Dois pesos e duas medidas com os servidores do SAAE

Ir ao estacionamento sem avisar gera inquérito administrativo, mas dormir no serviço só ocasiona alguns poucos “xingos” e mais nada...

Dois pesos e duas medidas com os servidores do SAAE
ETA opera 24 horas por dia, na captação e tratamento de água. Análises de amostras devem ser realizadas durante o dia e à noite pelos operadores. Denúncias apontam que servidores dormiam durante o expediente

A reportagem da FOLHA vem recebendo com mais constância reclamações em relação à gestão do SAAE, especialmente no que se refere ao tratamento dispensado aos servidores. E um dos casos a que o jornal teve acesso às informações, além de caracterizar o péssimo relacionamento com os servidores, ainda aponta para um problema que pode ter sérias implicações com o produto oferecido à população. Consta que os servidores que fazem plantão na ETA – Estação de Tratamento de Água não estão trabalhando durante todo o expediente, o que compromete a continuidade do tratamento d’água, no mínimo. E que, ao serem flagrados dormindo em serviço, apenas receberam alguns xingamentos por parte da gerente do setor e nada mais.

Há mais ou menos duas semanas, após algumas informações, a gerente da ETA, acompanhada de outras pessoas, foi fazer a vistoria noturna na ETA. O local fica fechado à noite, para evitar acesso de estranhos, mas três pessoas deveriam estar trabalhando no lugar: um operador de ETA, um auxiliar de operação e um auxiliar de serviços. Eram por volta das duas horas madrugada, quando deve ser feita uma das análises da água. A gerente e seus acompanhantes chegaram ao local e chamaram pelos funcionários, porém não foram atendidos.

Em seguida, a gerente conseguiu entrar no local e, ao ver a luz do banheiro feminino sendo acesa, estranhou o fato, pois naquele horário só deveriam ter três homens no local. Chegando ao banheiro, ela flagrou um funcionário que havia acabado de acordar. Já no banheiro masculino, outro servidor também estava acordando. Em seguida, o operador descia as escadas do local, também aparentando ter acabado de acordar. Dizem as fontes da FOLHA que a gerente xingou os três e ficou “por isso mesmo”. Ainda conforme as informações, dentre os três, um dos funcionários seria “protegido da administração” e ligado a gerente que é parente da diretora geral do SAAE, conforme servidores.

Falta critério?

O que estranham os denunciantes é que uma simples ida ao estacionamento, sem avisar e sem conseguir permissão da chefia, já caracteriza a abertura de um inquérito administrativo, conforme denunciam. Já teve caso de abertura de inquérito até mesmo contra servidor que estava em licença médica. Porém uma falha como essa, em que os servidores responsáveis pela operação da ETA estavam dormindo, em vez de trabalhar, gerou apenas alguns xingamentos e nada mais. Onde estão os critérios de gestão? Questionam.

Inclusive, apontam para o problema de que “este pessoal estar dormindo em serviço pode ser uma das causas da falta de água, já que a ETA não estaria sendo operacionalizada enquanto os responsáveis dormem”, afirma uma fonte da FOLHA. Outro problema apontado é que, conforme ocorreu na ocasião, o horário é para se fazer uma análise da água, o que parece, não foi feito. Assim, se ocorreu algum elemento de contágio da água oferecida aos itaunenses, não se soube, porque os operadores estavam dormindo quando deveriam estar trabalhando.

Clima de medo impera

Todas as pessoas que se dispuseram a falar à reportagem pediram, encarecidamente, para que não tivessem seus nomes revelados, por medo de serem punidos. Além dos inquéritos administrativos que são instaurados pelos mais simples motivos, já ocorreram casos de exoneração, conforme denúncias, de quem se dispôs a questionar as práticas da atual equipe administrativa. Impera no SAAE, conforme as denúncias, um clima de tensão e medo constantes. Algumas pessoas, ligadas aos administradores da autarquia, estariam atuando como “espiões”, prontos a delatar qualquer atitude que não seja do agrado da chefia.

Profissionais de reconhecida capacidade técnica estão afastados de suas funções porque não se renderam às vontades dos mandantes, conforme denunciam nos corredores do SAAE. “Quem se atreve a contestar esse estado de coisas está correndo risco de exoneração, quando não de demissão direta, no caso de contratados”, disse uma outra fonte. E adianta que para ter mais facilidade de empregar esse terrorismo nos servidores é que não realizam concurso público no SAAE, nem na Prefeitura. “Só contratam por processo seletivo, para ficar mais fácil de manter o domínio sobre as pessoas. Enquanto isso, vão acabando com o SAAE, que já foi referência de qualidade técnica no estado e hoje é exemplo de ineficiência, incompetência e falta de qualidade”, desabafou um servidor. Pedem ação do sindicato para apurar e denunciar esses problemas junto ao Ministério Público, se necessário, pois, além da questão com os servidores, existe também o fato de estar faltando água em toda a cidade e, agora, falhas até no serviço de análise da água ofertada, com funcionários dormindo enquanto deveriam estar trabalhando. “Façam alguma coisa urgente, antes que acabem com o SAAE”, apelou um funcionário.

Foto: Divulgação SAAE