APOLINÁRIO e a fantasia dos Unidos da Ponte

APOLINÁRIO  e a fantasia dos  Unidos da Ponte


- Bem pessoal, este ano vamos distribuir as fantasias da bateria neste sábado de carnaval – explicava o maioral Mário Coqueiro para os atentos ritmistas da bateria da Escola de Samba dos Unidos da Ponte. É para experimentar, fazer os ajustes necessários e depois guardar para só vestir à noite, na hora do desfile – reafirmava para o silencioso grupo de quarenta e poucos ritmistas, postados à sua frente. Imediatamente a bela fantasia confeccionada em cetim branco, vermelho e preto, novinha em folha, foi distribuída entre os empolgados sambistas, que não viam a hora de subir a Silva Jardim, tocando e sambando com aquela belezura de roupa. “Vamos abafar”, era o pensamento de todos.                                                              – É, Apolinário, vê se vai direto pra casa e guarda a sua fantasia, qui ocê tá num bafo de que já tomou todas – exclamou o Braguinha para o seu amigo e parceiro, na mais famosa bateria de Escola de Samba de Itaúna. Com a fantasia debaixo do braço, o pacato Apolinário se dirigiu para a sua casa, mas antes, resolveu tomar a saideira em um bar nas proximidades. E toma uma daqui, toma outra dali... o grande ritmista foi se esquecendo da hora e, ao ouvir o samba-enredo da Mangueira de um rádio postado na janela de uma casa próxima ao bar, se empolgou de vez. Tirou a roupa e vestiu a bela indumentária da gloriosa bateria dos Unidos da Ponte. Com os elogios recebidos dos fregueses presentes no bar, se entusiasmou de vez e, eufórico, passou a beber, de bar em bar, todas que tinha direito. Lá pelas tantas, já bastante calibrado, deitou e apagou no meio da pracinha do Bairro das Graças, com os braços e as pernas abertas.                                                                                                                                                     – Mário, ô seu Mário! – Gritou mais de uma vez o Jair da Zirica, que acompanhado do Cidico Bufão e do Braguinha, saíram a procura do maioral dos Unidos da Ponte, para saber o que fazer com o seu ritmista, apagado de fantasia e tudo mais, bem no meio da pracinha do Bairro das Graças às cinco horas da tarde, daquele ensolarado sábado de carnaval. Acompanhado dos seus companheiros, o Mário Coqueiro se dirigiu apressado para o local onde o seu ritmista de surdo de primeira, estava esticado. Fizeram de tudo para acordá-lo, mas o homem, vestido de calça de cetim preto, camisa de manga comprida de cetim branco, colete vermelho e uma saliente faixa vermelha no alto da cintura, estava rígido como um poste. O jeito é carregá-lo – falou o Jair Negrão, com a concordância do Dora da Ponte, que haviam se juntado ao grupo. E lá vai o Apolinário morro acima, com os braços e as pernas abertas, rígido como um poste, carregado pelos companheiros da gloriosa Escola de Samba dos Unidos da Ponte.                                                                                                                                                               – Ué!  – Tá parecendo a procissão do enterro – exclamou a Dunga, quando o cortejo passou em frente à sua janela. Logo atrás, sendo contido por alguns companheiros, o Mário Coqueiro esbravejava: - na minha bateria ele não toca mais! – Ah! – Mas não toca mesmo.............      

                                                          * Membro da Academia Itaunense de Letras