O Bloco Fúnebre do Carnaval de Rua de Belo Horizonte
No novo livro que estou escrevendo, sobre os “Blocos de Rua do Carnaval de BH”, têm surgido histórias interessantíssimas durante os trabalhos de pesquisas para levantar as histórias de cada bloco. Belo Horizonte possui hoje o quarto mais animado Carnaval de Rua do Brasil, só perdendo para Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, com 612 blocos que desfilam no Centro e nos bairros da capital mineira. Em BH, a folia inicia 15 dias antes do carnaval oficial e termina 15 dias após, conforme dados da BELOTUR. Nas pesquisas que tenho feito, uma das coisas mais interessantes é a origem do nome de cada bloco. Por exemplo: no Bairro do Barreiro, desfila o famoso “Bloco Esperando o Metrô”, que nada mais é que uma crítica ao poder público, por estarem, os moradores, há trinta anos, esperando a construção da linha-2 do metrô de BH até o bairro. Outro bloco com nome interessante é o “Bloco do Padreco”, que desfila no Bairro Padre Eustáquio, cujo apelido entre os moradores é Bairro do Padreco. Antes do desfile, o bloco se concentra em frente à famosa paróquia do bairro. No Bairro California, desfila o “Bloco Garota eu Vou Pro Califórnia”, que é uma referência do bairro à música de Lulu Santos e Nelson Mota “De Repente Califórnia”.
Hoje eu vou contar a história do “BLOCO FÚNEBRE”, fundado em 2013, pelo folião Violeo Lima, e que arrasta mais de 70.000 foliões pelas ruas de BH. O lema do Bloco é: “Enterrar a tristeza e ressuscitar as alegrias”. Para se ter uma ideia, os patrocinadores do bloco são dois cemitérios crematórios que também oferecem aos seus foliões um desconto de 50% em seus serviços funerários. Apesar da proposta nada atrativa, os descontos já foram utilizados várias vezes ao longo desses anos. Na sexta para sábado de carnaval, os 70.000 foliões do bloco se concentram na Praça da Bandeira, no alto da Av. Afonso Pena, iniciando o desfile pontualmente às 23h59 (um minuto antes da meia-noite), até a Praça da Savassi, ao som de sua bela marchinha, com letra e música de autoria de Violeo Lima, bem como marchinhas, sambas e músicas de sucesso nacional.
Um dia eu também vou
Você vai e todos juntos
Daqui vivo ninguém sai
E nesse dia eu vou
Você vai e todos juntos
Vamos pro mesmo lugar
Bloco Fúnebre, Bloco Fúnebre
Ai, ai tristeza, nós vamos te enterrar
Bloco Fúnebre, Bloco Fúnebre
A alegria vamos ressuscitar....
Na frente do bloco vai um carro alegórico transportando um enorme caixão abarrotado até na tampa de latas e mais latas de cerveja, à disposição dos foliões, a maioria fantasiada de caveira, mortos vivos e assombrações. A cada ano, eles apresentam um tema. Em 2025, foi “Morte e Vida Severina”. Em 2021, criaram uma sede, CASA FÚNEBRE, bem em frente a um dos maiores cemitérios de BH, o Cemitério da Saudade, para ser utilizado para ensaios da bateria, oficinas para formação de novos ritmistas, confecção de adereços, reuniões da diretoria etc. Durante quase quatro anos, a Casa Fúnebre foi utilizada duas ou até sete vezes na semana, dependendo da proximidade do carnaval, para ensaios da bateria, escolinha para formação de novos músicos e reuniões, sempre ao som de marchinhas e belos sambas de sucesso nacional. No final de 2024, o proprietário do imóvel, mesmo com uma boa contraproposta, não quis renovar o contrato de aluguel com o bloco carnavalesco. Semanas depois, o Léo e a Flávia, diretores do bloco, ficaram sabendo que, temendo a desvalorização do imóvel devido ao disse me disse e os fuxicos que corriam de boca em boca pelo Bairro da Saudade, onde fica o famoso cemitério, sobre assombrações, almas penadas e até esqueletos, que saíam altas horas da noite de suas sepulturas para brincar de carnaval no interior da casa alugada, alguns até fantasiados, ele resolveu encerrar o contrato, apesar do ótimo valor do aluguel pago em dia.
*Membro da Academia Itaunense de Letras





