Vereadores apresentam um show de horrores em plenário
Espaço que deveria ser usado para tratar de assuntos sérios vira circo eleitoreiro em busca de likes. Vereador Kaio arma um circo e acaba caindo do trapézio
Se tem uma palavra que pode resumir a reunião da Câmara de Itaúna na terça-feira, dia 18, esta palavra é “ordinária”. Sim, em relação ao sentido neutro da interpretação, quando se quer definir a motivação do encontro; quando no sentido pejorativo. Neste mais ainda, porque a reunião da terça-feira foi um amontoado de definições pejorativas ocorrendo em um mesmo espaço. Tudo isso porque se aproxima a eleição de deputados de 2026 e terá alguns dos edis locais na disputa de voto, não porque vislumbram a possibilidade de eleição, mas, sim, porque pretendem alavancar seus nomes para situações futuras, como uma candidatura a prefeito. E isso porque um vereador pode ser candidato a deputado e exercer o seu mandato ao mesmo tempo, recebendo salário e benefícios pagos com recurso público. Uns até tendo assessores de marketing produzindo mídias para eles, sendo mantidos em cargos públicos, ou seja, recebendo dinheiro do povo. Mas este é um tema para um próximo debate. Tratemos, pois, do show de horrores da reunião da terça-feira, 18.
Tudo começou com um vídeo apresentado pelo edil Kaio Guimaraes sobre uma visita da ex-vice-prefeita e atual secretária de Desenvolvimento Social, acompanhada de uma pessoa que dizem ser advogado, a gabinetes do prédio do Legislativo. Com isso, o vereador quis afirmar que ela estaria “conduzindo” votos de vereadores colegas seus, no sentido de isentar o vice-prefeito, que é filho da secretária, das acusações de abandono de cargo. Em ação de marketing “espetaculoso”, como afirmaram alguns vereadores, Kaio estaria aproveitando a oportunidade para se colocar na mídia e, assim, obter ganhos eleitorais em 2026, quando pretende se candidatar a deputado, como já anunciado. A iniciativa teve imediato repúdio de vários vereadores, a começar por Alexandre Campos, que rebateu o colega e perguntou até se este seria “filho de chocadeira”, repetindo a frase por três vezes. Afirmando outras questões alusivas ao comportamento do colega de plenário.
Em seguida, Wenderson da Usina argumentou que a iniciativa do vereador Kaio seria no sentido de garantir mídia, que estaria agindo como “aluno de quinta série”, impingindo acusações a edis que discordaram do rito escolhido pela Mesa para lidar com o caso da possível cassação do vice-prefeito. Rosse Andrade foi outro que, irado, rebateu Kaio Guimarães e exigiu respeito. Em alusão à pregação religiosa de Kaio, Rosse o denominou como “pastor do capeta”, disse que o vereador estava “agindo como moleque” e exigiu que, ao acusar, que apresentasse prova.
Presidente tenta explicar seus atos
Em defesa da liberação do vídeo ao edil Kaio, Antônio de Miranda disse que agia “dentro da legalidade” e acabou batendo boca com Alexandre Campos, perdendo completamente o controle da reunião, aliás, o que tem ocorrido com certa constância. Wenderson, por sua vez, foi duro em relação às críticas ao presidente, apresentando argumentações consistentes de que “falta liderança, falta comando” na condução da Câmara, com a atual direção.
O problema se estendeu após a reunião, quando as câmeras de vídeo do circuito interno já estavam desligadas, mas dentro do plenário, quando Wenderson levou o dedo na cara de Kaio, só não terminando em agressão física porque outros vereadores interviram para evitar o pior. Já o vereador Gui Rocha, nas suas redes sociais, desancou o presidente da Câmara com acusações sérias. Inclusive, sobre gastos com publicidade.
Gui Rocha disse que a Câmara já gastou R$ 160 mil neste ano com a imprensa, o que acendeu um alerta na imprensa local, que, somando as publicidades já liberadas para a imprensa da cidade, chega-se no máximo à soma de 50, 60 mil reais. É preciso, inclusive, que o vereador apresente provas deste gasto, onde foram parar cerca de R$ 100 mil. E também incluir nesses “gastos” o contrato com a televisão e a manutenção de funcionários pagos com dinheiro público, enquanto mantém sites de informações nas redes sociais para beneficiar determinados políticos.
Uma acusação que ficou registrada, ainda, por parte de Gui Rocha é que o vereador “Kaio Guimarães é quem manda na Câmara”. Na fala de Gui Rocha, ele deixa subentendido que Guimarães tem exercido o comando da Casa nos bastidores. “Será que Kaio tem alguma coisa que possa impor condições ao presidente?”, é a leitura que se pode tirar de sua fala.
Também relata que um vereador mostrou “áudio que pode complicar a vida” de outro vereador. Isso reacende a questão de que, mesmo sabendo de irregularidades, tem vereador que não atua como deveria, denunciando esta irregularidade, o que caracteriza, pelo menos, crime de prevaricação, pelo menos.
Como a FOLHA vem alertando faz meses, o circo de horrores foi armado e parece que vai continuar em cartaz no prédio da Avenida Getúlio Vargas, 800, pelo menos até após as próximas eleições. Curiosamente, o ocorrido na reunião da terça-feira, 18, na Câmara vem comprovar o que foi colocado em uma charge da FOLHA, e exibida pelo vereador Wenderson, durante as suas alegações em relação à postura de Kaio e da Mesa Diretora.
Vídeo do pó-de-mico volta à baila
Um outro fato que demonstra o quanto está bagunçada a relação dos vereadores da atual legislatura, entre si, com a imprensa e com a população em geral, ocorreu nos bastidores. Após o vereador Antônio de Miranda afirmar que liberou as imagens do “pó-de- mico” – em que supostamente Kaio e assessores teriam colocado o produto na maçaneta da porta do gabinete edil Gustavo Dornas – para o vice-presidente, ocorreu uma situação hilária. Após a reunião, Gustavo Dornas entrou esbaforido na sala do café dos vereadores, questionando Antônio de Miranda por ter informado que liberou o vídeo pra ele.
“Pô, Tõezinho, agora o Renilton vai saber que eu tenho o vídeo!” Pois, é. Agora nós sabemos. E aí, Gustavo Dornas, vai contar a verdade sobre o ocorrido? Tem gente falando que a servidora atingida pelo ocorrido teve de assinar um documento afirmando que “tudo não passou de brincadeira”. Será que esse documento também existe? É válido? Ou seria uma prova de coação que pode até gerar indenização à servidora, no futuro? E, encerrando, além de um circo de horrores, a reunião da terça-feira só pode ser resumida de uma forma: o vereador Kaio armou um circo e caiu do trapézio, para delírio da plateia... Plateia? Qual? Os outros palhaços em plenário.





