Na dúvida, onde o católico pergunta e encerra uma polêmica?

Na dúvida, onde o católico  pergunta e encerra uma polêmica?


Continuamos nossa série de artigos sobre a fé. Hoje, em especial, respondo à pergunta de um prezado leitor que me contatou: “Rafael, você deveria ter mais humildade, em vez de escrever como se fosse dono da verdade! Você é um hipócrita e não possui envergadura moral para ser um porta-voz do catolicismo. Sou católico e não concordo com várias coisas que você fala. Como vou saber se o que você está falando sobre a fé católica não é apenas uma opinião inventada de sua cabeça ou de algum autor qualquer que você leu? ”. O questionamento do caríssimo irmão é: como nós católicos temos segurança que podemos confiar em algumas coisas e devemos nos posicionar contrariamente a outras? Agradeço a pergunta espetacular e certamente concordo que entre as diversas qualidades que busco fortalecer em meu crescimento espiritual é a humildade. Por isso, a resposta, a esta pergunta, vou deixar nas mãos de algo chamado Magistério da Igreja – fundado pelo próprio Jesus Cristo, quando Ele, Deus Encarnado, apontou seus doze apóstolos e lhes conferiu não apenas a missão de difundir a sua doutrina, mas também o poder de ensinar em seu nome. Confiou-lhes, noutras palavras, um magistério autoritativo. Isso, em ordem à continuidade histórica da Igreja e, portanto, da ação de Cristo sobre os homens, se estende também aos sucessores tanto dos Apóstolos, os bispos, como de S. Pedro, os sumos pontífices. É, pois, ao ensinamento autêntico de todos os bispos e papas, de ontem e de hoje, que damos o nome de Magistério eclesiástico. Quando uma polêmica surge, ao longo de 2.000 anos, são eles que a terminam.

Inicialmente, preciso informar ao irmão que absolutamente tudo que já escrevi em meus artigos sobre o catolicismo foi retirado diretamente das definições e esclarecimentos registrados pelo Magistério. Um dos livros que mal consegue descansar em minha prateleira é o Compêndio feito por Dezinger – Hünermann, onde encontramos os documentos de todo magistério da Igreja redigidos desde o Papa Clemente I, no ano 92, até a última encíclica de São J.Paulo II, em 2007. Um catatau belíssimo de 1.500 páginas.

Também, vale lembrar o que Santo Tomás de Aquino brilhantemente descreveu: muitas pessoas pensam que a fé é múltipla. Quando na verdade, a fé é única. Cremos em tudo que ensina a Santa Igreja Católica – em um único ato. Não diminuímos ou aumentamos os ingredientes de nosso prato. Só podemos aceita-lo da maneira que Cristo o receitou. Não em múltiplos atos seletivos, como denominações protestantes, onde cada um faz a sua interpretação da fé, e escolhe aquilo que o faz se sentir bem. Ou como “católicos” personalíssimos, que clamam a Santa Igreja, porque recitam artigos do credo, mas não são firmes nas fronteiras que a Santa Mãe determina e inserem ingredientes extras num prato ecumênico em nome de um respeito suicida. G.K. Chesterton foi preciso ao criticar este ponto, quando resumiu: “O que o mundo hoje espera de um católico é que ele respeite todas as religiões, exceto a sua própria”. Respeito e humildade não pressupõem que abramos mãos de ser firmes em nossas ações, nossas prioridades e nossos exemplos. Nossos papas, guiados por Cristo, já nos orientaram a acolher e conviver em respeito com todos, em especial aqueles que por meio de seu livre-arbítrio professam uma fé e um grupo de hábitos diferentes. Mas também nos alertaram: respeitar não é concordar, tampouco participar.

Outro ponto interessante, é quando alguns próprios “católicos” se juntam às vozes do ecumenismo e gritam: “quem garante que os bispos e os papas são infalíveis. Além disso, (dizem estes críticos) ‘eles já mudaram o entendimento diversas vezes”. Pois bem, curiosamente nenhuma destas pessoas que crê na Bíblia tem dificuldades para aceitar a ideia de Deus guiando autores humanos falíveis (os apóstolos, por exemplo) na redação infalível das Escrituras. Porém, quando vem a ideia de Deus estendendo sua condução infalível às decisões dos bispos posteriores aos apóstolos para a decisão final do cânon das Escrituras, eles de repente farejam Catolicismo e hesitam. Assim, não faz absolutamente nenhum sentido negar que Deus guiou infalivelmente o processo pelo qual a Igreja composta por homens falíveis é capaz de se expressar infalivelmente por meio do Magistério dos bispos e papas. 

Sobre a acusação de mudanças: o Magistério não pode inventar, modificar ou abolir alguma verdade dogmática; ele não tem o poder de dispor ao seu bel-prazer do depósito que lhe foi entregue, mas apenas de definir e esclarecer, de forma definitiva, o que sempre, em todos os lugares e por todos os cristãos foi e é crido. Assim, os dogmas NÃO são inventados pela Igreja e NUNCA são modificados por ela; afinal, não se modifica a Verdade de Cristo, pois ela é uma só. O que se faz é esclarecê-la, à luz de um novo questionamento.

Curioso notar que estas verdades reveladas por Cristo, muitas vezes são questionadas e colocadas em perspectivas por grupos que se autoproclamam, o que chega a gerar heresias tristes e famosas em momentos da história. Por exemplo a heresia ariana, que questionava se Jesus Cristo era Deus. A heresia ariana foi uma crença teológica proposta pelo sacerdote cristão Arius, no século IV. Ele ensinava que Jesus Cristo não era coeterno com Deus Pai e que o Filho de Deus foi criado pelo Pai em algum momento no passado. Para resolver a controvérsia ariana, o Imperador Romano Constantino convocou o Concílio de Niceia em 325 d.C., que foi presidido pelo Papa Silvestre I. O Concílio de Niceia registrou o texto do Credo (que rezamos hoje nas missas), e que afirma a plena divindade de Jesus Cristo e rejeita a visão ariana. Esse credo ficou conhecido como o Credo de Niceia e foi adotado pela Igreja como uma das suas declarações de fé fundamentais.

Por fim, a este caro leitor que me prestigiou com sua leitura atenta aos meus artigos e me enxergou como um “hipócrita sem envergadura moral”, deixo aqui uma citação do sábio bispo americano Fulton Sheen: “você diz que não vai à Igreja porque está cheio de hipócritas lá? Eu digo que você está certo, mas venha assim mesmo, temos espaço para mais um”. A Igreja Católica não é lugar para os justos, mas para àqueles, que como eu, são pobres pecadores em busca de Cristo para se salvarem.

Por Rafael Corradi Nogueira