Por “ângulos diferentes”

Por “ângulos diferentes”


Nossa manchete nesta edição traz um assunto que é de interesse público e acaba por envolver toda a população, sem distinção, pois todos usam as vias públicas de uma forma ou de outra e, no final, é no bolso que o reflexo vem, independente de como, pois o dinheiro é do povo e de que maneira ele vai parar nos cofres públicos não importa, pois o que importa mesmo é como ele está sendo ou vai ser usado em prol da população, e essa é a discussão que pretendemos aqui. 

O governo municipal optou por instalar câmeras, ou os populares “pardais”, em ruas e avenidas em vários locais na cidade para monitorar o trânsito e coibir os avanços de sinais e a velocidade dos veículos, sejam eles de quatro ou duas rodas. Num primeiro momento, entendemos que em determinados locais é mesmo necessário esse monitoramento, mas na maioria dos cruzamentos não há uma sinalização explicativa eficiente. Pelo menos foi o que observamos, quando resolvemos percorrer os locais onde instalaram as câmeras “contratadas” de uma empresa particular. Ou seja, estão pagando pelo “aluguel” das câmeras e o processamento das multas, que já começaram a ser publicadas no Diário Oficial do Município, que é editado somente no formato digital, inclusive, contrariando lei federal, que exige as publicações no formato impresso, também. Mas Itaúna é ímpar, como já sabemos.

Mas o fato é que, segundo os levantamentos e as informações recebidas na redação, os serviços de monitoramento de trânsito via câmeras, terceirizados e caros, pretendem atingir um volume de cerca de um milhão de reais/mês em multas. E, assim sendo, o prefeito estaria rindo à toa, pois é muito dinheiro para investir no trânsito, que engloba, além da sinalização, melhorias nas pistas. Os seja, é muito dinheiro. E, assim sendo então, quem vai literalmente “pagar o pato” é o cidadão comum. Por um lado, concordamos que algo em se tratando de monitoramento precisava ser feito, pois os abusos dos motoristas estavam incontroláveis, principalmente dos que pilotam motocicletas. Avanços de sinais, velocidade excessiva e, pior que isso, desrespeito às sinalizações, com um resultado evidente: acidentes constantes, o que tem como consequência mais gastos em outro setor, que é o da saúde. Com o número excessivo de acidentes, o nosso único hospital gasta muito mais, principalmente no plantão, onde, evidentemente, os acidentados chegam primeiro. O atendimento emergencial é obrigatório. Depois, a sobrecarga, na maioria das vezes, continua nas alas de internamento e até no CTI. Ou seja, as consequências dos abusos no trânsito acabam por atingir a todos. 

Mas, por outro lado, a população não pode ser literalmente “espremida” em relação ao trânsito, pagando multas para “encher” os cofres públicos. Um trabalho educativo a longo prazo seria mais produtivo, e o dinheiro do cidadão seria melhor empregado. Mas o fato é que o número de veículos, sejam de quatro ou duas rodas, aumentou muito, assim como a cidade também mantém um ritmo de crescimento constante, o que produz mais vias públicas em bairros cada vez mais distantes e avenidas de interligação cada vez mais movimentadas. Assim se faz necessária uma fiscalização mais efetiva e que produza (mesmo que literalmente atingindo o bolso do cidadão) mais efeito no trânsito. Não discordamos, mas, por outro lado, também não podemos admitir que o cidadão “pague o pato” por um serviço que não foi amplamente divulgado e que sobre ele não tenha sido feito um trabalho mais amplo de educação, por exemplo. É preciso mais divulgação e de todas as maneiras possíveis. Essa é nossa opinião. E o dinheiro que está sendo arrecado é para isso também. O motorista precisa estar ciente dos locais, das velocidades e dos motivos. É direito dele. Isso não foi feito de forma ampla e contundente.

E nós da imprensa gostaríamos, ou melhor, queremos uma prestação de contas do Município, tanto da arrecadação, como do direcionamento e do uso dos recursos, mais constante e ampla. Essa coisa de afirmar que o Jornal Oficial é o suficiente e que “estamos cumprindo o que determina a lei” é uma forma de fugir das explicações que podem surgir, inclusive, por parte do Legislativo e do Ministério Público.              

Enfim, como já frisamos algumas vezes, aqui mesmo nesta coluna, Itaúna é ímpar. E aqui, como em qualquer outro lugar, existem questiúnculas que, às vezes, não são bem explicadas, mas existem, também, posicionamentos que, na maioria das vezes, além de equivocados, não deixam margem a qualquer tipo de interpretação. Achamos que o Senhor Prefeito precisa exigir que seu setor de trânsito dê mais explicações aos cidadãos, que são quem literalmente “bancam” toda a estrutura pública. E, além disso, ele mesmo, o Senhor Prefeito, deveria vir a público para explicar os motivos, além dos técnicos, que o levaram a decidir por encher a cidade de “pardais”, que são verdadeiros caça-níqueis. 

É preciso ficar registrado que, além de serem moralizadoras do trânsito, as câmeras são instrumentos para uma “indústria da multa”. Quanto a isso não há nenhuma dúvida. O que temos na cidade hoje é uma indústria, patrocinada pelo governo municipal, que prefere arrecadar do que ensinar o cidadão, usuário do trânsito urbano. Para encerrar, segundo informações de bastidores, as contas indicam que serão centenas e/ou milhares de reais arrecadados mensalmente. Esperamos então, que esses recursos sejam revertidos para o cidadão em mais condições para o tráfego, melhor atendimento e estrutura no pronto-socorro, que é para onde vão os envolvidos em acidentes em vias urbanas; e, principalmente, que a destinação dos recursos seja mesmo para o cidadão e não fique para as empresas terceirizadas e/ou para outros fins, inclusive os eleitoreiros...

Por Renilton Gonçalves Pacheco