isso ser reconhecido é um conjunto de pequenas “leis” de procedimentos governamentais, combinada com uma definição clara de estrutura de governo e políticas públicas. É um negócio que facilita a transparência e a comunicação entre a sociedade e o poder executivo municipal. Joseph Stiglitz em seu livro “Governance in a Globalizing World”, ensina que governança é um conjunto de processos, instituições e normas que regulam a interação entre cidadãos, organizações e governos. Para Stiglitz, a governança é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, uma vez que ela permite que as regras do jogo sejam estabelecidas de forma democrática e transparente.

Olhando para os números de Itaúna nos últimos anos, o prêmio conquistado por Neider e este conceito complicado de entender se transformam em realidade palpável. Em 2017, antes do atual governo, o PIB da cidade era 3 bilhões de reais. Em 2020, já estava em 3,7 bilhões. E em 2023, a projeção é próxima de 4,9 bilhões. Em termos práticos: isso significa mais emprego, renda maior para as famílias da cidade, maior qualidade nas ruas e demais aparelhos públicos, melhor educação, esporte, cultura e saúde municipais. 

É um negócio curioso: quem comanda a receita não mexeu nos ingredientes, mas organizou a pia, limpou o fogão e criou uma regra única para quem for pilotar o fogão. Resultado comida de qualidade. Ou como escreveu Platão de forma mais rebuscada, em seu quarto livro de Leis: “Onde os governantes fazem o que querem, vejo a ruína. Mas onde eles se submetem aos procedimentos da lei, vejo a salvação das cidades e sobre elas o acumular-se de todos os bens que os deuses costumam conceder às cidades”.