Bar do Cilico - Estava escrito na tabuleta, prato do dia: pé de porco do Cilico
Uma história imaginável do Osnofa
O Bar do Cilico ficava ali bem nos arredores da Praça Dr. Augusto Gonçalves e uma tabuleta tomava conta do passeio super estreito com estes dizeres: “Prato do dia, Pé de Porco do Cilico”. A tabuleta era como se alguém estivesse ali, cercando o freguês, e dando a ele uma única opção: entre no Bar do Cilico. Segundo meu amigo, o marqueteiro Anbrahma, “esta era uma tática muito usada pelos comerciantes da época e dava certíssimo. Bar que não tinha uma tabuleta na porta, o freguês passava batido”.
O Cilico, também oferecia outros atrativos como sinuca, totó, cerveja gelada, bebidas de dozes e pastéis fritos na hora de diversos sabores: pastel de queijo, carne moída e o famoso pastel de banana, mas o que era anunciado mesmo na tabuleta era o pé de porco, a iguaria provocava fila no balcão do bar. O Cilico trabalhava com os filhos e o irmão Cristovão. Meu irmão Celinho trabalhava no Jornal FOLHA DO OESTE e a redação e a oficina, ficavam próximas do bar, e quando tinha uma folguinha ele e o amigo Gentil o famoso Berruga, filho do Viriato Dornas, tomavam umas geladas e degustavam uma porção de pé de porco com farinha de mandioca.
Este pé de porco foi muito famoso e eu cheguei a provar a iguaria, uma delícia... Gente de todos os lugares e pessoas famosas também vinham ao Bar do Cilico simplesmente pra degustar o pé de porco; quem fazia o pé de porco era o Cristóvão, irmão do Cilico, pois o mesmo tinha fama de bom cozinheiro. A família do Cilico era quase toda atleticana, somente dois filhos eram cruzeirense e o Cristovão, irmão do Cilico, era Galo doente e disputava com o Luiz Tatu quem era o mais fanático torcedor do Galo. Sendo assim, provavelmente seria impossível qualquer freguês comer no Bar do Cilico, um galopé, uma sopa de galo ou um galo na pele.
Assim que o Campeonato Mineiro iniciava, os três dos filhos do Cilico, marcavam presença em todos os jogos do Galo, no Mineirão. Eram eles: o Geraldo, o Pacheco e o Titinho. Campo de futebol é sempre assim, você acaba fazendo um monte de amigos, fica conhecendo os jogadores, participa da charanga que ajuda a empurrar o time e no intervalo, rolava muita cerveja gelada. Hoje não rola mais.
Foi o Titinho que me contou este causo. “O tio Cristovão também gostava de ir ao Mineirão e seu lugar preferido era ali onde ficava a charanga do Júlio e a banda do Bororó... Até autografo da Betty Carvalho o Cristovão já ganhou”. Neste jogo, o Galo ganhou do Cruzeiro de três a zero, com dois gols de Reinaldo e um do Dario Peito de Aço ou Dada Maravilha, tanto faz... E o melhor aconteceu no intervalo do jogo, quando ainda estava zero a zero. O tio Cristovão, tomando todas num barzinho daqueles onde juntavam atleticanos e cruzeirenses, ouviu o presidente do Cruzeiro dizer em bom tom pra quem quisesse ouvir: ainda aposto que neste segundo tempo vamos ganhar do Galo. O Cristovão, com aquele seu jeito simples, passou a mão no bigode estilo Pancho Villa e aproximou do presidente do Cruzeiro e se apresentou como torcedor atleticano dizendo: eu ainda aposto no Galo, vamos ganhar de três a zero. O senhor quer ouvir a minha proposta?”. Aí o presidente do Cruzeiro chamou o Cristóvão pra conversar e acabaram formalizando uma aposta.
O tio Cristovão, como você mesmo disse, é Galo doente e propôs para o presidente do Cruzeiro que se o Galo perdesse, no próximo clássico ele assistiria ao jogo com a camisa do Cruzeiro e se o Galo ganhasse, o presidente teria que vir a Itaúna, no Bar do Cilico, acompanhado dos atletas Natal, Dirceu Lopes e Tostão, pra comer o pé de porco mais famoso da região. E que o pé de porco seria de graça, mas que a rodada de cerveja seria por conta do presidente do Cruzeiro. Esse jogo, o Galo ganhou por três a zero e o Tio Cristovão, ganhou a aposta. Nós deixamos com o presidente do Cruzeiro o endereço do Bar do Cilico em Itaúna. Viemos embora comemorando a vitória atleticana com toda euforia e só contamos para o Cilico uma semana depois o que aconteceu e o mesmo não acreditou. Disse que tudo era bebedeira nossa.... Um mês depois, o Baixinho do Correio entregou um telegrama lá no Bar do Cilico... Era o presidente do Cruzeiro marcando para o próximo domingo, depois da missa das 10, no dia 5 de fevereiro, sua presença em Itaúna, acompanhado dos jogadores Natal, Dirceu Lopes e Tostão, para pagar a aposta”.
Se isto aconteceu de verdade eu não tenho conhecimento, mas para a imaginação do Osnofa tudo é possível!!!
De uma coisa eu tenho certeza, o Bar do Cilico, tinha o melhor pé de porco que já comi em toda a minha vida; e sempre ouvi comentários de que os jogadores do Cruzeiro vinham com frequência comer pé de porco e tomar cerveja nos dias da semana que antecediam os jogos do Campeonato Mineiro... Podem ter a certeza, o Natal, o Dirceu Lopes e o Tostão, vinham mesmo no Bar do Cilico e o resto deste causo, pode ser invenção do Cristovão. A propósito, dia 5 de fevereiro é aniversário do Cilico.
Osnofa.una@hotmail.com
Esta crônica sobre o famoso Bar do Cilico, que fez sucesso em Itaúna nas décadas de 70 e 80, foi escrita pelo cidadão Afonso de Oliveira Silva, o Afonsinho, em março de 2012 e publicada no jornal Brexó na mesma época. O Bar ficava, onde está hoje o prédio construído pelos irmãos Oliveira, proprietários da Casa das Roupas, ao lado da Casa Paroquial na Praça Dr. Augusto Gonçalves.