A degradação moral dos serviços públicos

A degradação  moral dos  serviços públicos

Não faz muitos meses, escrevi sobre a questão da fiscalização do trânsito em Itaúna, envolvendo a Polícia Militar, isso quando um acordo com o Município foi firmado. Lembro-me de dizer que não daria certo e que, a qualquer momento, as consequências viriam, e pior, para a população. E estas chegaram mais rápido que esperávamos. 

Não consigo analisar se há um culpado por essas consequências, mas posso afirmar que todos os são, inclusive o cidadão, o dito povo, onde me incluo. Mas o Município é o principal deles, pois não consegue estruturar uma forma de fiscalização eficiente do trânsito urbano, o que é complicado de analisar, mas é prático para criticar, pois é competência dele e tem que funcionar. Como? Não sou engenheiro de trânsito, nem engenheiro com pós-graduação em engenharia de tráfego, e muito menos administrador público. Sou um crítico com dois olhares, o de jornalista e o de cidadão, que necessita transitar com o seu veículo pelas ruas da cidade e que também precisa atravessar faixas e esperar nos sinais. 

O fato é que o trânsito urbano itaunense não funciona faz tempo, e vem recebendo “remendos” dos administradores públicos dia a dia também faz muito tempo. Colocar sinais com câmeras, radares para coibir a velocidade com multas, pintar faixas de pedestres, sinalizar estacionamentos e impor fiscalização não soluciona tudo, apenas ameniza e literalmente empurra o problema pra frente. E é isso que vem ocorrendo em nossa cidade. Estão postergando o problema. Porém a coisa está chegando ao limite, pois a frota é muito grande e cresce dia a dia, não há onde fazer mais vagas para estacionamento e as ruas são estreitas, não há solução. Além disso, o brasileiro é mal-educado, atrevido e acha que, pelo fato de pagar imposto, pode tudo. E tem mais, mesmo com a fiscalização feita pela PM, a situação caótica continua, pois os policiais fazem vista grossa para os motociclistas, que trafegam como querem, estacionam irregularmente por todo lado, ocupando vagas de carros, ultrapassam em sinais fechados e desrespeitam a todos, e principalmente as leis de trânsito vigentes. Com eles não acontece nada. Raramente uma motocicleta é rebocada. 

Mas, diante de tudo, precisamos de solução imediata, pois não há como continuar como está e muito menos podemos ficar à mercê de fatos como o registrado na quarta-feira à tarde, na Rua Tácito Nogueira, no Centro, em frente à Escola Estadual José Gonçalves de Melo, quando, por causa de um estacionamento irregular numa vaga de  carga e descarga de 10 minutos, e somente porque o pisca-alerta não estava ligado, um senhor, um idoso de 65 anos, foi agredido, algemado e preso por um policial, e de forma, em minha opinião, escandalosa, truculenta e desnecessária. Quem é o culpado no episódio? O policial? O cidadão? 

Ou é a sociedade num todo, que foi obrigada a assistir, em loco ou via vídeo, as cenas nada agradáveis? Todos são culpados, porque as coisas não estão sendo feitas como deveriam. Entendo que, se o trânsito é de responsabilidade do Município, que ele tome conta dele e faça a sua administração com base em dados e sistema dinâmicos de engenharia de trânsito. Ponto. A Polícia Militar de Minas Gerais foi criada para proteger o cidadão da criminalidade e não para gerenciar trânsito urbano, aplicando multas e ordenando o reboque de veículos. Estamos precisando de policial é nas ruas de bairros, para combater o tráfico, roubos e assédios. E nas ruas do Centro, fazendo rondas a pé pelas calçadas e praças, para que moradores de rua parem de importunar os transeuntes que precisam resolver suas questões diárias. Em resumo: em nossa opinião, o modelo em vigor não funciona e acaba por causar a “bagunça” com a qual estamos vivendo e que provoca ainda os dissabores a que assistimos na quarta-feira. 

Vão dizer que o senhor envolvido no episódio estava errado, pois o estacionamento estava sinalizado. Concordamos. Mas a tolerância do policial poderia ter sido maior. Será que esse senhor, que tem um carro “velho”, como todos viram, e que provavelmente faz dele um instrumento para a locomoção para um trabalho extra para complementar a renda mensal, não se desesperou, pois não teria de onde tirar o dinheiro para resgatar o veículo do pátio e pagar a multa? Alguém pensou nisso? E o policial? Será que está preparado para agir nas ruas, na fiscalização do trânsito urbano? Teve aulas preparatórias e psicológicas para lidar com o cidadão? Ao que parece, não.

Como profissional do jornalismo e como cidadão, tenho o direito de expor minhas opiniões e não vou me conter. Achei excessiva a ação e, como já exposto em nossa reportagem no site e nas redes sociais, achei e continuo achando que ainda é preciso explicações. O comandante da Polícia Militar precisa vir a público e dar esclarecimentos em nome da corporação. Uma nota explicativa genérica, que não diz nada com nada, dirigida a nós da imprensa, não é suficiente. Ela serve somente para mostrar que não existe um comprometimento com a sociedade. Não falaram em averiguação, apuração ou possível punição. E as questões levantadas? Vão ficar sem respostas? 

Tenho a opinião, por exemplo, que está instalada em nossa cidade uma verdadeira “máfia” do rebolque e das multas, e que envolve todos os polos conectados ao sistema. Ninguém vai se posicionar para dizer que isso não existe? Não podemos provar, mas podemos achar que tem. É direito nosso. Entendemos que o povo está sendo achacado em todos os sentidos e, agora, além de tudo, tem que apanhar em público por causa de um sistema que só visa faturar para os cofres públicos sem limites. É hora de um basta. A desmoralização dos serviços públicos é visível, e isso leva o cidadão a achar que pode tudo, inclusive passar por cima das leis, uma vez que elas não são aplicadas como deveriam, pois há o jeitinho brasileiro, a conversa de compadre e no pé do ouvido, e o pior, há o “cala boca”, além da “rachadinha”. “Brasil!!! Mostra a sua cara!!!”, cantou Cazuza!!!