Prefeitura divulga que “socorrerá Hospital (...) mais uma vez”

Mas informação não explica que o investimento é no Plantão 24 Horas, que é serviço de responsabilidade da própria Prefeitura

Prefeitura divulga que “socorrerá Hospital (...) mais uma vez”


A comunicação feita de maneira açodada ou mesmo sem o profissionalismo necessário gera situações que podem se tornar prática de um dos maiores males dos tempos da digitalização da comunicação: as fake news, que, traduzidas para o bom português, são as notícias falsas. No início desta semana, a Prefeitura, por meio de sua assessoria, divulgou que “socorrerá Hospital Manoel Gonçalves mais uma vez”. A matéria direciona o entendimento a uma afirmação de que a Prefeitura está colaborando com uma situação de descontrole do Hospital e que, novamente, precisa atuar para normalizar a situação. Afirma a matéria que o Município fará um novo “aporte financeiro” à entidade hospitalar, e afirma que “a Prefeitura de Itaúna ajudará o Hospital Manoel Gonçalves em mais uma demanda”. 

Em todo o texto da informação é colocado que o Hospital está tendo dificuldade no atendimento às pessoas e que a Prefeitura o está socorrendo. Porém em nenhum momento cita que o acúmulo de pacientes que tem buscado o Plantão 24 Horas é de responsabilidade do Município, portanto da Prefeitura, e não do Hospital. O serviço funciona no Hospital devido a um contrato firmado pelo Município com a instituição Hospital (Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Sousa Moreira), com este cedendo o espaço e fazendo o gerenciamento do serviço, em troca do pagamento pelo serviço prestado à população itaunense, que é responsabilidade do Município. Frisando: Na legislação, a responsabilidade pelo atendimento nestas situações é do Município, não do Hospital. O acúmulo de pacientes que têm buscado o Plantão 24 Horas (que na matéria é citado como pronto-socorro) se deve, como afirmam especialistas da área da saúde, ao fato de o Município não ter implantado um sistema especial de atendimento às pessoas acometidas pela dengue, que, como se sabe, está em caráter de epidemia em Itaúna, assim como em várias cidades mineiras e até do país. 

Na distribuição de responsabilidades aos entes que compõem o SUS, está explicitado que “os municípios são responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde no âmbito do seu território”. Afirma ainda a distribuição das responsabilidades pelo sistema de saúde nacional que “o Município formula suas próprias políticas de saúde e também é um dos parceiros para a aplicação de políticas nacionais e estaduais de saúde. Ele coordena e planeja o SUS em nível municipal, respeitando a normatização federal”. Ou seja, trocando em miúdos: este atendimento que está sobrecarregando o Plantão 24 Horas – que é responsabilidade da Prefeitura – se deve à necessidade de formulação de um plano municipal de enfrentamento à epidemia de dengue que se instalou na cidade, bem como em vários outros municípios. 

Reforço anunciado é de médicos para o Plantão 

Na matéria divulgada pela Prefeitura de Itaúna à imprensa, a informação é de que, com investimento de mais de R$ 500 mil, será possível a ampliação de “um médico clínico para atendimento de pacientes adultos no horário das 7h às 19h, de quinta a domingo; um médico clínico noturno extra de segunda a segunda; um médico clínico para atendimento pediátrico 24 horas; e dois técnicos de enfermagem por plantão de 12 horas, totalizando oito técnicos para cobertura dos quatro plantões”. Ainda conforme a matéria, o aporte total é de R$ 535.116,00. Ainda na informação, o secretário de Saúde explica que “estas medidas são temporárias, mas que, com certeza, farão a diferença no atendimento à população”. E complementa o secretário que “cremos que em breve os atendimentos do hospital voltarão ao fluxo normal”. O certo seria afirmar que “os atendimentos do Plantão 24 Horas voltarão ao fluxo normal”. 

Município falha no planejamento da saúde 

A FOLHA ouviu profissionais da área, que não serão identificados por receio de serem vítimas de perseguições, que têm uma visão diferente da situação. A começar do fato de que o Município não tem qualquer planejamento de como lidar, efetivamente, com situações como o aumento dos casos de dengue, bem como aconteceu no período da pandemia de covid. Naquela época, como agora, o Hospital é que apresenta soluções, porém, no caso da dengue, o atendimento não deve ser no Plantão 24 Horas, já que “o tratamento da dengue é ambulatorial, só necessitando de atendimento hospitalar nos casos graves”, como afirmou um profissional à reportagem. 

O atendimento aos casos de dengue deve ter o primeiro foco na hidratação oral, depois venosa, o que pode ser realizado em um posto de saúde, por exemplo. Porém, como critica um técnico da área, “a saúde em Itaúna está centralizada e dificultada para as famílias. Uma pessoa que mora no Jadir Marinho, por exemplo, e precisa de um atendimento médico ambulatorial, uma consulta médica, vai ao PSF, que o direciona para a policlínica no bairro São Geraldo/Morada Nova. Aí fica mais fácil ir direto ao Plantão 24 Horas”, comentou. E esta situação é complementada pelas muitas reclamações de que uma consulta médica na policlínica demora semanas, senão meses, para ser marcada. 

Prefeitura “não ajuda Hospital, mas tenta corrigir uma falha de planejamento” 

Na avaliação de críticos, a informação correta a ser dada à população é de que, finalmente, a Prefeitura está atuando em relação à epidemia de dengue, reforçando o atendimento médico no Plantão 24 Horas, já que não implantou uma unidade de atendimento, no Posto Central, por exemplo, destinada a esses casos. “Um atendimento com uma sala de hidratação, profissionais treinados para repassar informações e até mesmo fazer o atendimento das pessoas cometidas pela doença, de maneira a desafogar o Plantão, é o que esperávamos...”, disse um dos profissionais ouvidos pela reportagem. 

E completa afirmando que “a Prefeitura não está socorrendo o Hospital, está tentando corrigir uma falha de planejamento para lidar com a epidemia de dengue. E é preciso lembrar, também, que o Plantão 24 Horas é responsabilidade do Município. O Hospital somente presta o serviço, oferecendo o espaço adequado e o gerenciamento deste serviço, mas a responsabilidade por atender a população é da Prefeitura”.