Resposta ao protestantismo do Pastor Cláudio Duarte

Resposta ao protestantismo do Pastor Cláudio Duarte


Esta semana tive o desprazer de ver o famoso pastor Cláudio Duarte, num vídeo, se dirigir aos católicos para dizer: “Vocês católicos que me desculpem, mas Maria não tem poder nenhum para interceder e levar vocês para o Céu”. E ele continua noutro trecho: “Não faz sentido vocês a chamarem de mãe de Deus, simplesmente porque Deus já existia antes dela”. Neste barco, também fui exposto a comentários paralelos de quem concluiu o assunto dizendo que nós católicos somos idólatras, pois supostamente idolatramos imagens de Maria. 

A ignorância do pastor pop star me ofereceu a honra de vir aqui hoje defender a mãe de Deus. Algo cujo valor o próprio Claúdio acabará entendendo se ele pensar em como ele enxergaria alguém que tratasse a mãe dele com altíssima consideração. Será que esta pessoa não acabaria recebendo uma atenção cuidadosa dele próprio? Mais do que isso: se as imagens são sinais de idolatria, presumo que bustos de bronze nas praças públicas ou as fotos de nossos antepassados também causem o mesmo tipo de aversão. Certo? Sabemos que não. A implicância está relacionada ao fato de sermos católicos.

Se o habilidoso orador Claudio, homem com o poder de influenciar tanta gente, parasse para assistir às palestras que o tornaram famoso, perceberia: o que ele tem a dizer sobre o protestantismo é extraordinariamente desconexo, contraditório e inconclusivo. E apenas quando ele diz algo sobre o catolicismo que demonstra clareza, consistência e consegue ir direto ao ponto. Por exemplo, este desmerecimento que ele faz de Nossa Senhora. De trás para frente. Será mesmo que ele se esqueceu que Jesus Cristo é 100% Deus e é também 100% ser humano – com a exceção de não carregar a mancha do pecado? E, portanto, na condição de ser humano, Deus Encarnado, passou sim pela experiência do nascimento, do ventre de Maria. Dizem por aí que é exatamente isso que leva uma mulher a ser mãe de um filho. Melhor conferir com o obstetra mais próximo de você. A Santíssima Trindade – Deus Uno, mistério insondável, existe desde sempre. Inclusive Cristo, na condição de Verbo que só se fez Carne, a partir do nascimento na gruta de Belém. Algo complexo, decerto; que extravasa a cronologia linear dos tempos, de modo a oferecer uma Salvação até para quem já havia nascido e morrido antes do nascimento de Cristo. Mas que não muda o fato de ter oferecido um nascimento. Agora, passando para a outra heresia do pastor, ídolo da internet. Será que ele também se esqueceu que Jesus Cristo só executou o primeiro de seus milagres, nas bodas de Caná, em razão da intercessão de Maria? Está até na versão protestante (que é modificada e rasurada) das Sagradas Escrituras originais. Nosso Senhor, Deus Encarnado, hesitou no capítulo 2 do Evangelho de João, dizendo que a hora Dele de fazer o milagre ainda não havia chegado. No que Maria prosseguiu, intercedeu e O levou a realizar a transformação da água em vinho. Será mesmo que uma mãe não tem poder de interceder junto a seu filho pelas almas que recorrem a ela? Você, caro pastor, não veria com olhos mais benevolentes aqueles que tratarem sua mãe com uma deferência, um respeito ou um carinho? O termo técnico, aliás é “hiperdulia”, que se traduz para o português na postura de ‘veneração’. Algo completamente diferente do ato de ‘latria’, executado na postura de idolatria exclusiva a Deus.

Repare-se que redigi o título fazendo referência ao protestantismo do Pastor Cláudio Duarte, não de outros. Pois depois que Lutero decidiu sair da Igreja fundada por Jesus Cristo, 1.500 anos antes, o ato de fundar a própria igreja virou moda, sintoma de modernidade crítica e se alastrou. Assim, não existe entre os protestantes apenas uma forma de enxergar quem é Jesus Cristo, seus ensinamentos e a forma de agir adequadamente nesta vida. Eles não têm um consenso doutrinal.

Não que diversos homens pertencentes à Igreja Católica não merecessem veemente redirecionamento nas suas atitudes. Mas seus críticos confundiram a perfeição sobrenatural da Igreja que Cristo deixou como extensão de sua humanidade ao longo da história, com a imperfeição dos membros que a compuseram. O pastor anglicano Willian Ralph Inge justificou o ataque protestante à Santa Igreja Católica, dizendo que a principal função do protestantismo é essencialmente uma tentativa de impedir a tendência à corrupção e degradação que ataca toda religião institucional. G.K. Chesterton, para variar, foi brilhante no esclarecimento. Afinal, se a degradação de alguns indivíduos arrasta para baixo toda religião institucional, é presumível que tenha arrastado para baixo a religião institucional protestante. E a prova disso é a fraude inaugurada por Martinho Lutero, que se arvorou como reformador do catolicismo – quando na prática tentou retalhar a única doutrina de Cristo e fundar sua própria. Reformadores são, na verdade, São Carlos Borromeu, São Domingos ou São Francisco – que purificaram o convencionalismo congesto de boa parte do monasticismo ao seu redor.

Robert Sungenis foi preciso quando nos lembrou que nenhum protestante que crê na Bíblia tem dificuldades para aceitar a ideia de Deus guiando autores humanos falíveis na redação infalível das Escrituras. Porém, quando vem a ideia de Deus estendendo sua condução infalível às decisões dos bispos posteriores aos apóstolos para a decisão final do cânon das Escrituras, além de ser capaz de se expressar infalivelmente por meio do Magistério dos bispos e papas, eles de repente farejam Catolicismo e hesitam. 

O mundo realmente presta a suprema homenagem à Igreja Católica ao não tolerar que ela seja tolerante com desvios morais de seus membros, ainda que tenham a aparência dos males que o próprio mundo tolera em tudo o mais. Chesterton já nos dizia que uma forte luz de fato incide naquele trono católico e revela todas as manchas; mas o interessante aqui é o fato de que mesmo aqueles que professam estar erguendo novos tronos ou lançando novas luzes estão perenemente olhando para trás, para o clarão original, mesmo que seja apenas para descobrir as manchas. Não conseguiram sair realmente da órbita do sistema que criticam. Não encontraram de fato novas estrelas; ainda estão apontando para pretensas manchas no sol, e assim admitem que este é sua luz nativa e a Igreja Católica é centro de seu sistema solar.

Por: Rafael Corradi