O fim do verão

O fim do verão
Cláudio Lisyas


Rosamulde Pilcher tem uma legião de fãs. Aqui no Brasil suas publicações são sempre aguardadas por aproximadamente 50 mil leitores cativos. Como se vê, é a escritora escocesa mais lida em nosso país. Ela tem mel na ponta da caneta, uma escrita leve, suave, temperada com singularidade e bastante fácil de ler. Não se demora nas descrições, não que com isso abdique de fazê-las.

Seus romances, na maioria, se passam na Escócia, sendo sua região preferida a Cornuália. O clima frio do inverno, ou mesmo ameno no verão, contrasta com o que estamos acostumados.

É escritora de seu tempo, suas histórias se passam no presente, ou seja, no Século XXI, o século dela, pois, nascida em 1924 e ainda viva, passou sua infância, juventude e boa parte de sua vida adulta nos anos que se seguiram neste século. Ela tem uma bibliografia extensa, tendo ficado mais conhecida com a publicação do romance OS CATADORES DE CONCHAS, um verdadeiro calhamaço que arremessou a autora para o estrelato. Vive ainda na Escócia às voltas com seus jardins e a cozinha local, em que faz biscoitinhos amanteigados com mel.

Este romance tem apenas 191 páginas e está entre os menores escritos da romancista, mas não se deixe enganar por isso, porque entrega o que promete. Há um mistério envolvendo a separação da neta e de sua avó, além de se tratar de um drama familiar encantador. 

Tudo tem início quando Jane está curtindo suas férias de verão na praia, apesar de morar no ponto mais isolado da costa californiana. Reef Point, nos últimos tempos, tem ficado mais concorrida com multidões brotando no lugar. 

Toda essa movimentação serve para quebrar o tédio, porque o pai de Jane anda muito ocupado para cumprir o prazo de entrega de um roteiro e, quando a maré é essa, seu estado de espírito não ajuda em nada. 

Foi aí que resolvi dar um tempo e saí em direção à praia, levando sanduíche, refrigerante, um livro para ler, uma toalha e Rusty, meu cachorro, sempre uma boa companhia.

Papai não goza da mesma opinião não considera Rusty nosso cachorro, segundo ele, nós é que pertencemos a ele, porque é assim que o cachorro pensa e age.

Ele tem a pretensão de se livrar do bicho e vai logo perguntando se eu estou tentando ficar com ele. É obvio que desconverso e digo que não sei o que fazer com o animal, mas sabe como é, objetivamente, papai diz, que pode dar um tiro nele.

- Papai, seja razoável.  

- Jane, ele deve ter pulgas.

- Eu compro uma coleira antipulgas. 

Levantei-me e fui à clínica veterinária em La Carmella e só voltei depois que me venderam uma coleira, assim ficava encerrada aquela conversa. 

No domingo decidi ir nadar e Rusty sempre me acompanha, claro que às vezes acho que vai desistir, mas no final, mesmo ficando para trás, ele chega.

A praia está cheia, tem gente de tudo que é tipo, hippies, surfistas, banhistas e vendedores... Não sei mesmo como podem ficar um dia inteiro em cima de uma prancha, sentados, agachados, montados, de joelhos, mas nas pranchas. Onda vem, onda vai e eles não vão embora antes que escureça.

Havia naquele dia muitos jovens, rapazes e moças, mas só um me chamou a atenção, ele era louro, muito bronzeado, cabelos curtos e vestia uma roupa de neopreme da cor azul de sua prancha. Sabia surfar e de modo nenhum ficou devendo a quem quer que seja, parecia profissional. Depois de uma exibição memorável, decidiu deixar outras ondas para outro dia e encaminhou-se pela areia até onde estavam suas roupas, passando ao meu lado.

Enquanto vestia uma blusa, ao passar a cabeça pela gola, olhou diretamente para mim e eu o encarei sem desviar o olhar. 

Conversamos bastante, respondemos perguntas mutuamente, por fim disse que nos veríamos no domingo.

Para começar estava bom, mas a vida tem outros planos...

Curioso? Esta é a intenção. Tem que se ler o livro para saber o que a vida pode propor.

Cláudio Lisyas