José Maria de Aquino, o Bigode!

José Maria de Aquino, o Bigode!

José Maria de Aquino, o Bigode, recebeu o título de Cidadão Honorário de Itaúna, no dia 3 de novembro de 2014, junto da sua família 

No sábado, 16 de novembro, nos despedimos de um amigo: José Maria de Aquino, o popular Bigode. Nascido em 1941, ele completaria 83 anos em dezembro deste ano. Bigode era o tipo de cidadão que ajuda a construir uma sociedade melhor. Atuante nas causas defendidas pela comunidade, defensor do meio ambiente, distribuidor de cultura, fosse por meio de ensinamentos a quem o abordasse, ou de livros aos amigos. José Maria de Aquino, por muitos anos, escreveu para os jornais Tribuna Itaunense e Folha do Oeste. Foi técnico de futebol e entusiasta praticante e professor de xadrez. Pescador, trabalhador, chefe de família, que gostava de se reunir com os amigos para falar das coisas de Itaúna. 

Defensor intransigente do patrimônio histórico, ficava contrariado ao detectar ação de depredação da história itaunense, como a derrubada de casarões antigos. Prestava atenção a detalhes que a muitos passam despercebidos, como a posição correta de hastear a bandeira itaunense. Amava Itaúna, mesmo aqui não tendo nascido, mais que muitos itaunenses. Por isso, mereceu o título de Cidadão Honorário, conferido pelo vereador à época Nilzon Borges, em 2014. Mais recentemente, emocionou amigos ao cantar o hino de Itaúna para comemorar os 123 anos da cidade, apesar de estar adoentado, frequentando quase que diariamente os leitos do Hospital Manoel Gonçalves. Bigode era um guardião do Rio São João e não se aquietava ao deparar com alguma agressão ao rio, acionando imprensa e autoridades para a defesa daquele curso d’água.

Gostava de jogar e de ensinar xadrez, de pescar, de ler, de conversar com os amigos e de comer “comidas gostosas”, como me falou certa vez. Uma lição que o Bigode nos deixa, dentre as muitas que me confidenciou, é com relação à preservação da memória da cidade. Dentre as várias oportunidades em que o vi em defesa da história e das coisas de Itaúna, um caso em especial me marcou, pela lição incluída na manifestação.

Na época, muitas pessoas falavam em preservação da memória da Companhia Itaunense, mantendo de pé aquela chaminé, no centro da cidade. Bigode me falou que a chaminé não era o símbolo a ser preservado. “Até porque aquilo lá simboliza poluição, fumaça... o que tem que preservar é o apito da fábrica. Ele (o apito) está na memória de todo itaunense que viveu quando a fábrica funcionava. Era o apito da fábrica que informava a hora, que controlava o nosso dia, que anunciava o progresso, a produção, o desenvolvimento da cidade. Quando soava o apito, sabíamos que muitos pais de família, muitas mães de família, estavam chegando para o trabalho, ou voltando para casa, depois de um dia produtivo. Tinha filho que começava a esperar o pai, a mãe, chegar em casa, logo após ouvir o apito da fábrica. Isso é que precisa ser preservado, essas memórias!”, me disse ele. Redigi um artigo sobre o fato, ilustrado pela foto do Bigode, apontando para o apito, na parede, a mostrar o objeto que deveria ser preservado para a história da Cia. Itaunense. Se não me engano, publicado aqui na FOLHA.

Ele era assim. Sabia da importância das coisas e das pessoas. Prestava atenção aos detalhes, expressava a sua opinião sem, contudo, deixar espaço para que a pessoa se sentisse ofendida. E agora está lá, do outro lado, com certeza, a fazer a defesa da família e dos amigos, a interceder por todos, como sempre fez. Obrigado, Bigode, por nos permitir a sua amizade, talvez uma das primeiras que conquistei ao chegar a Itaúna, lá pelos anos de 1984/85. Amizade que uniu as nossas famílias. Fica com Deus, meu amigo!

Sérgio Cunha