A internet como arma contra a guerra do genocídio

A internet como arma contra a guerra do genocídio


Na guerra fria, o poder nuclear congelou a tomada de ação apocalíptica. Nesta época que se inicia, as redes sociais e a velocidade de suas informações farão este papel. Vale mencionar o curioso contraste entre a idade das redes sociais e da disputa entre judeus e árabes na Terra Santa – cujo início se deu há sete mil anos. Isso mesmo: bem antes do nascimento de Jesus Cristo.

Em 1987, quando o Hamas foi criado, no território palestino, seu estatuto se comprometeu formalmente e claramente com a destruição de Israel e aniquilação dos judeus. Em 2006, o Hamas – que havia realizado duas intifadas sangrentas – ganhou as eleições do Fatah – partido criado por Yaser Araft, que havia tentado a paz com Israel.

As atrocidades cometidas pelo Hamas (que degolou bebês, exibiu estupros como medalha e matou famílias israelenses de surpresa) não foram apenas mais um episódio sangrento na terra santa, disputada por milhares de anos. Tampouco são apenas mais um episódio de intifada pós-1948. E estão longe de serem o estopim de um conflito comparável a disputas como a que ocorre entre Ucrânia e Rússia. O grupo terrorista Hamas, que equivale ao que conhecemos aqui como um partido que ganhou as eleições na Palestina, deu a chance de Israel deixar claro para outras organizações paramilitares que a tecnologia, o mundo árabe, a tensão entre as grandes potencias e o avanço do século XXI não terão mais espaço para tolerar selvagerias medievais ao estilo Estado Islâmico. Ao contrário, a velocidade da internet atual será mola legitimadora de tudo que a Convenção de Genebra nunca conseguiu implementar. Será ela que dará maioria de aprovação popular esmagadora para os EUA manterem de fora da retaliação israelense, uma contraofensiva do Leste. Maior prova: Síria, Líbano, Jordânia e Irã (defensores dos palestinos) demonstram disposição de assistirem sentados ao contra-ataque devastador de Israel e ainda deixam claro que irão segurar o Hezbollah – outro grupo terrorista, ao norte de Israel, ainda mais forte militarmente do que o Hamas.

Guerras podem ser provocadas por disputa territorial, política, religiosa e econômica. Ou, como ocorre na maioria das vezes, por uma combinação de dois ou mais destes ingredientes. Esta guerra, que começou religiosa, se tornou uma bomba política, fragmentada por alas radicais dentro dos dois lados. Não adianta homens da estatura de um Yasser Arafat e um Yitzhak Rabin apertarem a mão em nome dos dois lados. Sempre haverá um grupo que assassinará as pretensões de seu próprio representante bem-intencionado, como o radical judeu que matou Yitzhak Rabin.

Avaliar a guerra do Oriente Médio, protagonizada pelo conflito entre Israel e o Hamas é muito mais complexo do que sentar na arquibancada e torcer para que terroristas matadores de crianças sejam dizimados. Gosto de me lembrar que foi um diplomata brasileiro chamado Oswaldo Aranha a presidir a Assembleia Geral da ONU que votou a importante tentativa de criação pacífica dos Estados Judeu e Palestino – famoso plano de partilha. Isso culminou com a criação do Estado Judeu, em 14 de maio de 1948. 

A posição do Estado Brasileiro, mais que do governo atual, tem bagagem histórica e tradição diplomática para ser útil ao mundo neste momento. A forma de nosso povo historicamente olhar para divergências internacionais pode contribuir para um Oriente Médio com mais justiça, respeito e paz. Repare: a ênfase aqui está na postura do povo. Não dos líderes do povo isoladamente. É sobre a cultura que costurou tanta gente diferente em solo brasileiro que transformou nosso país numa nação pacífica por natureza. A causa não está na subserviência consolidada quando compramos nossa independência da Inglaterra, como gostam de ironizar alguns. Tampouco no nosso histórico sucateamento militar, que sempre abriu espaço para diálogos diplomáticos bilaterais.

Dizem que em 1922, uma disputa por acesso ao Muro das Lamentações gerou um banho de sangue entre algumas dezenas de judeus e árabes – evento batizado como “o ponto sem volta”. Mas antes disso, penso que tem um fato mais relevante para reflexões. Na Torá judaica, há uma pedra destinada para Deus se comunicar com os homens, onde Abel e Cain levaram cordeiro e frutas e onde Abrão ofereceu Isaac em sacrifício. No Alcorão, Maomé seria chamado por Alá na pedra da mesquita mais distante – onde ele sobe em um cavalo alado e vai ao encontro do criador. Essas duas pedras são a mesma – sobre a qual o Califa Abedal Maleque construiu o Domo da Rocha, em Jerusalém. Desde então a adoração coincidente dos dois lados relegou a grande criação de Deus – a vida humana  a insignificância da estupidez de radicais que pontualmente existem dentro dos dois lados, mas são capazes de acenderem a fagulha que vitimará civis, mais do que combatentes militares. Hoje, é uma guerra cujo objetivo declarado do Hamas, atual vencedor das eleições na Palestina, é o genocídio do inimigo. Genocídio significa o extermínio de um povo, incluso civis. Não há vencedor para se torcer. Afinal, após degolar bebês e sequestrar idosos, os terroristas voltam para a Faixa de Gaza e para a Cisjordânia e se escondem em prédios civis, rodeado por eleitores que, embora sejam civis, abraçam o radicalismo e o risco calculado de serem escudos humanos. 

A divulgação das mortes de crianças, famílias e inocentes que choramos nas redes sociais viraram um mandado da Convenção de Genebra (contra crimes de guerra) para a guerra total ao terrorismo. Espero que o governo brasileiro, desta vez, saiba identificar com precisão o que realmente significa ser terrorista.