Rangel Coelho, o poeta

Rangel Coelho,  o poeta
Sérgio Tarefa*

Rangel Coelho nasceu em Juiz de Fora, formou-se em Direito e morou no Rio de Janeiro onde foi professor do tradicional colégio Pedro ll e, em Pitangui onde foi Delegado de polícia. Em 1982 mudou-se para Itaúna para morar com a sua filha, Dona Alba, esposa do Dr. José Campos. Poeta e um inveterado boêmio, era muito bem recebido em todas as rodas de prosa por onde passava, e onde colecionou grandes amizades. De uma memória e uma presença de espírito invejáveis, tinha sempre um “que” de especial na ponta da língua, que na maioria das vezes levava à homéricas gargalhadas, aplausos e admiração dos que estavam em sua volta. De Pitangui, onde morou alguns anos, sempre comentava entre os amigos - lá você só tinha três coisas pra fazer: beber, pescar e casar. Eu fiz as três, complementava. No período em que morou em Itaúna tinha várias rodas de conversa e prosa e em uma delas, entre os presentes, estava sempre o Senhor José Mendes Nogueira, seu grande amigo e admirador, que em determinado dia o questionou: Rangel! - eu gostaria que você fizesse um Epitáfio para que, quando for a hora, ser escrito na minha lápide. Sem pestanejar o grande poeta Rangel soltou esta preciosidade:                                                                                                                         

Nessa cova das mais rasas

Zé Nogueira imóveis resta

Tinha mil e tantas casas

Hoje tem apenas esta 

e antes que nos poucos segundos de silêncio e olhares arregalados tomassem conta do ambiente, ouviu-se uma sonora gargalhada do Senhor Zé Nogueira, que com seu jeito simples e alegre de encarar as coisas, complementou com tapinhas nas costas do poeta Rangel: tá aprovado, vai ser esta. Outra, foi quando escreveu o livro de trovas, Meu Barro Municipal que ofertou a alguns amigos, entre eles e com sincera dedicatória, ao velho amigo Floriano Lopes. Tempos depois, percorrendo uma casa de livros usados, o popular sebo, para sua surpresa lá encontrou o volume ofertado com dedicatória e tudo mais. Comprou-o e, sob a primitiva, pôs esta nova dedicatória. “Ao Floriano Lopes, com a insistência do Rangel Coelho. E remeteu-lhe o livro acompanhado da seguinte carta: Meu querido Floriano. Um grande abraço. Nesta carta apressada, que lhe faço, venho contar-lhe a história de algo bacana, que me diverti nesta semana. Velho frequentador de livrarias, encontrei numa delas, há três dias, o meu livro de trovas – joia rara que, quando veio ao lume, eu lhe ofertara. Conhecendo você, logo percebo que se meu livro foi parar no sebo, a culpa não foi sua. Com certeza algum larápio, cheio de esperteza, o retirou aí da sua estante e se desapertou, passando-o adiante. Quis o destino que, de face a face, na velha livraria eu o encontrasse em meio a outros livros – coitadinho! – como um canário que perdesse o ninho. Encontrei-o, comprei-o. E remitente, ofereço-lhe agora, novamente certo de que você, mais precavido, para evitar os furtos de um sabido, o guardará, visando a melhor sorte, num cofre de aço ou numa caixa forte ou que talvez o ponha no seguro contra possíveis roubos no futuro. Conserve-o caro amigo, sem desdouro como se tratasse de um tesouro pois meu livrinho, embora obra bisonha, guarda os sonhos de um velho que ainda sonha, de um velho moço, de um senil-mancebo que, por ser limpo, tem horror ao sebo. E aqui fica, depois deste conselho, seu amigo de sempre, Rangel Coelho. O amigo nunca lhe respondeu.

Rangel Coelho faleceu em Itaúna em 1993 e, por sorte nossa: itaunense......      

                                                                                                 

* Membro da Academia Itaunense de Letras

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