Zé Waldemar, o confidente dos justos

Zé Waldemar, o  confidente dos justos

Por Rafael Corradi Nogueira

Há homens que passam por este mundo como quem risca a própria sombra no chão: discretos, mas inapagáveis. José Waldemar Teixeira de Mello — para nós, Zé Waldemar — foi desses. Amigo íntimo de meu avô, doutor Guaracy de Castro Nogueira, foi mais que confidente: foi cúmplice nos ideais. Entre ambos, havia aquela fidelidade rara que não se constrói em dias, mas em décadas de comunhão moral. Lutaram lado a lado por Itaúna como quem vela por uma herança sagrada.

Zé Waldemar foi um intelectual de presença gentil e verbo firme. Sua sabedoria não era a dos que se impõem, mas a dos que iluminam. Era capaz de citar Anísio Teixeira numa conversa de esquina e, em seguida, recitar um verso de Drummond como quem oferece pão fresco a um amigo. Seu pensamento, sempre voltado ao bem público, jamais se apartou das raízes da cidade que tanto amou. Na história institucional de Itaúna, há capítulos inteiros que levam suas impressões digitais, embora ele jamais tenha feito questão de assiná-los.

Recordo aqui uma imagem que me veio enquanto olhava para o bilhete de despedida: é como se ele tivesse atravessado o rio com a mesma serenidade de Riobaldo ao fim de “Grande Sertão: Veredas”. Porque há certas travessias que não são luto, mas coroação. Sua morte, hoje, não nos rouba — nos recorda. Lembra-nos que a dignidade, a inteligência e a doçura podem sim habitar um só homem.

Em um tempo de pressa, ele cultivou permanência. Em uma era de vaidades, ele preferiu o valor. Se Itaúna é maior do que seria, é porque teve, entre seus arquitetos morais, um Zé Waldemar. E é assim que ele permanece: não como ausência, mas como exemplo.

A ele, nossa gratidão. Ao céu, nossa entrega. E à memória, a promessa de não deixarmos que sua voz se apague das causas pelas quais viveu.