“Direita”, “esquerda” e o que sobra para a população: pagar as contas!

“Direita”, “esquerda”  e o que sobra para a  população: pagar as contas!


Tenho visto, ouvido e até lido alguns posicionamentos em torno de “direita” e “esquerda”, com as pessoas se colocando de um lado e do outro na questão e externando suas opiniões. Ora, o pessoal que se assume de “direita”, aponta o “comunismo” como o pior dos mundo e os riscos que corremos ao caminhar para esse lado, com o governo do Lula. E aí eu fui olhar quais países são considerados comunistas, no mundo. Conforme a pesquisa, são 5 os países: China, Vietnã, Laos, Coreia do Norte e Cuba. Sendo que a China é seguramente um dos países mais capitalistas da atualidade. São países de partido único em que o poder é mantido à força dos exércitos. Ironia. Não é justamente o que “os patriotas da direita” queriam para o Brasil? Ou estamos enganados ao imaginar um país comandado pelo exército, se tivesse sido vencedora a proposta dos invasores de 8 de janeiro, de outra maneira? Então, a “direita” brasileira é contra o comunismo, mas faria igual os comunistas, se assumisse o poder, à força, como pretendia?

Por outro lado, a turma da “esquerda”, que se diz adepta ao socialismo, à redistribuição de renda, de direitos iguais para todos, quando tem um representante do grupo no poder não toma iniciativas reais que venham a dividir o bolo que alegam que “a direita quis só para si”? O que se vê na prática é que essa questão de colocar na pauta a disputa de “esquerda” X “direita” é só uma jogada para os mesmos grupos se manterem no poder... Continuo eu, deslocado, quando se trata de posicionamento político no Brasil. Já até tentei, quando defendi algumas propostas que estavam nos estatutos de partidos, mas aí vi que os homens que comandam esses partidos não leram ou fingiram que leram, ou mesmo não entenderam o que está escrito nestes estatutos. Assim, o que podemos encontrar no dia a dia da política no nosso País, seja em qual nível for verificar, são pessoas tentando se beneficiar e se apresentando dentro de uma ideologia que não sabem o que realmente significa. 

Tenho visto pessoas defensoras do espectro da “direita” apregoar o liberalismo como melhor opção, falar da necessidade de “diminuir o tamanho do estado”, de pregar menor intervenção governamental na economia, etc.... Mas, atuando para conseguir nomear seus eleitores em cargos públicos, ou pedir a ajuda do governo quando suas empresas – ou as empresas de amigos – entram em bancarrota. Fico sem entender como é possível pedir a diminuição da máquina pública e ao mesmo tempo, empregos públicos para seus apaniguados; menos intervenção governamental na economia e ao mesmo tempo, isenção para determinados setores. Chamam isso de incoerência, eu, de cara-de-pau, de safadeza.

Mas do outro lado, na dita “esquerda”, não é diferente. Pregam a redução das desigualdades, mas atuam para ampliá-la, ao buscar conseguir as cirurgias de seus amigos, antes dos outros, num eterno fura-filas da saúde; ou como os primeiros, pedem nomeação de apaniguados, em lugar de respeitar processos de seleção mais claros. Tanto um quanto outro, fala uma coisa e faz outra, lembrando aquele dito antigo: “façam o que falo, mas não façam o que faço!”

Na verdade, essa mania que implantaram ultimamente, de debater “pautas de direita e de esquerda”, é só uma arma de incompetentes e mal-intencionados, que na verdade não querem que nada mude. É assim também quando usam a religião ou a falta dela, quando fazem discursos emotivos e arrebatadores, após fazerem acordos escusos nos bastidores. O problema é que estamos abandonados pela maioria daqueles que nos deveriam representar. 

E para alimentar esse engodo que usam, de direcionar as questões para a disputa “esquerda x direita”, ficam usando de exemplos e comparações entre Lula e Bolsonaro como se estes fossem representantes, de fato, de alguma destas correntes ideológicas, que não os interesses de grupos políticos que eles representam. Mais recentemente, o pessoal que defende a “direita” ficou alvoroçado com a vitória do Milei na Argentina como se a vitória daquele governante representasse a vontade dos ‘hermanos” de ter um ‘direitista’ no poder. A cientista política argentina, Yanina Welp, analisando a vitória de Milei para o site de notícias suíço Swissinfo.ch, expôs uma visão com a qual concordo totalmente, quando ela afirma que “a chave para entender esta eleição não se encontra na divisão entre democracia e autoritarismo, como o atual governo argentino quis apresentar, mas no princípio da mudança. A população está cansada e votou pela mudança sem levar em conta as possíveis consequências negativas”. E ela vai além quando classifica Milei como um ‘populista’ e não como ultraliberal, ou de extrema direita, como a mídia teima em classificar. 

É preciso fazer comparações com a situação brasileira, quando se opõem os lulistas e bolsonaristas, quando classificam os dois líderes como ‘esquerdista’ e ‘direitista’, sendo que na verdade são mesmo é populistas. Tanto quando Bolsonaro venceu, como quando Lula retornou ao poder, não se tratou de vitória da ‘esquerda’ ou da ‘direita’, como querem colocar os ‘analistas de plantão’, mas uma busca por mudança, por parte da população que constatou a situação caótica em que se encontrava o País. Inflação, desemprego, falta de opções na saúde, na educação, no combate à criminalidade, são problemas que influenciam o voto do eleitor muito mais do que o espectro ideológico que só interessa a quem se mantém em cargos públicos à base dessa mentira que apresentam à população. E é preciso que nós, eleitores, deixemos de acreditar nessa mentira que apregoam sobre ‘direita’ e ‘esquerda’. Tanto uma, quando a outra, não existem enquanto prática cotidiana de nossos políticos. Na verdade, eles usam esses conceitos ideológicos porque não têm propostas para o enfrentamento dos reais problemas. E nós continuamos pagando a conta.

* Jornalista profissional, especialista em comunicação 

pública, membro da Academia Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.