HOSPITAL - “O outro lado da moeda”
Custo de manutenção é um sério problema: “Invisto R$ 1 milhão para faturar R$ 2 milhões, mas recebo apenas R$ 600 mil...”
Mais uma vez, a questão do custo de manutenção do Hospital “Manoel Gonçalves” é um problema que precisa ser encontrada solução, já que o “Manoel Gonçalves” é o único local para o atendimento aos itaunenses, que, queiram ou não, têm que ir para lá. A crise financeira do Hospital de Itaúna é de longa data, existe há décadas. Passam-se os anos, anunciam soluções, mas a crise permanece e a saúde do itaunense continua sendo atingida por notícias assustadoras, inclusive, com possível fechamento da unidade hospitalar. Como novamente existe um impasse em relação ao relacionamento do Hospital com o poder público, com relação à necessidade de repasses de verbas, a reportagem entrou em contato com o provedor da Casa de Caridade, Antônio Guerra, que esclareceu alguns pontos da situação.
O contato se deveu a partir de informações levantadas pela reportagem de que a instituição conta com cerca de mil funcionários, sendo que destes entre 250 e 300 são médicos, e que algumas pessoas recebem salários consideravelmente altos. Conforme essas informações, pessoas que trabalham na Casa de Caridade receberiam salários em torno de 15 a 20 mil reais mensais. De imediato, o provedor negou este fato. Disse Antônio Guerra que a informação não é real e que apenas duas pessoas do corpo administrativo do Hospital teriam salários em torno dos R$ 10 mil mensais. Mas a reportagem tem informações de que uma funcionária recebe R$ 14.000,00/mês. “A maioria dos técnicos recebem salários que vão até R$ 5 mil. Inclusive, isso é um problema para o Hospital, que tem imensas dificuldades de contratar profissionais quando é necessário”, disse.
A administração de um hospital não é simples
Concordando com a afirmação de algumas pessoas de que “o hospital é um saco sem fundo”, Antônio Guerra passou a explicar algumas situações: “Um leito de CTI, por exemplo, necessita de quatro enfermeiros, senão não pode funcionar. Isso não somos nós que definimos, é a legislação da área da saúde e, se não for assim, não temos como mantê-lo”, disse. Sobre a questão das cirurgias, conforme disse o provedor, “não pode ser realizada por um médico apenas. Por mais rápida que seja, são necessários dois médicos. O que se alega é: e se o médico que está realizando a cirurgia passar mal ou, por algum problema, não puder continuar o procedimento? O que se faz? E isso não somos nós que definimos, isso vem determinado lá pelo Ministério da Saúde”, comentou.
Para exemplificar o dia a dia do funcionamento do Hospital, Antônio Guerra citou uma ocorrência de trânsito. “Acontece um acidente e quatro pessoas são feridas gravemente. Elas são trazidas para o Hospital, e se não tiver profissional suficiente para este atendimento?”, questiona. Assim, passa o entendimento de que a administração do Hospital não é como o de uma loja, por exemplo, que se contrata pessoas com o aumento da demanda. Em um hospital é necessário já ter o profissional à disposição, se acaso surgir a demanda. E, exemplificando a questão do acidente de trânsito, é necessário lembrar que Itaúna é cortada por duas rodovias estaduais (MGs 431 e 050) de grande movimento e está próxima de duas rodovias federais (BRs 262 e 381), com ainda maior fluxo de trânsito.
Nas comparações apresentadas pelo provedor para explicar a necessidade de um grande contingente de profissionais, é necessário lembrar, por exemplo, do período de pandemia da covid-19, quando o Hospital conseguiu atender a toda a demanda. Porém é necessário também lembrar que, em determinados momentos, o corpo de funcionários do Hospital esteve próximo da exaustão. Guerra explicou ainda que, conforme as regras administrativas da área da saúde, para cada 10 profissionais, é necessário, em média, um supervisor ou coordenador. E afirmou que, “na administração de um Hospital, não somos nós que definimos quantos profissionais precisamos contratar e nem quanto podemos pagar a cada um deles. As normas de funcionamento estabelecem o quantitativo de trabalhadores e o mercado define o salário a ser pago”, informou.
Reduzir funcionários não é fácil
Logo no início da reportagem, o provedor informou que, assim que se dispôs a assumir a direção do Hospital, dada a sua larga experiência administrativa, tanto no setor financeiro quanto em pesquisas feitas em variados setores, pensou em enxugar o quadro de trabalhadores como uma opção para enfrentar a crise financeira. Essa seria uma medida prática que se toma no mercado diariamente. Porém, conforme as informações de Antônio Guerra, “não é bem assim”. E acrescenta que a “engenharia” estabelecida no mercado de saúde leva à seguinte situação: “Invisto R$ 1 milhão para faturar R$ 2 milhões, mas recebo apenas R$ 600 mil”. Essa é a realidade que se vive, atualmente, nas unidades de saúde filantrópicas, com é o caso do Hospital “Manoel Gonçalves”, de Itaúna.
E, além da exposição feita em relação à necessidade dos profissionais, que é definida pelas regras do Ministério da Saúde e dos demais órgãos fiscalizadores, essa situação se estende aos insumos, aos equipamentos, enfim, à estrutura necessária para que o Hospital funcione. Imagine a situação de um paciente recebendo soro e, de repente, acaba o soro. O que fazer? Esperar até que chegue uma nova remessa, por que nesta semana uma crise de saúde exigiu mais deste medicamento à disposição?
A questão política e uma saída possível
Coincidentemente, nos últimos dias, tem sido debatido, em bastidores do mundo político, a questão da necessidade de se acabar com as verbas impositivas, com os “orçamentos secretos...”. Conforme o debate, com a liberação de verbas para o Legislativo, o governo deixa, por exemplo, de atualizar a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde), que é o que remunera o atendimento médico Brasil afora. Assim, as verbas que são repassadas por meio de deputados, senadores e, agora, até por vereadores (nos municípios) atuam para “cobrir rombos, amainar crises”, que na verdade são criadas pela falta de recursos lá na ponta.
Se um hospital filantrópico está atravessando uma crise financeira porque, com o serviço que presta, não consegue arrecadar o bastante para se manter, surge um deputado, um senador e, agora, um vereador e faz a indicação de uma verba para “cobrir esse rombo”. Se a verba fosse destinada dentro do orçamento, por exemplo, para a atualização da tabela do SUS, o hospital filantrópico receberia pelo serviço prestado o suficiente para se manter e não necessitaria do “socorro do político”, apontam os críticos.
Mas, enquanto o País repassa, anualmente, R$ 50 milhões para cada um dos 513 deputados distribuírem em emendas parlamentares, a tabela do SUS está há mais de uma década sem correção de valores. Por ano, somente de emendas parlamentares, incluindo as impositivas, são liberados cerca de R$ 50 bilhões para o Congresso. Esse recurso seria mais que o suficiente para a correção da tabela do SUS, remunerando adequadamente o serviço médico prestado e colocando um fim às crises por que passam, por exemplo, os hospitais filantrópicos. Mas a “engenharia” de passar a solução para os políticos com mandato garante votos...
Solução imediata passa pelos cofres municipais
Assim, a solução mais imediata é a Prefeitura continuar fazendo repasses, mesmo que “o Hospital seja um saco sem fundo”, conforme opinião de algumas pessoas. A realidade é que Itaúna só tem um hospital e é para lá que, no momento de urgência, todo itaunense tem que ir, mesmo que seja somente para ser estabilizado e garantir a remoção até um “hospital de ponta”, o que é o caso de apenas alguns. A população, no geral, depende do Hospital.





