Cidadãos preocupados com comportas abertas

Nível do espelho d’água não interfere no abastecimento e período exige esvaziamento para não ocorrer transbordo

Cidadãos preocupados  com comportas abertas
Foto: Arquivo/FOLHA

Sempre em período de seca, o volume de água reservado na barragem de Itaúna chama a atenção dos itaunenses, que se preocupam com a possibilidade de escassez. E, mais uma vez o fato veio à tona, com reclamações de que as comportas da barragem estariam abertas e que “isso pode ocasionar falta de água na cidade”, como afirmou um cidadão. A reportagem ouviu especialistas e os responsáveis pela estrutura, para informar e tranquilizar a comunidade. 

À reportagem, o responsável pela gestão da barragem informou que existe uma legislação própria para a questão e que ela vem sendo respeitada. O funcionamento da comporta, se aberta ou fechada, não pode ocasionar problemas para esses parâmetros e, conforme a resposta dada à reportagem, isso tem sido respeitado. Trocando em miúdos, o funcionamento da barragem em relação à geração de energia tem ocorrido dentro dos parâmetros legais. Ponto.

Explicações técnicas

Com profissionais da área, a reportagem apurou que o abastecimento de água em Itaúna é feito com a captação de cerca de quatrocentos litros de água por segundo, em duas adutoras e que a vazão do rio, que já foi maior (veja análise mais à frente), tem se mantido em torno de 5 mil litros por segundo, o que é o bastante para atender a esse volume. 

Ainda conforme as explicações técnicas, essa vazão não pode ser alterada para menos, com o funcionamento da barragem, o que não acontece. O problema seria o fechamento das comportas e a vazão ser menor, o que ocasionaria problema não volume de captação. Porém, mantida esta captação de 400 litros por segundo, não tem problema, até porque a capacidade máxima de tratamento é de 320 litros por segundo, na ETA – Estação de Tratamento de Água, sendo necessário o descarte de cerca de 80 litros por segundo, lá na ETA.

Funcionamento das comportas

Além do funcionamento na geração de energia, o que é controlado pelas autoridades ambientais, o funcionamento das comportas – em relação a abertura e fechamento – também segue a um cronograma de previsão pluviométrica, explicam técnicos. Como o período chuvoso está se aproximando, é até mesmo necessário que as comportas estejam abertas, para esvaziar um pouco o reservatório. Caso isso não aconteça, explicam, com o período de chuvas, o reservatório pode não comportar o volume de água das chuvas e, assim, ocasionar enchentes. Além da geração de energia, o funcionamento das comportas também é necessário para o controle de cheias. “Se o reservatório – espelho d’água da barragem – estiver cheio e o volume de chuvas for grande, vão ocorrer enchentes”, disse um técnico que pediu para não ser identificado.

Problema é na preservação necessária

Independente da Barragem, apontam ambientalistas, o problema do Rio São João é grave e precisa da ação da comunidade. O rio corre, antes e depois da barragem apontam e os cuidados devem existir por todo este percurso. Cuidar das margens do São João precisa ser uma ação de todos os itaunenses, incluindo aí o poder público, as empresas, os moradores ribeirinhos, os proprietários de terras... 

Isso porque ele é o único canal de abastecimento de água do munícipio. Em estudo a que a reportagem teve acesso, a vazão do Rio São João, em 1979 era de algo em torno de 12,5 m3 por segundo (cerca de 12.500 litros de água por segundo). Hoje, a vazão está em média de 5 m3/s (algo em torno de 5 mil litros por segundo). É preciso que o poder público, em parceria com instituições de ensino, por exemplo, avalie e atualize esses estudos, pois a queda de cerca de 7,5 mil litros de água por segundo, na vazão de um rio e algo bastante sério. Dá uma perda de cerca de 166 litro de água por segundo, a cada ano. É quase a metade da água que a ETA trata para abastecer Itaúna, que o rio estaria perdendo em vazão, a cada ano. Esse, sim, é um grande problema sobre o qual os itaunenses precisam se debruçar, antes que se agrave mais ainda.