As leis

As leis

Este é um livro que iniciei e interrompi. Outras leituras atravessaram o caminho e dele me esqueci. Se trata de uma obra escrita pela escritora holandesa que, até então não conhecia. Este trabalho da autora entrou no meu radar, porque tenho o interesse de ler o máximo de obras de autores desconhecidos e de diversos países. Assim esta obra por ser holandesa e de autora não conhecida tinha o perfil ideal, mas aquisição e a leitura não pode ser apenas por este crivo, tem que me interessar o tema, a força motriz do romance senão será apenas mais uma compra jamais lida dentre as muitas que já tenho e que certamente jamais vou ler. 

Ultimamente estou mais seletivo compro livros que vou ler e apesar de havê-lo abandonado, tão logo lembrei-me dele resolvi lê-lo recomeçando desde a primeira página. 

A autora Connie Palmen estreou muito bem na literatura com este livro porque ele logo naquele ano de lançamento foi laureado com o prêmio European Novel of the Year Award, face ao grande sucesso na Europa. 

O livro se passa em Amsterdã e se desenrola ao longo de sete anos período que Marie Daniet, nossa personagem central, conhece sete homens: um astrólogo, um epiléptico, um filósofo, um padre, um físico, um artista e um psiquiatra.

A narrativa se desenrola com Marie descrevendo para o leitor seus encontros e desencontros com cada um destes homens de forma inusitada e o que tais encontros/desencontros causaram em sua vida.

O livro é dividido em sete capítulos cada um deles dedicado a um dos homens que ela conheceu ao longo deste tempo. 

Foi no verão de 1980 que ela conhece o astrólogo, numa sexta-feira 13, coisas que só percebe mais tarde. Seu local de trabalho às sextas-feiras é numa moderna loja de livros antigos no Pijp (pequeno quarteirão no centro de Amsterdam).

Dia comum, quente, movimento o de sempre, estava escrevendo uma carta a um ou outro velho amigo como de costume. Havia um expositor de jornais do lado de fora e a porta estava aberta. Um homem pequeno, atarracado, barbudo e com óculos com lentes pela metade, entrou sem que percebesse. De repente fiquei incomodada com o fato de ele estar me olhando, na verdade “perscrutando-me por sobre as bordas das lentes”, quando a gente só vê o branco horroso dos olhos.

Pude perceber então, que estava de mau humor, não queria falar ou ver ninguém.

Não tinha como evitar então o cumprimentei e voltei a ocupar-me com a carta. Mas o incômodo continuou e uma frase se repetia inutilmente em minha mente “Pára de me encarar desse jeito, seu imbecil” e para desabafar acabei escrevendo – “há um asno parado no meio da loja” ... isso aliviou, só não resolveu.

Perambulou pela loja e o mantive sob observação sem que ele desse pela coisa, podia esperar qualquer coisa dele e mesmo sendo suspeito seu agir, duvidava que, ele roubaria algum livro, no entanto, achei melhor ficar atenta. 

Tenho que a melhor forma de enfrentar um inimigo é encará-lo de frente e olhá-lo diretamente nos olhos, por isso me aproximei e desferi o de praxe. No que posso ajudá-lo? Creio que o surpreendi pois ficou desconsertado respondendo que “- Oh, não, não...”

Confesso que a timidez me comoveu, então, sorri e disse “calma, calma camarada”.

Por fim ele assumiu que estava à procura de um livro que falasse de Vincent Van Gogh, não que fosse fã, pelo contrário, exatamente porque não gostava dele é que estava curioso para descobrir porquê.

Indiquei a direção da loja em que poderia encontrar o que estava procurando. Sinceramente não achava que aquilo fosse verdade.

Voltei aos meus afazeres dirigindo-me à minha mesa. Passou por mim no sentido das estantes indicadas senti naquele instante um cheiro enjoativo. Já estava a cerca de um metro de mim seguindo em direção das estantes dos livros de arte.

“- Sagitário-escorpião – disse. 

Correto.”

O livro é uma espécie de descoberta de si mesmo, busca pelo rumo a seguir, não é de autoconhecimento, é mais, é o desafio de saber por que se está aqui e admitir que tem que ser algo melhor do que se sabe agora.

Sei que é um livro que não vai agradar todo mundo. Sei também que pode ser classificado como “cult”. O melhor no meu conceito é não se apegar a qualquer classificação, porque sendo um livro de pouco mais de 180 páginas é de certa forma denso e desafiador.

Não é novidade que temos escritores nos países baixos, a novidade é que temos mais uma, benvinda ao clube Connie.