O mapa e o tabuleiro II: as eleições do ano que vem
Em tempos de preparação para as eleições de deputado em 2026, quase tudo que os vereadores de Itaúna têm feito parece estar ancorado nesse horizonte. Isso já se tornou parte da lógica nacional, estruturada por um modelo eleitoral que estimula disputas a cada dois anos. A reflexão útil está menos na constatação e mais no modo como cada um tem caminhado por esse percurso.
A política é feita de lições íntimas. É feita de erros que não aparecem em ata e vitórias que ninguém aplaude. Há um círculo invisível: o que se faz antes do gesto visto por todos, o que sustenta o poder, o que ordena o jogo silencioso.
Nesse círculo, quem tenta brilhar além do necessário perde luz. A hierarquia nasce da densidade simbólica no tabuleiro e não do cargo. Chefes partidários influenciam porque compreenderam esse território. A disputa oculta por comandar uma legenda existe porque muitos ainda subestimam esse mecanismo. O político que percebe essa dinâmica ajusta sua entrada em cada ambiente. Movimentos que chegam com firmeza e sobriedade encontram espaço. A pressa tende a deformar o próprio tamanho de quem se apresenta.
O convívio cotidiano do tabuleiro produz relações confortáveis e, com elas, zonas cegas. Relações tensas revelam pontos que muitos evitam mencionar. É um território sutil. As pontes decisivas surgem em lugares inesperados. Há momentos em que um adversário apresenta uma leitura mais lúcida que a de um aliado. Cada vínculo cumpre uma função no tabuleiro e cada encontro modifica a compreensão do jogo.
Existe também o mérito do indispensável. Esse mérito nasce da utilidade concreta. A pessoa que conhece os caminhos, entende o fluxo das decisões e orienta os outros em meio à confusão se transforma em referência. Itaúna reconhece quem resolve. A presença adquire gravidade própria que sustenta influência sem espetáculo.
Num ambiente marcado por máscaras, chama atenção o modo como políticos experientes exibem mais autenticidade que muitos entrantes. Uma verdade colocada no momento adequado abre portas amplas. Essa franqueza se torna instrumento de aproximação. A confiança se forma quando alguém percebe genuinidade nas pequenas entregas. Muitos desentraves nasceram desse ponto. E quase todos os que se tornaram duráveis começaram assim.
Há quem escolha o isolamento como forma de escapar do desgaste. Os temas que ocupam o centro da atenção pública se transformam continuamente. A proximidade e o engajamento revelam sinais que antecedem os conflitos, assim como histórias que não passam por canais formais. É importante caminhar por onde a vida real acontece.
No convívio, a forma molda o conteúdo. Ler o ambiente, ajustar o tom e reconhecer o momento de cada fala transforma encontros comuns em ferramentas de construção política. A sensibilidade para gestos discretos fortalece vínculos. A educação atua como força silenciosa que sustenta o diálogo.
A política também depende de imaginação. A cidade vive de símbolos, memórias compartilhadas e expectativas que circulam pelas conversas do cotidiano. Quem compreende esse imaginário atua com mais clareza. A interpretação das aspirações coletivas deveria ter muito peso nas decisões. Ainda assim, muitos se perdem: o jogo de poder limitado engole toda a perspectiva.
No fim, tudo retorna ao essencial: coração e mente. A política alcança consistência quando toca essas duas esferas. O afeto sustenta lealdades duradouras. A lucidez estrutura decisões responsáveis. Quem alcança ambas constrói algo que ultrapassa a pressa do calendário eleitoral.
O tabuleiro muda com frequência. O jogo permanece. Quem se move nesse círculo invisível, preservando a própria alma, descobre que o poder real se forma no gesto que antecede todos os outros. É nesse gesto que Itaúna reconhece quem está pronto para liderar politicamente.
Por Rafael Corradi Nogueira





