Jorge Bergoglio... o motorista

Jorge Bergoglio, filho de imigrantes italianos foi Arcebispo e posteriormente Cardeal antes de ser eleito Papa, e adotar o nome de Francisco, residia na Argentina e tinha como hábito, vez ou outra, burlar a rígida vigilância que o cercava e dava umas escapulidas para visitar comunidades e bairros pobres de Buenos Aires. Na maioria das vezes fazia o trajeto de ônibus, metrô ou no carro da Diocese, incógnito, em meio a população local. Seu objetivo era conhecer de perto os problemas das comunidades visitadas, para propor ações que pudessem aliviar o sofrimento dos menos favorecidos onde, na maioria das vezes, a mão do governo não conseguia chegar. Estas suas atitudes lhe deram respeito junto aos mandatários do país, mesmo sendo um forte oposicionista as ações da família Kirchner que governava a Argentina, bem como, foi um dos fatores decisivos na sua aclamação como novo Papa da Igreja Católica. Mesmo depois de assumir como Papa, os mesmos procedimentos ocorreram em Roma, onde existem relatos de que o Sumo Pontífice foi visto sozinho, para desespero de sua guarda pessoal, experimentando óculos em uma clínica nos arredores de Roma ou adentrando supermercado afora para comprar alguma coisa, ou simplesmente para conversar com as pessoas. Quando da sua última viagem ao Brasil “dizem” que ocorreu um fato muito semelhante aos relatos acima. Programado para ficar cinco dias entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo o Papa Francisco solicitou à sua assessoria que levantasse em sigilo alguns programas sociais ou de recuperação relevantes, pois gostaria de visitar alguns a seu modo, isto é, sem qualquer aviso ou aparato de segurança. Para isto reservou um dia sem qualquer compromisso oficial em sua agenda. Entre as centenas de programas espalhados pelo país afora apresentados à sua Santidade, um chamou e muito a sua atenção: a APAC da pequena cidade de Itaúna no Estado de Minas Gerais. Tinha tudo aquilo que o Papa Francisco acreditava e o relatório mostrava números de recuperação de delinquentes e seu retorno para o convívio familiar com uma formação profissional e moral mais alicerçada. O número de recaídas era mínimo, indicava o relatório.
“- É este projeto que quero conhecer de perto” - exclamou com entusiasmo o Papa Francisco, ainda em Roma.
“- Mas esta pequena cidade fica muito distante do seu roteiro!”. Tentava, em vão, mudar a opinião do Sumo Pontífice a sua assessoria de extrema confiança.
“- Mas é lá que está um modelo que gostaria de ver de perto para quem sabe, levar para implantação em outros locais!” Exclamou o decidido Papa Francisco.
Já no Brasil para a sua visita oficial, só duas pessoas de sua assessoria sabiam da sua escapulida e da logística arquitetada para a visita à APAC de Itaúna.
Em um jatinho fretado, e no maior sigilo, ele saiu às 06h00 da manhã de São Paulo e pousou no aeroporto da Pampulha, acompanhado somente do seu assessor direto e do motorista particular, onde um carro alugado os aguardava. Acomodado no banco traseiro do veículo com vidros fumê, e ao lado de seu assessor, o Papa Francisco ia relendo o relatório da APAC de Itaúna e comentando com entusiasmo os seus resultados. Quando passavam por Betim mandou que parasse o veículo no acostamento e numa rápida decisão assumiu a direção do carro, passando o motorista para o banco traseiro junto com o seu assessor direto. Era o seu estilo, e os dois funcionários não esboçaram nenhum comentário ou reação, pois sabiam que o Papa gostava de dirigir, o que não fazia já há um bom tempo.
Ao passarem pela cidade de Mateus Leme, entretido na boa conversa, o Papa Francisco não viu uma barreira policial sinalizando que o carro parasse e passou direto.
Imediatamente, via rádio, o policial avisou à delegacia de Itaúna dando as características e placa do carro com a ordem de apreender e rebocar o veículo infrator. Próximo à entrada de Itaúna, ao avistar a nova barreira policial bloqueando parte da via e sinalizando que o carro parasse, o Papa avisou para os seus dois funcionários, acomodados no banco traseiro, que não se manifestassem pois ele resolveria tudo, pois falava fluentemente o português.
Após apresentar a documentação do veículo ao patrulheiro, o mesmo deu uma cubada nos dois cidadãos do banco traseiro com seus impecáveis ternos e óculos escuros e solicitou que aguardassem um pouco pois precisava comunicar com os seus superiores.
“ - Já avisei: a ordem é rebocar o veículo!” – Exclamou o seu superior via rádio.
“ - Mas as pessoas que estão no veículo devem ser muito importantes, Capitão Júlio! O senhor quer mesmo que eu faça o reboque? – Voltou a questionar o apreensivo jovem patrulheiro.
“ - Não tem mais nem menos, Cabo Zidico. Reboque já, pois cometeram uma infração muito grave e, se reagirem, pode prender todo mundo.
“ - Mas Capitão, o senhor vai ter de vir aqui ou então comunicar com o Coronel Jesus, pois os passageiros devem ser pessoas muito, mas importantes e eu, nem o soldado Lutero, vamos assumir este risco sozinhos!” – Gaguejou o assustado Cabo.
“ - Mas que pessoas importantes são estas se nem mesmo você soube identificá-las? Vamos, me dê uma explicação razoável para que eu possa entender esta sua atitude de não acatar ordens superiores – exclamou já em tom raivoso o Capitão Júlio Guimarães.”
“ - Bem, saber, saber quem são estas duas pessoas importantes que estão no banco de traz eu realmente não sei não, Capitão, mas só para o senhor ter uma ideia, o motorista deles é o Papa.....”.
• Membro da Academia Itaunense de Letras