Você que desmerece o Papa

Você que desmerece o Papa


Ignorância não respeita credo. Abundam as críticas pouco esclarecidas (e superficiais) ao nosso Santo Papa Francisco. Vindas de protestantes, ateus, pagãos e (pasme) até de católicos. Precisamos entender melhor sobre o Vigário de Cristo na Terra, em tempos de guerra na Ucrânia, Brasil passando pano para ditadura na Nicarágua, preferências políticas externadas em entrevista do Vaticano e audiência de Francisco com representantes LGBT.

Assim como eu, o Papa Francisco tem direito a suas preferências pessoais. Inclusive a falar besteira em assuntos como futebol, culinária, economia e política. Ele não é blindado de erro nestas matérias. Ele é infalível em outra coisa: quando se pronuncia sobre Fé e Moral. E apenas assim. Neste momento, ele é exatamente como Pedro. De personalidade explosiva, o primeiro de todos os papas, nomeado pelo próprio Deus, o apóstolo mais importante de Cristo cortou fora a orelha do soldado que se aproximou de Jesus no monte das oliveiras e, covardemente, ainda veio a negar o próprio Deus Encarnado, horas depois. Três vezes! Ainda que Pedro tenha sido fraco, traidor da confiança e pecador, qualquer ser humano que acredita em Cristo como Salvador, reconhece que o mesmo Pedro foi infalível a erros, quando estava iluminado se expressando nas suas cartas que compõem as Sagradas Escrituras. O mesmo ocorre com todos os Papas que o sucederam – inclusive o atual. Quando ele escreve uma encíclica ex cathedra, suas palavras são as palavras que o próprio Deus soprou em sua pena.

Para além disso, o Papa também está de braços abertos para todo e qualquer pecador. Assim como Jesus Cristo acolheu a prostituta pecadora que lavou Seus pés com lágrimas. A SANTA IGREJA ACOLHE OS PECADORES, NUNCA O PECADO. Nós católicos acreditamos que a forma de enxergar o mundo e se portar do movimento LGBT e sua ideologia de gênero são pecados. Assim como Francisco enxerga. Mas, assim como ele, nós acreditamos no acolhimento de todo e qualquer ser humano. Em especial, os mais pecadores, afinal Jesus não veio para os justos. Por isso, Francisco chamou, ao sínodo dos bispos, o jesuíta americano James Martin, conhecido defensor dos católicos LGBT.

G.K. Chesterton, nos lembra de uma frase famosa, que para alguns parece ser irreverente, mas que de fato é o apoio de uma parte importante da religião: “Se Deus não existisse, seria preciso inventá-Lo”. Não é em nada diferente de algumas das ousadas questões com que Santo Tomás de Aquino trata em sua grande defesa da fé. Alguns dos críticos modernos da fé católica, especialmente os críticos protestantes, caíram num divertido erro, principalmente por ignorância do latim e do antigo uso da palavra divus, e acusaram os católicos de descreverem o Papa como Deus. Nós católicos, nem preciso dizer, temos tanta probabilidade de chamar o Papa de Deus quanto de chamar um gafanhoto de Papa. Mas há um sentido em que nós de fato reconhecemos uma correspondência eterna entre a posição do Rei dos Reis no universo e a de seu vice-rei no mundo, como a correspondência entre uma coisa real e sua sombra; uma semelhança à maneira da semelhança danificada e defeituosa que há entre Deus e o ser que é a imagem de Deus. O mundo se encontra cada vez mais numa posição em que até mesmo os políticos e os pragmáticos vão surpreender-se dizendo: “Se o Papa não existisse, seria preciso inventá-lo”.

Não é nada impossível que tentem realmente inventá-lo. A verdade é que multidões deles já teriam aceitado o Papa se este não se chamasse Papa. 

Acredito que se os hereges anti-papistas vissem uma ideia abstrata sem o título de Papa, a coisa mudaria. Imagine apresentar aos protestantes, ateus e pagãos um cargo internacional para representar a paz e a base da concórdia entre todas as nações ao redor; que ele seja, pela natureza de seu cargo, separado de todas elas e ainda assim obrigado a considerar os direitos e os erros de todas; que seja colocado lá como um juiz para expor uma lei moral e um sistema de relações sociais; que seja de um tipo e de um treinamento diferente daquele que encoraja as ambições ordinárias de glória militar ou mesmo os apegos ordinários da tradição tribal; que seja protegido, por um sentimento especial, da pressão de reis e príncipes; que esteja comprometido de forma especial à consideração dos homens enquanto homens.

Uma e outra vez na história, o papado interveio em favor da paz e da humanidade, assim como os maiores santos se atiraram entre as espadas e adagas de facções opostas. Porém se não tivesse havido papado, nem santos, nem Igreja Católica, o mundo, deixado a si mesmo, com certeza não teria substituído credos teológicos por abstrações sociais. No seu conjunto, a humanidade esteve longe de ser humanitária. Havia apenas uma instituição no mundo que já existia antes do feudalismo. Havia apenas uma instituição que podia perpetuar uma vaga memória da República e do Direito Romano: a Igreja Católica, fundada por Cristo. Só uma voz institucional foi até hoje capaz de ajudar a população a questionar a confiança de seus governantes. É necessária uma realidade separada, sagrada, e que a muitos parece inumana, para postar-se acima dela ou ver mais longe.

A realidade de que falo é puramente moral, e não pode existir sem uma espécie de lealdade moral; é uma questão de atmosfera e até mesmo, em certo sentido, de afeto. Além-fronteiras, os homens não são capazes de concordar sobre o nada, assim como não podem discordar sobre o nada. E qualquer coisa ampla o suficiente para causar semelhante concórdia precisa ser, ela mesma, maior do que as coisas deste mundo.