“Ideologia fake” e o engodo do eleitor brasileiro
Outro dia estava lendo uns textos de analistas políticos nacionais e eles discorriam sobre o viés ideológico vencedor das eleições no Brasil. A maioria deles dizia que “a direita” saiu vencedora. E explicavam conceitos ideológicos, defesas destes conceitos feitas pelos “políticos vencedores” e coisa e tal. Aí me bateu uma curiosidade e comecei a pesquisar textos dos mesmos veículos, muitas vezes dos mesmos articulistas que hoje se coloca como “analistas” e fui descobrindo uma coisa. Houve um tempo em que “a esquerda” venceu de canto a canto no País, segundo esses analistas. Foi o tempo dos primeiros mandatos do Lula. Em outra, a ideologia de “centro-esquerda” foi a vencedora, isto quando FHC dominava a situação. Teve também o período em que a “centro-direita” foi a vencedora, com o Fernando Collor de Melo. E a ‘extrema-direita’ mandou no País, com a eleição do Bolsonaro. E tomem artigos, análises e argumentos a encher páginas e mais páginas da FSP, “Estadão”, “Veja”, “IstoÉ” e por aí vai.
Aí, com esse olhar crítico que me foi dado por Deus, e graças a ele eu tento manter a custo, comecei a anotar os nomes dos vencedores de mandatos, nestes períodos, quem eram os deputados, senadores, “lideranças” que davam as cartas na política nacional. E cheguei a uma simples conclusão: independente do viés político denominado pela mídia, analista política, os nomes de quem manda são os mesmos. Basta ver as manchetes lá de 1990, um pouco antes, um pouco depois, e verão que os nomes dos “donos do poder” são os mesmos. Existem mudanças, sim, de quem está no poder no momento. Pode ser um filho de quem mandou no passado, um neto, mas ‘a família’ é a mesma. A fonte do poder é a mesma...
Então, fico pensando: existiu “esquerda”, “direita”, “centro”, “extrema” na política nacional? Ou essas denominações são apenas argumento de ‘analistas políticos’ para explicar o que eles não têm coragem de dizer: que o poder está e sempre esteve nas mãos de uns poucos, e sendo usado em benefício deles mesmos? Assim, o pessoal que defende os conceitos de direita, de hoje, já foi de centro-direita, de centro-esquerda, alguns, da extrema, e até da esquerda, antigamente e pode voltar a sê-lo, dependendo de quem ganhe as eleições futuras.
E esta constatação me foi reafirmada com a postura de alguns pastores que odiavam o Lula, antes da eleição, e agora o paparicam, depois de eleito. Vejam, por exemplo, aquele pastor-deputado Otoni de Paula, do Rio de Janeiro, que em 2022 dizia que ia receber o atual presidente “a bala” e agora faz “oração para proteger o Lula”. Ou o malafeia, ou melhor, Malafaia, que já está xingando seu antigo amigão, Bolsonaro, e elogiando seu antes desafeto, Lula. Eles estão dando a senha para quem vai mudar de ideologia daqui um tempo... “Tudo farinha do mesmo saco”, já me dizia minha mãe. E no âmbito municipal, isso não muda muita coisa. Basta relembrar quais as famílias estavam no poder, nas cidades, algumas décadas atrás. São as mesmas...
* Jornalista profissional, especialista em
comunicação pública e membro da Academia
Itaunense de Letras – AILE, titular da Cadeira 26.