Falta médicos e “sobram” custos

População sofre com falta de planejamento para o setor e disputa de especialistas no mercado

Falta médicos e “sobram” custos


As reclamações em relação à falta de médicos especialistas, especialmente pediatrias, continuam nas cidades da região, sem expectativa de melhora em curto prazo. Em Divinópolis, por exemplo, foi fechado o atendimento nesta especialidade no hospital público, o que sobrecarrega o atendimento na UPA. Em Itaúna, no Plantão 24 Horas, como já afirmado várias vezes, a direção do hospital busca a contratação de pediatra para suprir a demanda. Enquanto isso, médicos generalistas é que fazem os atendimentos, segundo informações não oficiais. O secretário de Saúde, Fernando Meira, recentemente falou à imprensa que vai cobrar uma posição do Hospital Manoel Gonçalves, que é contratado pelo município para a gestão do Plantão. Mas ele sabe, porém, que a questão não é localizada e que é de difícil solução.

Conforme o estudo “Demografia Médica do Brasil 2023”, publicado recentemente pela Associação Médica Brasileira, existem 62.2 mil médicos em Minas para fazer o atendimento de 21,4 milhões de pessoas. Com isso, há 2,91 médicos para cada mil pacientes. Mas a realidade não é esta quando se trata de atendimento pelo SUS – Sistema Único de Saúde, que paga mal e a cada dia atrai menos profissionais. Também é piorada a situação quando se sabe que grande parte dos profissionais preferem ficar nos grandes centros. E quando se faz a relação “médico por paciente”, levando em consideração as especialidades, aí, sim, é que a situação fica ainda pior.

Falta planejamento por parte do poder público

Há muito tempo que a situação de escassez de médicos no País vem se agravando. Mas é raro se ouvir falar de um planejamento para o setor. Investimento na formação de novos profissionais, por exemplo, seria uma proposta para buscar a solução a longo prazo. Criação de uma tabela de incentivos para profissionais que atuem fora dos grandes centros, seria outra. Investimento na saúde preventiva, mais uma. Porém as autoridades públicas, na sua quase totalidade, só aparecem nos momentos de grave crise, para repetir o problema da falta de médicos e a necessidade de aportar recurso por parte da instância superior de governo. Nunca assumem que não fizeram um planejamento efetivo com os discursos disponíveis para enfrentar o problema.

Centralização do atendimento piora situação em Itaúna

Enquanto isso, as filas aumentam nas unidades de saúde. Em Itaúna o problema é ainda mais acentuado na medida em que o atendimento médico foi centralizado na Centro de especialidades Dr. Ovídio e no Plantão 24 Horas. Uma consulta médica para remediar um problema simples, como os sintomas da gripe, demora 15, 20 dias pelo sistema público. Quando a pessoa consegue marcar a consulta, ela já não mais precisa do atendimento, pois os sintomas já desapareceram. E isso causa acúmulo de trabalho nos consultórios médicos e muita “desistência” das consultas.

As reclamações em relação à demora para o atendimento, devido à centralização aplicada em Itaúna, com o Dr. Ovídio e o Plantão “afunilando” a prestação do serviço à comunidade, leva à situação como o de uma paciente que demorou três anos para conseguir uma cirurgia para combater problemas de varizes, ou dois anos e meio para obter a cirurgia de catarata, mesmo com a Prefeitura divulgando periodicamente os mutirões que são realizados. Ambos os procedimentos, neste caso, quando liberados, já não eram mais necessários. No caso da cirurgia de catarata, a paciente já havia feito para ambos os olhos, na vizinha cidade de Carmo da Mata.

Nos antigos PSFs (Programa de Saúde da Família), hoje renomeados para ESFs (Estratégia de Saúde da Família), os médicos atendem a um número mínimo de consultas – quando isso acontece – e quase sempre é preciso “agendar”, como se doença marcasse dia e hora para surgir. Mas o pior é que não existe um trabalho – ou pelo menos não se tem notícia sobre isso – que atue no planejamento da saúde. No caso da febre maculosa, por exemplo, que está assustando a população brasileira, não teve ainda uma abordagem por parte da saúde pública em Itaúna. 

Além de algumas postagens de profissionais explicando a doença e como evitá-la, não se viu, ainda, alguma medida por parte do poder público para abordar a questão, pelo menos. Considerando que áreas centrais de Itaúna, como o entorno da sede da Prefeitura, são locais de convívio de capivaras, animal que é hospedeiro do carrapato transmissor da febre, pelo menos uma campanha – não só postagem em redes sociais – poderia ser encaminhada, conscientizando a população.