“Para Inglês ver...”. E em dose dupla

“Para  Inglês ver...”.  E em dose dupla


Na terça-feira, dia 14, o que assistimos na Câmara resume-se nesta frase popular, comum no início do século passado: “para inglês ver”. Afirmamos isso em relação ao projeto contratado pela prefeitura por R$ 86 mil e apresentado pela empresa responsável, a Enjeta de Belo Horizonte, para solucionar os problemas relativos ao volume de água que desce no canal da Avenida Jove Soares, ou no córrego do Sumidouro, até o Rio São João, para solucionar a questão das enchentes que, ano após ano, invadem comércios, empresas, residências e, na última delas, no início do mês, arrastou carros, móveis e utensílios diversos, causando prejuízos calculados em mais de 2 milhões de reais.

Sinceramente, defino a apresentação feita aos vereadores, até então, como uma utopia a curto prazo e, a longo prazo, nem sabemos se é possível a realização do projeto, devido à capacidade de endividamento do Município, pois as nossas dívidas a longo prazo já atingem altos índices. Mas, mesmo que os próximos prefeitos tentem realizar algum financiamento para começar a obra ou mesmo busquem recursos de outra forma junto aos governos federais e estaduais, as dificuldades serão muito grandes. E, além da questão recursos, há os problemas técnicos que incluem o processo licitatório que requer prazos e o cronograma de realização, pois é uma obra complexa em se tratando de mobilidade urbana, pois será em uma das nossas principais avenidas, que tem um comércio intenso e é ligação entre bairros e a área central.

Além desses aspectos, o que conclui até aqui é que o prefeito optou por dar uma satisfação aos vereadores e, consecutivamente, aos moradores e comerciantes do logradouro, que se organizaram em grupo e já falam em providências jurídicas caso a administração municipal não mostre algum movimento para tentar resolver minimamente os problemas. O nosso prefeito, que já afirmou para vereadores e para outros políticos e técnicos do município que esse problema é do próximo prefeito, não vai fazer nada, pelo menos esse é o meu entendimento. Posso estar enganado, pois pode ocorrer pelo menos uma intervenção paliativa no final da avenida, no quarteirão que se inicia na Rua Manoel Correa e vai até o leito do Rio São João, com a abertura do canal e a limpeza total do córrego, começando próximo ao açude em frente ao prédio da prefeitura, atingindo toda a sua extensão. Essas duas intervenções precisam ser feitas e com urgência, nos próximos 60 dias. E aí fica a pergunta: será?

O fato é que essa conversa de que “estamos buscando recursos a fundo perdido junto ao governo federal” é conversa para “inglês ver”, pois é muito difícil e as prioridades são cidades dos estados que estão sofrendo com os tufões, como em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e os estados do Norte e Nordeste que sofrem com a seca e o fogo. Para Minas não vai sobrar recursos a fundo perdido, muito menos para Itaúna, que é uma cidade privilegiada em se tratando de arrecadação e qualidade de vida. Então é trabalhar em função de usar recursos próprios e ou buscar mais empréstimos, e aí todos sabem quais as consequências, pois já estamos endividados, como diriam popularmente, “até o pescoço”.

Outra coisa que o itaunense, principalmente o eleitor, deve ficar atento é em relação aos aproveitadores políticos. Já tem vereadores tentando tirar proveito da situação com a conversa para “inglês ver” de que vai trabalhar junto aos seus aliados deputados federais e estaduais para buscar recursos para as obras na Jove Soares. Tudo conversa fiada, pois os deputados têm verbas definidas e que são fatiadas para os seus currais eleitorais de forma bem elaborada, ou seja, depende da quantidade de votos que os seus cabos eleitorais garantiram e podem garantir nas próximas eleições, então nenhum deles vai fazer “gracinha” ou uma ação beneficente. Podem ir a Brasília, bater nas portas dos gabinetes, que lá no final vão trazer migalhas e fazer estardalhaços nas redes sociais, dizendo que conseguiram verbas para as obras na Avenida. Conversa fiada. Dificilmente estarei enganado, mas quem sabe dá uma zebra... Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos, mas, de antemão, os comerciantes, proprietários de imóveis e demais atingidos pelas enchentes devem mesmo se organizar e preparar para uma luta de anos para que a solução definitiva seja levada a efeito. Uma intervenção paliativa até acredito que teremos nos próximos meses. Mas vai ser somente isso.

Mudando completamente de assunto, vamos para a segunda dose do para “inglês ver”. As conversas nos bastidores do gabinete do prefeito e nos corredores e gabinetes dos vereadores se intensificaram nesta semana e tudo indica que o projeto que destina para a empresa de transportes coletivos Via Sul o montante de 26 milhões de reais, com a justificativa de que é para cobrir prejuízos do período da pandemia da Covid, deve voltar a plenário ainda esse ano. Pelo que percebemos, o prefeito vem trabalhando nos bastidores e, ao que parece, já “ajeitou” a situação com alguns vereadores. 

Sinceramente, acho que essa situação deve mesmo ser resolvida de uma vez por todas, desde que os recursos, em sua totalidade, sejam revertidos em prol dos usuários. Basta os vereadores negociarem com o chefe do Executivo, para que o dinheiro seja em prol de melhorias no serviço de transporte coletivo, com a aquisição de ônibus novos com ar-condicionado, guaritas decentes e modernas e com indicativos eletrônicos de horários e itinerários, dentre outros. E, além disso, os nossos representantes no Legislativo precisam exigir do chefe do Executivo um compromisso a curto prazo para que um terminal para coletivos, mesmo que provisório, mas com um mínimo de conforto, seja feito na nossa principal praça, na Dr. Augusto. É possível construir um terminal coberto e com capacidade para receber os ônibus e onde o usuário possa esperar sem estar exposto ao sol ou chuva. Basta querer fazer, pois há alternativas possíveis de serem executadas com poucos recursos. 

Resumindo os dois assuntos do nosso editorial da semana, o que podemos afirmar é que não acreditamos que o prefeito dê uma solução definitiva para a questão da Jove Soares, porque é uma obra cara que demanda tempo. Acreditamos em uma intervenção paliativa, e só, qualquer outra conversa é mesmo “para inglês ver”. E no caso dos recursos para a empresa de transporte coletivo, acreditamos que o projeto voltará à Câmara a qualquer momento ainda este ano ou no início do ano que vem. Caso esse assunto não seja resolvido da melhor forma, teremos mais aumento de passagem como presente de ano novo. Então o povo tem é que exigir melhorias no transporte em todos os sentidos. Agora é aguardar as cenas dos próximos capítulos e ouvir as conversas e posicionamentos “para inglês ver”.

Por: Renilton Gonçalves Pacheco