“Durma com um barulho desses!” Prefeitura incomoda vizinhos de aterro

Caminhões operam na madrugada em aterro na “Reta de Santanense” e vizinhança alega que “perdeu o sossego”. A polícia foi acionada

“Durma com um barulho desses!” Prefeitura incomoda vizinhos de aterro
Os caminhões trabalharam durante a madrugada do sábado, dia 2, (fotos ao lado), descarregaram o material e, por volta das 11h28, já haviam fechado o depósito


Moradores do Residencial “Victor Gonçalves”, no local conhecido por “Reta de Santanense”, não têm mais sossego desde que a Prefeitura instalou um aterro naquele local, que fica nas margens da pista da Av. “Dr. Miguel Augusto”. Com a operação de máquinas e veículos no citado aterro, o barulho e a poeira são em grande quantidade, incomodando as famílias durante todo o dia. E, agora, passou a trazer problemas para as pessoas também nas madrugadas, inclusive dos finais de semana. 

No sábado, 2 de março, os moradores do local foram acordados com o barulho provocado por quatro caminhões que, segundo os reclamantes, seriam dois com logomarcas da Prefeitura e dois com informações de serem contratados. Esses caminhões iniciaram a operação de descarregar material no aterro às 3h30 da madrugada, provocando muito incômodo com o barulho. Em vídeos enviados à reportagem e também postados nas redes sociais podem ser ouvidos o barulho do motor dos veículos, da descarga do material e os estouros, além do barulho de carrocerias vazias sendo “balançadas” para que caísse o restante da carga. 

A polícia foi acionada e compareceu ao local, registrando boletim de ocorrência por “perturbação ao sossego” (veja abaixo a informação da PM). A Prefeitura informou, no B.O., que se tratava de “retirada de escória do distrito industrial”. Já os moradores teriam sido informados que o material seria “fresa de asfalto”, doados ao Município para ser utilizado nas estradas vicinais. 

Secretário dá explicações, que não convencem os reclamantes 

Segundo as reclamações, o secretário de Infraestrutura e Serviços, Rosse Andrade, informou que a operação foi realizada na madrugada por opção dos trabalhadores, “para que eles possam almoçar em casa”. Mas a alegação não convenceu os reclamantes que afirmam que “eles almoçam em casa e todo mundo fica sem dormir. É assim mesmo que funciona? Quanto mais (tentar) explicar, fica pior. Então são os caminhoneiros que mandam, trabalham na hora que preferem?”. 

Ainda segundo os reclamantes, os caminhoneiros disseram que “receberam ordem pra descarregar naquela hora. Alguém está mentindo. Em vez anterior, ele (o secretário) divulgou que plantaria árvores que tem capacidade de cercar poeira”. Informaram ainda que existe uma reclamação sendo apurada junto ao Ministério Público. 

PM registra ocorrência 

Conforme a reportagem apurou junto à Polícia Militar, foi feita queixa e uma viatura compareceu ao local, às 3h56min do sábado, 2 de março, tendo sido acionada por um morador do Núcleo Regional “Vitor Gonçalves de Sousa”. Registra que o homem, de 52 anos, relatou que “próximo à sua residência há um depósito de escória, onde estavam realizando um descarregamento, causando perturbação. No local havia um caminhão Iveco Tector de cor branca, conduzido por homem de 31 anos, e um homem de 55 anos conduzia outro caminhão. Ambos relataram estar realizando trabalho de retirada de escória do distrito industrial. Orientados, se comprometeram a cessar a perturbação naquele horário”. 

Assistir TV em determinados momentos é impossível 

Em outro vídeo enviado à reportagem, um morador mostra a sua tentativa, em vão, de assistir a um programa de televisão enquanto um trator operava no aterro da Prefeitura. O barulho provocado pelo trator e por outros veículos operando no aterro não deixavam que fosse ouvida a mensagem emitida no aparelho de televisão, que já estava com o volume bastante alto. 

Conforme os moradores, esse tipo de incômodo, como também o excesso de poeira – como já foi mostrado e informado em reportagem anterior –, passou a existir a partir do início do aterro instalado pela Prefeitura. 

“Nós já não temos mais sossego, e o pior é que todo esse problema é causado por um órgão que deveria cuidar do bem-estar da população, que é a Prefeitura. E eles não nos ouvem. Dão uma desculpa em um momento, outra desculpa logo depois, como se nós, cidadãos, pagadores do imposto que mantém os salários de quem coordena esse tipo de coisa, além é claro, de custear o que eles estão fazendo, ali, também”, disse um morador, desiludido com a falta de respeito por parte do poder público, com os moradores do local. 

Nos vídeos enviados à reportagem, em alguns momentos vê-se ainda que o morador que faz a filmagem está a ponto de perder a calma. Em um momento ele grita: “Oi, tem gente dormindo aqui”, sem conseguir parar com o barulho. Um cidadão, ao assistir ao vídeo, comentou que, “felizmente, se trata de uma pessoa de bem, que não usa arma. Imaginem se ele tem uma arma de fogo e resolve agir, já que os responsáveis pelo município não tomam conhecimento da situação? Ocorreria uma tragédia, com certeza”, finaliza.

EXPLICAÇÃO QUE NÃO CONVENCE

Prefeitura posta vídeo com servidor tentando explicar incômodo

Depois das muitas reclamações da vizinhança, a Prefeitura postou um vídeo onde o gerente de Obras e Manutenção, Cícero Tavares, tenta explicar o que ocorre no aterro da Prefeitura instalado na “Reta de Santanense”. Conforme o servidor, o material que é trabalhado no local se trata de “escória britada e pó de escória”, que é doado à Prefeitura por empresas privadas. E que esse material é usado em obras, especialmente nas estradas rurais. Disse ainda que, devido à doação, a Prefeitura tem prazo para retirar o material e, “às vezes, uma a duas vezes por mês”, esse transporte é realizado “em horários de inconformidade”. Afirmou, finalmente, que a Prefeitura já está providenciando a licitação para adquirir esse material, o que vai “diminuir um pouco o incômodo”.

Porém algumas pessoas contestaram a explicação e questionaram alguns problemas. Primeiro, que essa seria “mais uma versão”, depois de terem alegado que o material seria “fresa de asfalto”, que a operação na madrugada teria sido porque “os motoristas queriam almoçar em casa” e outras alegações apresentadas. E o que mais questionam é que nada foi falado em relação à “insalubridade provocada pela operação”, ao constante barulho, inclusive, durante todo o dia, à poeira, ao “lixo aterrado”... Também teve afirmações de que a escória britada que é colocada nas estradas rurais “escorre para o pasto e açudes”.

Porém a principal reclamação é que, apesar de várias explicações e de a Prefeitura assumir a responsabilidade pelo incômodo à vizinhança, nada parece estar sendo feito no sentido de dar solução ao problema. Alegar que “vai diminuir um pouco” é o mesmo que afirmar que vão continuar incomodando os moradores com a poeira, o barulho durante o dia e até nas madrugadas, como ocorreu no sábado passado. Um cidadão questiona o fato de ser necessário a operação da Prefeitura exatamente naquele local. “Por que montar esse canteiro de operação exatamente ao lado das casas? Não poderia ser feito esse serviço em outro local? Aquele terreno onde existia a usina de lixo está vazio, fechado, é longe das casas, poderia ser usado...”, comentou.